terça-feira, 31 de maio de 2011

GOVERNO DILMA ESTÁ DESMORALIZADO


O ex-governador do Rio de Janeiro e deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) ameaçou o governo, nesta terça-feira, ao dizer que se a PEC 300 não for votada pela Câmara, os deputados que defendem a proposta devem apoiar a convocação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.

"O momento político é esse. Temos uma pedra preciosa, um diamante que custa R$ 20 milhões, que se chama Antonio Palocci", disse. "A bancada evangélica pressionou e o governo retirou o kit gay. Vamos ver agora quem é da bancada da polícia. Ou vota, ou o Palocci vem aqui."

A ameaça foi feita pois há diversos requerimentos, apresentados pela oposição, em comissões da Câmara pedindo que o ministro compareça ao Congresso para explicar como ele enriqueceu fazendo negócios como consultor nos quatro anos em que também exerceu o mandato de deputado, conforme revelou a Folha.

DEM, PSDB e PPS prometem fazer uma ofensiva nesta quarta para tentar aprovar algum requerimento. Questionado se votaria em algum, Garotinho disse que só faz parte da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), comissão que não conta com nenhum pedido da oposição.

Questionado se assinaria então algum pedido de CPI para investigar Palocci, ele disse que prefere dar um voto de confiança ao ministro até que a Procuradoria-Geral da República diga se as informações que devem ser prestadas pelo ministro são suficientes.

"Não fiz uma ameaça, fiz uma proposta, que teve uma grande receptividade da plateia. Já os deputados mais ligados ao PT ficaram constrangidos e saíram. Agora eu acho que o Palocci deve explicações à sociedade brasileira", afirmou.

A afirmação de Garotinho foi dada durante audiência na Comissão de Segurança Pública, na instalação da Frente Parlamentar de Defesa da PEC 300. A proposta cria um piso salarial para os policiais e precisa ser votada em segundo turno na Câmara.

O deputado negou que tema qualquer tipo de retaliação do governo. "Não tenho preocupação nenhuma. A minha ideia é que se faça pressão ou a PEC não vai sair do papel. Temos que tomar uma atitude enérgica".

USO FREQUENTE E PROLONGADO DE CELULAR, DÁ CANCER


A Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciou nesta terça-feira que o uso de telefones celulares pode causar um tipo de tumor maligno no cérebro chamado glioma. É a primeira vez que um órgão mundial de saúde admite publicamente a associação entre os dois fatores.

Atualmente, estima-se que existam cerca de 5 bilhões de telefones celulares em todo o mundo. Diversas pesquisas já associavam em algum grau o uso de telefones celulares com o possível desenvolvimento de tumores cancerígenos, mas o fato de a OMS ratificar a ligação entre o aparelho e o mal é inédito.

Na última semana, um grupo de 31 cientistas de 14 países se reuniu em Lyon, na França, sede da IARC, para avaliar o potencial das ondas eletromagnéticas emitidas pelos celulares causarem câncer.

Segundo Jonathan Samet, chefe do grupo reunido em Lyon, “há evidências fortes o suficiente para concluir que existe algum risco de que o uso de celulares cause câncer, e por isso, de agora em diante, é preciso manter vigilância sobre essa associação.”

Christopher Wild, diretor do IARC, afirmou que “diante das potenciais consequências para a saúde pública, é necessário a condução de pesquisas adicionais sobre o uso prolongado e frequente de telefones celulares.”

segunda-feira, 30 de maio de 2011

FÁBRICA DE MISÉRIA


de Reinaldo Azevedo

Caros, o fato de a gente antever um desastre e ter a certeza de que ele vai acontecer não nos impede de ficar um tanto surpresos quando ele realmente acontece. É assim com a reserva Raposa Serra do Sol. Lembram-se dela?

A mesma quase unanimidade estúpida que se vê na imprensa agora contra o relatório correto e decente de Aldo Rebelo (PC do B) para o novo Código Florestal se via em março de 2009 em relação à demarcação contínua da reserva e à expulsão dos arrozeiros. Assim como jornalistas que nunca viram um pé de feijão estão convictos hoje de que é preciso reflorestar as margens de rios que abrigam agricultura há 200 anos, estavam então convictos de que os agricultores tinham de sair da dita reserva indígena. Eram as mesmas ONGs, os mesmos terroristas midiáticos, os mesmos vagabundos. Mais de mil ONGs atuam na Amazônia. MIL!!!

A propósito: Aldo Rebelo opôs-se também à saída dos arrozeiros. Mas foi o que quis o ministro Ayres Britto, que contou com o apoio da maioria do Supremo. Seu relatório exaltando a harmonia entre o índio e a terra é um primor da antropologia… poética (íntegra aqui). Eu o ridicularizei duramente aqui, chamando a atenção dos senhores ministros para o fato de que aqueles índios já eram aculturados. Sem a economia capitalista que já havia se instalado lá, a miséria seria certa. Foi inútil. Ayres Britto tinha um modelo de índio na cabeça e o impôs legalmente. Não custa lembrar que os agricultores ocupavam MENOS DE 1% DA RESERVA, mas empregavam farta mão-de-obra indígena.

Hoje, 13% do território nacional é composto de reservas indígenas, onde vivem 750 mil índios. De novo: 13% do território abriga 0,41% da população!!! Fossem eles autônomos, numa economia auto-sustentável, vá lá… Mas não! Dependem da Funai — além de se dedicar ao desmatamento e ao garimpo ilegais. Mas volto à Raposa Serra do Sol. A Fundação Ford, que financiava um grupo de índios que queria a expulsão dos brancos, ganhou.

Os arquivos estão aí. O desastre parecia certo. Eu o anunciei aqui. Mas boa parte dos meus coleguinhas queria os arrozeiros capitalistas fora do éden dos aborígenes, como dizia Ayres Britto. Pois é. Leonardo Coutinho, de VEJA, voltou à região dois anos depois. A impressionante reportagem está na revista desta semana.

Quatro novas favelas brotaram na periferia de Boa Vista, nos últimos dois anos. O surgimento de Monte das Oliveiras, Santa Helena, São Germano e Brigadeiro coincide com a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Nesse território de extensão contínua que abarca 7,5% de Roraima, viviam 340 famílias de brancos e mestiços. Em sua maioria, eram constituídas por arrozeiros, pecuaristas e pequenos comerciantes, que respondiam por 6% da economia do estado. Alguns possuíam títulos de terra emitidos havia mais de 100 anos pelo governo federal, de quem tinham comprado suas propriedades. Empregavam índios e compravam as mercadorias produzidas em suas aldeias, como mandioca, frutas, galinhas e porcos. Em 2009, todos foram expulsos. O governo federal prometeu indenizá-los de maneira justa. No momento de calcular as compensações, alegou que eles haviam ocupado ilegalmente terra indígena. Por isso, encampou as propriedades e pagou apenas o valor das edificações. Os novos sem-terra iniciaram o êxodo em direção à capital. As indenizações foram suficientes apenas para que os ex-fazendeiros se estabelecessem em Boa Vista. VEJA ouviu quarenta deles. Suas reparações variaram de 50.000 a 230.000 reais - isso não daria para comprar nem um bom apartamento de três quartos nas principais cidades do país. Imagine uma outra fazenda.

Em seguida, foi a vez de os índios migrarem para a capital de Roraima. Os historiadores acreditam que eles estavam em contato com os brancos havia três séculos. Perderam sua fonte de renda, proveniente de empregos e comércio, depois que os fazendeiros foram expulsos. A situação piorou com a ruína das estradas e pontes, até então conservadas pelos agricultores. “Acabou quase tudo. No próximo inverno, ficaremos totalmente isolados”, diz o cacique macuxi Nicodemos Andrade Ramos, de 28 anos. Um milhar de índios se instalou nas novas favelas de Boa Vista. “Está impossível sustentar uma família na reserva. Meus parentes que ficaram lá estão abandonados e passam por necessidades que jamais imaginaríamos”, afirma o também macuxi Avelino Pereira, de 48 anos. Cacique de sete aldeias, ele preferiu trocar uma espaçosa casa de alvenaria na reserva por um barraco de tábuas na favela Santa Helena. O líder indígena diz que foi para Boa Vista para evitar que sua família perdesse o acesso a escolas, ao sistema de saúde e, sobretudo, ao mercado de trabalho.

Com o passar do tempo, a situação dos índios tem piorado. Recentemente, algumas das famílias desaldeadas começaram a erguer barracos no aterro sanitário de Boa Vista. Uma delas é a do macuxi Adalto da Silva, de 31 anos, que chegou à capital há apenas um mês. Ele fala mal português, mas nunca pensou em viver da mesma forma que seus antepassados. Mesmo porque a caça e a pesca são escassas na Raposa Serra do Sol já faz tempo. Até 2009, ele recebia um salário mínimo para trabalhar como peão de gado. Está desempregado desde então. Como os índios não têm dinheiro, tecnologia ou assistência técnica para cultivar as lavouras, os campos onde o peão trabalhava foram abandonados. Silva preferiu construir uma maloca sobre uma montanha de lixo a viver na aldeia. Agora, ganha 10 reais por dia coletando latinhas de alumínio, 40% menos do que recebia para tocar boiada. Ainda assim, considera sua vida no lixão menos miserável do que na reserva. Ele é vizinho do casal uapixana Roberto da Silva, de 79 anos, e Maria Luciano da Silva, de 60, que também cata latas e comida no aterro. “O lixo virou a única forma de subsistência de muita gente que morava na Raposa Serra do Sol”, diz o macuxi Sílvio Silva, presidente da Sociedade de Defesa dos índios Unidos do Norte de Roraima.

Brancos e mestiços expulsos da reserva também foram jogados na pobreza. O pecuarista Wilson Alves Bezerra, de 69 anos, tinha uma fazenda de 50 quilômetros quadrados na qual criava 1.300 cabeças de gado. Um avaliador privado estimou em 350.000 reais o valor das edificações da propriedade. A Fundação Nacional do índio (Funai) deu-lhe 72.000 reais por essas benfeitorias e nada pela terra. Seu rebanho definhou. Restam-lhe cinqüenta reses em um pasto alugado. Falido, ele sobrevive vendendo churrasquinho no centro de Boa Vista.

Lendo a reportagem na revista, você ficará sabendo que parte das famílias de Raposa Serra do Sol foi assentada numa região chamada Serra da Lua, perto dali. Não por muito tempo se depender dos xiitas do Ministério do Meio Ambiente — aqueles humanistas de Marina, vocês sabem. Eles querem desalojar as pessoas de lá para criar mais uma reserva ambiental.

Não tem jeito. A única saída para o homem do campo no Brasil é lutar pelo direito de ser considerado bicho. Aí, quem sabe, ele terá a proteção do Ibama e do Meio Ambiente.

Os novos favelados de Roraima são uma criação das ONGs, da Fundação Ford, da Funai, do Ibama, do Ministério do Meio Ambiente, da esmagadora maioria da imprensa — os mesmos conjurados agora contra o Código Florestal — e, obviamente, do STF. Os versos que poetizam essa miséria são de Ayres Britto. Ele exaltou tanto os índios ideais. O chato é que eles eram reais.

QUEM LEMBRA DO ZELAYA?


de AUGUSTO NUNES

Na manhã de 28 de janeiro de 2010, o presidente Lula acordou invocado, saiu da cama sem falar com Marisa Letícia, vestiu o mesmo terno da véspera e foi para o Planalto sem aoarar a barba. Entrou no gabinete em silêncio, chamou aos berros o secretário Gilberto Carvalho, ordenou-lhe que lesse em voz alta o noticiário sobre a posse festiva do presidente Porfírio Lobo, ocorrida na manhã anterior, e perdeu de vez a paciência com Honduras.

Mais invocado que nunca, ligou para Barack Obama sem chamar o intérprete, exigiu que o companheiro estadunidense conversasse em brasileiro, quis saber se a Uáite Rause iria mesmo reconhecer o segundo governo golpista e, ao ouvir que sim, soltou o tremendo iú ar a san ófi a bítichi que, dois dias antes, aprendera a falar com Celso Amorim. Antes que o ianque do outro lado da linha recuperasse a voz, em inglês ou português, proibiu Obama de voltar a chamá-lo de Cara, rompeu relações com os EUA e jogou o celular pela janela.

Colocou os pés sobre a mesa, ordenou a Gilberto Carvalho que parasse de bater palmas e convocasse para uma reunião, em caráter de urgência urgentíssima, os companheiros Marco Aurélio Garcia, Celso Amorim, Dilma Rousseff e Nelson Jobim. Pediu o jornal da véspera, trancou-se no gabinete, escreveu duas letras na linha horizontal superior das palavras cruzadas, parou para descansar e começava a dormir quando ouviu batidas na porta. Os convocados estavam lá, avisou Gilberto Carvalho.

Na abertura da reunião, o presidente declarou instalado o Conselho de Guerra da República, composto pelos presentes, promoveu Gilberto Carvalho a ordenança e ordenou-lhe que cuidasse da ata. No improviso de 25 minutos, encarregou Marco Aurélio Garcia da montagem da Frente Bolivariana de Combate aos Golpistas em Geral e da América Central em Particular, incumbiu Celso Amorim de conseguir o apoio logístico da Nicarágua, mandou Dilma Rousseff incluir no PAC as obras necessárias para a ocupação do país inimigo e promoveu Nelson Jobim a almirante-de-esquadra e chefe da Marinha Brasileira de Ataque e Conquista.

Depois de nomear-se Chefe Supremo do Conselho de Guerra, proclamou a independência do prédio da embaixada em Tegucigalpa, transformou-o em sede da República Bolivariana de Honduras, decidiu que a caçula da ONU teria como presidente o companheiro Manuel Zelaya e ordenou ao ordenança Gilberto Carvalho que enviasse um buquê de rosas vermelhas à primeira-dama Xiomara.

Terminada a reunião histórica, Lula resolveu contar o que fizera ao amigo hondurenho, pediu a Dilma Rousseff que emprestasse o celular e ligou para o casarão em Tegucigalpa. E então soube pelo senhor Catunda, antigo encarregado de negócios, que não havia mais hóspedes por lá. No meio da madrugada, depois de reconhecer o novo governo, Zelaya abandonara a pensão. Sem pagar a conta.

CANSAÇO FÍSICO


por Vera Magalhães

Duas coisas chamaram a atenção de governadores e senadores do PT que estiveram com Dilma Rousseff nesta semana: o cansaço físico aparentado pela presidente, que se recupera de uma pneumonia, e sua pouquíssima paciência para a negociação política.

Passado o encantamento inicial do governo, quando todos eram unânimes em apontar a melhora do traquejo político de Dilma, agora são recorrentes as queixas ao fato de que ela não gosta de ouvir quando promove reuniões com aliados e que corta abruptamente qualquer tentativa de se falar de temas como nomeações e conflitos partidários nos Estados.

"O assunto aqui hoje é Código Florestal", tratou de esclarecer uma abatida e impaciente Dilma aos senadores petistas no almoço de quinta-feira.

Ela também se mostrou muito contrariada com vazamentos de informações do governo, e deu a entender que vai apurar para saber se setores do governo estão ajudando a colocar lenha na fogueira de Antonio Palocci.

"A Dilma não me pareceu nada bem. Fiquei preocupado", resumiu um senador após o almoço.

O início de decepção com o modo como Dilma conduz a política contrasta com o clima festivo dos encontros de Lula durante a semana, sempre fazendo questão de posar para fotos às gargalhadas, mostrando intimidade com os peemedebistas que começam a dar dor de cabeça para a presidente.

"A SITUAÇÃO DE PALLOCI É INSUSTENTÁVEL" - senador Agripino Maia


A revelação de que o Banco Santander contratou os serviços da Projeto, consultoria do ministro Antonio Palocci, aumentou a pressão de parlamentares da oposição sobre o ministro-chefe da Casa Civil. O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), afirmou nesta quinta-feira, 26, que a resistência do ministro em comparecer ao Congresso para se explicar só aumentam as dúvidas quanto aos procedimentos que resultaram na multiplicação de seu patrimônio em mais de 20 vezes, em quatro anos.

'É esse tipo de suspeita que determina a absoluta, a imperiosa necessidade de Palocci vir se explicar para sabermos se estamos diante de coisas licitas ou ilícitas', alega. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) entende que a comprovação de mais um cliente, como revelou nesta quinta o jornal O Estado de S. Paulo, torna 'insustentável' a situação do ministro, cuja permanência no governo, na sua opinião, além de 'enfraquecer' a presidente Dilma Rousseff, deu um tom de final de mandato à sua gestão.

'O governo está paralisado, se fosse no final ainda se entenderia. Mas Lula assumiu de fato a administração e a situação de Dilma só se complica, ficando refém da chantagem de seus aliados', afirma Jarbas. O senador vê Palocci como um político 'que tem atração por coisas enroladas'. 'É uma atração que vem lá de trás', aponta, lembrando sua ligação com o grupo de Ribeirão Preto.

Como Agripino, o senador reitera que o ministro-chefe da Casa Civil não pode continuar sem dar explicações concretas ao Congresso sobre o seu enriquecimento. 'Sua consultoria tem ligação direta com o governo, é uma arrumação, uma ligação aberta, a situação dele continua insustentável, mas a teimosia leva o PT a tentar blindá-lo'. Para Jarbas, a ligação do ministro com o banco 'é uma denúncia junto a outras igualmente graves que não foram esclarecidas'.

Já o presidente dos Democratas lembra que Palocci resiste a divulgar o nome de seus clientes e sobre os serviços pelos quais teria recebido pagamento. 'É esse tipo de denúncia, sua ligação com uma empresa parceira do governo, que reforçam as suspeitas contra Palocci e ele se recusa a dar esclarecimentos'. Agripino afirma que, mesmo não querendo fazer juízo de valor, o ministro deixa rastro para 'inúmeras ilações'.

domingo, 29 de maio de 2011

RINDO DO PAÍS


de Josias de Souza

Suponha que você se chama Antonio Palocci. Nasceu no Brasil, em Ribeirão Preto. Cresceu numa família de classe média. Foi aluno regular. Formou-se médico.

Suponha que você preferiu trocar o trabalho como sanitarista pela política. Filiou-se ao PT. Venceu a invisibilidade. Tornou-se prefeito de sua cidade.

Suponha que, em 2002, caminhando por uma rua de Ribeirão, você tropeçou numa lâmpada mágica. Dela saltou um gênio. Disse-lhe que poderia pedir qualquer coisa.

Suponha que você pediu para ser ministro. Queria ajudar a transformar o país. O gênio ajeitou as coisas. Deu-lhe a coordenação da campanha de Lula.

Suponha que Lula virou presidente. Nomeou-o para a pasta da Fazenda. Mais do que você podeira sonhar.

Suponha que você estragou tudo. Levou a Brasília os amigo$ de Ribeirão. Frequentou a mansão brasiliense onde trançanvam-se pernas e negócios.

Suponha que, por um desses azares do destino, um caseiro pilhou-o na mansão. Contou a uma CPI o que viu.

Suponha que você, alvejado por denúncias que misturavam propinas e lixo, quebrou o sigilo bancário da conta que o caseiro mantinha em casa bancária oficial.

Suponha que, no instante em que o mundo caía-lhe sobre a cabeça, o gênio ressurgiu na sua frente. Prontificou-se a atender um segundo desejo. Você pediu a ressurreição.

Suponha que o gênio ajeitou as coisas. Deu-lhe bons advogados. Tirou-lhe os processos do caminho. Fez a cabeça dos ministros do Supremo.

Suponha que você renasceu. Retornou à Câmara. Deputado, relatou os projetos mais importantes. Voltou a frequentar o Alvorada.

Suponha que, numa noite fria e seca de Brasília, o gênio reapareceu em seu gabinete. Ofereceu-lhe um terceiro e último pedido.

E você: “Dinheiro, quero ser rico, desejo comprar um apartamento de milionário no bairro mais chique da capital paulista”.

Suponha que o gênio abespinhou-se: “Quer ser rico?!?!” Você tentou acalmá-lo: “Sim, mas não penso em virar um Eike Batista”.

Suponha que o gênio impacientou-se. “Quer dizer que eu te devolvi uma biografia para isso? Você não precisa de gênios...”

“...Abra uma consultoria, trafique influência, agarre-se a um novo ministério”. Enfiando-se de volta na lâmpada, o gênio balbuciou: “Ora, francamente!”

Suponha que você sabe que o gênio não volta mais. O que fazer? Rezar? Pedir socorro ao Lula? Ou arrepender-se de não ter sido um invisível sanitarista?

Suponha que você se dá conta de que nasceu no Brasil. Um país em que, acima de certo nível de renda, ninguém paga por suas culpas. Você relaxa. E ri da ingenuidade do gênio.

PRESIDENTE SEM AUTONOMIA


O caso Palocci, independentemente do desfecho que tenha, deveria ser examinado como mais um exemplo vexaminoso do poder à brasileira.

Infelizmente, não foi nem será, já que tudo fica sempre limitado a uma rixa entre petistas e tucanos, sob a noção tácita do "todos temos rabo preso".

A declaração da presidente Dilma Rousseff, depois de vários dias de silêncio, de que Palocci estaria prestando esclarecimentos aos "órgãos de controle", e pedindo que a questão não seja "politizada", foi mais um antídoto contra o oba-oba em torno de seu perfil mais discreto que o de Lula (como se alguém pudesse ser menos discreto do que ele).

Não é apenas aos órgãos de controle que ele deve prestar esclarecimentos; é à sociedade. E quem politizou a questão foi o próprio governo, ao fazer comparações com outros ex-ministros que prestam consultoria e ao mentir que esses órgãos estariam informados do salto de patrimônio.

O que dizer então da interferência de Lula? Certo, ao ver que o governo tinha feito besteira ao ameaçar o PMDB de perder ministérios em função da crise, a malemolência e popularidade do ex-presidente pareceram úteis.

Mas onde estava Dilma até quinta-feira, quando enfim veio a público e tomou a defesa do ministro da Casa Civil?

Os termos foram lamentáveis, mas de qualquer forma seu papel como presidente não é ficar quieta diante de acusações desse porte contra o ocupante de um cargo tão fundamental, que ela mesma ocupou antes de sair à sucessão de Lula e depois entregou à sua grande amiga Erenice Guerra, que o converteu em balcão de negócios familiares.

Se toda vez que passar por uma crise Dilma tiver de recorrer a Lula, convenhamos, jamais terá autonomia suficiente para fazer as mudanças de rumo necessárias.

ATÉ DILMA DUVIDA DE DILMA


de ANDRÉ GONÇALVES - Gazeta do Povo
Lula prometeu “desencarnar” da Presidência, mas nunca disse que abandonaria a política. Na primeira crise enfrentada pelo governo Dil ma Rousseff, coube a ele articular a defesa do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. A volta ao cenário retoma a polêmica sobre a falta de traquejo da atual presidente e a suposta dependência do antecessor.
“Houve uma invasão de competência que só fragiliza o governo e comprova o que imaginávamos”, aponta o senador Alvaro Dias (PSDB). Dois anos antes da campanha de 2010, líderes da oposição já tentavam rotular a então pré-candidata como um “poste”. As críticas miravam o perfil intransigente de Dilma. Antes de concorrer ao Palácio do Planalto, ela nunca havia disputado uma eleição e gerava certa desconfiança mesmo entre os petistas – seu partido original era o PDT.
Com o aval de Lula, superou essas resistências e fez prevalecer o perfil de gerente de governo, menos afeita à política e mais disposta ao trabalho. O sucesso foi comprovado pela aprovação popular. Segundo o Ibope, os primeiros três meses do governo Dilma foram aprovados por 56% dos brasileiros. O índice é superior aos aferidos no mesmo período das gestões Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula (2003-2010).
Nessa fase, Dilma chamou a atenção inclusive pelo desempenho político. Primeiro, na recepção ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Depois, pela vitória expressiva na votação do salário mínimo no Congresso Nacional, quando conseguiu o apoio do PMDB e de partidos da base aliada.
A maré virou nas últimas três semanas. Primeiro, com as denúncias sobre a evolução patrimonial de Palocci, que cresceu 20 vezes entre 2006 e 2010 – de R$ 356 mil para R$ 7,5 milhões.
Depois, com a derrota na votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados e a pressão da bancada religiosa no Congresso contra a distribuição de um kit contra a homofobia preparado pelo Ministério da Educação.
Para o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), há uma crise de gestão da coalizão que apoia Dilma, que detém cerca de 80% da representação do Parlamento. “Quem foi que falou que ter uma base aliada tão grande é bom? O governo está pagando justamente pelo excesso de apoio”, opina. O cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa de São Paulo (Insper), concorda com o problema. Por outro lado, destaca uma falha de estratégia de Dilma. “Ela concentrou toda articulação política nas mãos do Palocci. Era evidente que isso o tornaria alvo preferencial de qualquer ataque contra o governo”, explica Melo. Segundo ele, a falta de sintonia entre os aliados também se estende a algumas alas do PT. “Há setores que não tragam o Palocci, outros que têm ciúmes, além de disputas na Câmara dos Deputados que ficaram mal resolvidas.”
Até dezembro do ano passado, o deputado paulista Cândido Vaccarezza era dado como certo entre os petistas para presidir a Câmara, mas acabou perdendo a eleição interna para o gaúcho Marco Maia. Couto e Melo também concordam sobre o significado da participação de Lula na operação para proteger Palocci. “Era esperado que Lula interviesse em algumas situações de crise política. É natural porque ele deixou a Presidência, mas continua sendo uma figura política importante dentro e fora do PT”, diz o cientista político da FGV-SP. Na visão de Melo, a situação era clara desde a campanha presidencial. “Lula foi o personagem político das eleições. Sabia-se que ele poderia ocupar um espaço de articulação no governo e foi o que aconteceu. Se isso é bom para as instituições democráticas, aí já é outra história.” Já o cientista político Octaciano Nogueira, da Univer sidade de Brasília, isenta Dilma das ações do ex-presidente. “Esse episódio no fundo só mostra que o Lula ainda não se convenceu de que está fora do Planalto. Não acredito que esse constrangimento tenha partido da Dilma.” Nogueira ressalta, porém, que esses “incidentes” são normais para uma democracia jovem como a brasileira. “Ainda estamos nos acostumando com a alternância do poder. Sobretudo, estamos aprendendo sobre como deve ser o comportamento de um ex-presidente.”
Com Lula e FHC, crises foram mais tardias Os dois antecessores de Dilma Rousseff também viram seus princi pais ministros envolvidos em es cândalos. Ambos os casos, no entanto, ocor re ram mais de dois anos após as posses de Fer nan do Hen ri que Car doso, em 1995, e Lula, em 2003. Em 1997, o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, foi o pivô de um escândalo que envolvia a suposta compra de votos na Câmara dos Deputados para a aprovação da emenda da reeleição. Responsável pela privatização da Telebras, Motta foi mantido no cargo e morreu de infecção pulmonar em abril de 1998.
No governo Lula, a crise envolvendo o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, começou em 2004. Na época, gravações divulgadas pela imprensa mostraram que Waldomiro Diniz, então assessor da Casa Civil e braço direito de Dirceu, havia cobrado propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira, em 2002, para financiar as campanhas de petistas como Benedita da Silva (RJ) e Geraldo Magela (DF). O escândalo motivou a instalação da CPI dos Bingos e desencadeou outras investigações, que levaram à CPI dos Correios e ao pagamento de “mesada” para parlamentares votarem a favor do governo no Congresso Nacional, o mensalão. José Dirceu pediu demissão em junho de 2005, voltou ao cargo de deputado federal, mas acabou cassado pelos colegas em dezembro.
Em 2006, a mesma CPI dos Bingos começou a investigar a participação do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em reuniões de lobistas em uma mansão em Brasília, a chamada “República de Ribeirão Preto”. O caseiro da propriedade, Francenildo da Costa, confirmou que Palocci participava dos encontros. Francenildo teve o sigilo bancário quebrado ilegalmente para que se tentasse comprovar que ele recebeu dinheiro para prestar o depoimento – o que não aconteceu. Em março, Palocci deixou o governo e meses depois se elegeu deputado federal.

sábado, 28 de maio de 2011

A TEMPESTADE DE DILMA


O Estado de S.Paulo - Editorial

Onde não costuma chover, quando chove é um dilúvio.

No governo Dilma, fazia bom tempo até que o céu veio abaixo por força da conjunção de duas questões tempestuosas: a revelação do enriquecimento em surdina, entre 2006 e 2010, do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e o trâmite da reforma do Código Florestal, aprovada esta semana na Câmara dos Deputados.

A tormenta ilhou o Palácio do Planalto, expôs a fragilidade congênita da base parlamentar do governo, cuja amplitude é inversamente proporcional à sua consistência programática, e trouxe de volta ao centro das decisões o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o inevitável apequenamento da liderança e do capital político de sua sucessora.

A crise em dose dupla levou à beira da desagregação o enlace de conveniência entre PT e PMDB, já combalido pelo ressentimento da legenda do vice-presidente Michel Temer com a expansão da presença petista no governo e a preferência de sua titular por quadros técnicos pinçados por ela mesma, em detrimento de apadrinhados políticos.

Para a presidente, ficou difícil escolher o pior dos males, entre a má vontade do PMDB em assumir a defesa de Palocci - e o flerte de uma parcela de seus congressistas com a iniciativa da oposição de criar uma CPI sobre o escândalo - e a obstinação do líder do partido na Câmara, Henrique Alves, em fazer aprovar a emenda ao projeto do código que anistia plantações em áreas de proteção permanente e que Dilma considerou "vergonhosa".

A seu mando, Palocci ligou no dia da votação para Temer para informá-lo de que os cinco ministros do PMDB, a começar do titular da Agricultura, Wagner Rossi - indicado pessoalmente pelo interlocutor -, seriam exonerados caso o partido seguisse na contramão das posições da presidente.

Abespinhado, o vice retrucou que a demissão seria desnecessária "porque amanhã cedo mesmo todos entregarão os seus cargos".

A ríspida conversa, testemunhada em ambas as pontas da linha, revela, de um lado, a mão pesada de Dilma e a sua tremenda falta de traquejo político; de outro, a arrogância de seu "primeiro-ministro", conhecido antes pela sua afabilidade com aqueles em quem reconhece atributos de poder.

Mais tarde, Palocci telefonou para se desculpar, mas o estrago estava feito. Lula decerto não deixaria as coisas chegar a tal ponto.

O PERIGO QUE VEM DE CAMPINAS

À saída do gabinete do procurador-geral do Estado, Fernando Grella, o presidente do PT paulista, Edinho Silva, informou nesta quarta-feira que a conversa de 40 minutos tratara do caso da quadrilha homiziada nos porões da prefeitura de Campinas.

Como o elenco envolvido na roubalheira calculada em R$ 630 milhões inclui dois amigos do peito de Lula ─ o empresário José Carlos Bumlai e o prefeito, Doutor Hélio ─ a comitiva formada por cinco deputados estaduais estava lá para impedir que as investigações conduzidas pelos promotores do GAECO ultrapassassem as divisas do município.

“O partido não vai admitir especulações políticas em torno do ex-presidente Lula”, declamou Edinho. Também lhe pareceu absurda a decisão de engaiolar preventivamente o vice-prefeito Demétrio Vilagra, chefão do PT campineiro.

“Não existe um único dado que justifique o pedido de prisão do companheiro Demétrio, que tem uma história vinculada aos movimentos sociais e não pode ser condenado publicamente”, protestou o líder da expedição.

Ele desconfiou que a tentativa de intimidação não funcionara ao saber da réplica de Grella: “O procurador-geral reafirma seu apoio ao trabalho firme, sereno e imparcial desenvolvido pelos membros do Ministério Público no sentido do esclarecimento da verdade e da correta aplicação da lei, em cumprimento ao papel da instituição”.

Nos dois dias seguintes, como comprova o site de VEJA, teve certeza de que dera um tiro no pé. Preso nesta quinta-feira no aeroporto de Guarulhos, ao voltar da viagem a Madri, Vilagra passou a noite na cadeia.
Nesta sexta-feira, Bumlai foi interrogado durante três horas.

Acusada de liderar a quadrilha, a primeira-dama Rosely Nassim Jorge Santos precisará de muita imaginação para provar que o marido não sabia de nada. A história ainda em seu começo escapou de vez ao controle dos especialistas em livrar delinquentes do castigo.

Para abafar o escândalo que envolve também o amigo Ítalo Hamilton Barioni, o inevitável José Dirceu acampou em Campinas no domingo. Em reuniões com a turma, o consultor alertou-a para o risco de versões contraditórias.

Dirceu certamente imaginou que a barulhenta passagem de Lula por Brasília impediria que o país ouvisse os estrondos em Campinas. Errou. A consultoria gratuita só serviu para identificar com nitidez o caso que efetivamente inquieta os comandantes do PT.

O que lhes tem tirado o sono não é o que se soube de Antonio Palocci. É o que falta saber sobre a quadrilha que desviou centenas de milhões dos cofres públicos com licitações fraudadas.

QUE PAÍS É ESSE?

A intervenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para superar a crise do governo Dilma durante a semana dividiu os cientistas políticos. Há quem entenda que a presidente perdeu autoridade e saiu diminuída do episódio e os que acreditam que o eleitorado, em sua maior parte, talvez considere o fato normal e acabe legitimando esse socorro eventual ao governo.

"O benefício é de curtíssimo prazo. No longo, ela simplesmente perdeu a autoridade e o custo é gigantesco", resume Amaury de Souza, do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade, Iets, no Rio.

"O fato é que Lula não tem nenhum mandato, é um elemento perturbador, que entrou falando em nome próprio."

Com ele concorda José Álvaro Moisés, da USP. A ação de Lula "foi algo inteiramente fora do ponto", define Moisés. "Ao ocupar o centro da cena, do modo como fez, ele projetou a debilidade da liderança da presidente."

Para o cientista político Humberto Dantas, porém, "tudo depende de como o público vai olhar para isso". O eleitorado de Dilma "votou no prolongamento do governo Lula", pondera. "Para esses cidadãos, o que ocorreu é o esperado".

O resultado vai depender, acrescenta, "de como a oposição vai tratar o tema. Ela pode se calar se perceber que a sociedade legitima o episódio".

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A PRESIDENTE ULTRAPASSADA


O Estado de S.Paulo

Nos primeiros tempos do novo governo, a presidente Dilma Rousseff era aplaudida por duas características que representavam um bem-vindo contraste com o estilo de seu mentor Lula. Para os ouvidos fartos da verborragia do então presidente e para as vistas cansadas das suas incessantes aparições, a economia de palavras e a concentração da sucessora nos seus afazeres foram recebidas com um misto de alívio e otimismo. Assim também os relatos do exame minucioso que dedicava aos assuntos de sua alçada e do rigor com que cobrava da equipe a correção das lacunas ou imperfeições identificadas nos documentos que pousavam na sua mesa de trabalho - a antítese da aversão de Lula pelos textos levados à sua leitura que excedessem um par de páginas.

Mas a política é impiedosa. Bastaram os primeiros sintomas de incerteza nas decisões do Planalto (sobre o reconhecimento de que a inflação começara a voltar e a escolha dos instrumentos para contê-la, por exemplo) e as primeiras rusgas com a balofa base parlamentar governista (sobre cargos e verbas, como sempre) para que as avaliações da conduta presidencial passassem a produzir conclusões diferentes. As suas aparentes virtudes seriam, na realidade, limitações. Se ela fala pouco, é porque, além da inaptidão para se expressar em público, pouco tem a dizer. Se ela dedica tempo e energia a perscrutar com lupa os calhamaços da administração, é porque padece do vício do detalhismo e do gosto tecnocrático pela microgestão, em detrimento do diálogo com as suas forças no Congresso. Foi em meio a essa mudança de louvores para reparos que Dilma sofreu dois golpes.

O primeiro, a pneumonia que não só a obrigou a se recolher ao Palácio da Alvorada, a sua residência oficial, e a reduzir o ritmo de sua atividade, como evidenciou, com o passar do tempo, que o Planalto mentiu sobre a gravidade da doença que a acometeu. O segundo golpe, naturalmente, foi a revelação do enriquecimento, em meros 4 anos, do principal coordenador de sua campanha, o então deputado Antonio Palocci, que ela promoveu a personagem central do governo, como titular da Casa Civil e seu interlocutor com as elites nacionais. O silêncio - só ontem rompido - e a aparente inexistência de qualquer iniciativa de Dilma em face do escândalo deram azo a uma fuzilaria de críticas: procedentes, as da opinião pública; oportunistas, as dos políticos da base aliada, descontentes com o pouco-caso de Dilma e Palocci.

O comando da base vinha bloqueando, até por meios truculentos, as tentativas da oposição de convidar o ministro a se explicar. Mas o confronto entre a presidente e o PMDB a propósito da vitoriosa emenda ao projeto do Código Florestal, que anistia os cultivos feitos até 2008 em áreas de proteção permanente, instalou um clima de mala sangre entre o governo e sua base parlamentar de que a oposição, sobretudo no Senado, poderia tirar proveito para trazer Palocci às falas, no âmbito de uma CPI. Não se sabe se a presidente e o ministro já tinham se dado conta da erosão do seu patrimônio político no Congresso - e, em caso positivo, o que pretendiam fazer para recuperá-lo. O fato é que, com a sua proverbial intuição, Lula se abalou a Brasília e chamou a si o controle da crise. O resultado de sua intervenção é incerto, mas, com a sua entrada em cena, Dilma foi "ultrapassada", como se diz na caserna quando um comandante tem diminuída a sua autoridade.

Sob a batuta de Lula, que a instou a "abrir mais" o seu governo, ela marcou sucessivos encontros com políticos petistas e aliados. Ao mesmo tempo, para dissuadir as bancadas religiosas na Câmara de abandonar Palocci à própria sorte, mandou para o arquivo morto o polêmico kit anti-homofobia - uma cartilha e cinco vídeos que o Ministério da Educação pretendia distribuir nas escolas públicas de nível médio a pretexto de promover a tolerância entre os alunos. Decerto ainda é pouco para aplacar a irritação dos políticos, a julgar pela pilha de reclamações que deixaram com Lula sobre a "indiferença" de Dilma e a "arrogância" de Palocci. Guiada pelo antecessor, ela tem o telefone e a caneta para ir ajeitando as coisas. Mas ele continua tendo de fazer o que até agora evitou: dar satisfações dos seus negócios. Do contrário, também será ultrapassado.

CAIXA 2, NA CAMPANHA DA DILMA?


de Ucho.Info

Desvendando o enigma – A cada mil brasileiros, 999 desconhecem o real custo de uma campanha presidencial com chances de sucesso. Quando ouvem que a campanha de Dilma Rousseff não custou menos do que US$ 300 milhões, esses incautos são tomados por impressionante expressão de desânimo. Algo compreensível, pois quem chega ao poder central a bordo de verdadeira fortuna não tem como pensar exclusivamente no povo, pois a contrapartida àqueles que financiaram a custosa campanha precisa existir.

Por ocasião da CPI dos Correios, o marqueteiro Duda Mendonça admitiu ter recebido do PT parte dos honorários da campanha presidencial de 2002 em conta bancária de uma empresa off shore batizada com o nome de Düsseldorf. À época, os partidos de oposição ameaçaram pedir o impeachment do então presidente Luiz Inácio da Silva, mas uma manobra articulada pelo senador José Sarney (PMDB-AP) e a fracassada tese oposicionista de que era preciso garantir a governabilidade impediram qualquer ação contra o ex-metalúrgico.

Aquele não foi o primeiro escândalo da era Lula – o imbróglio de estreia ficou a cargo de Waldomiro Diniz –, mas por pouco o ex-presidente não foi apeado do cargo. Se via de regra a vida é cíclica, repetindo fatos passados, na política o movimento não é diferente. E as coincidências aumentam quando se trata de corrupção e desmandos.

O escândalo envolvendo Antonio Palocci Filho é o primeiro do governo da presidente Dilma Rousseff, mas por trás das acusações contra o ministro-chefe da Casa Civil há algo muito mais complexo e putrefato do que se imagina. A decisão do Palácio do Planalto de postergar ao máximo as explicações reforça as suspeitas de que a abrangência do imbróglio é vastíssima. Em qualquer país civilizado do planeta, uma reles consultoria que fatura R$ 10 milhões (US$ 6 milhões) em apenas dois meses é alvo de investigação imediata.

No Brasil de Lula e seus companheiros, tal situação só é considerada transgressão quando os protagonistas são adversários políticos dos donos do poder. No documento protocolado na Procuradoria-Geral da República pelos partidos de oposição há o pedido para que a empresa “Projeto”, de propriedade de Palocci, seja investigada, mas isso será dificultado ao máximo, pois a contabilidade da consultoria financeira do ministro pode ter movimentado o caixa 2 da campanha de Dilma Rousseff. O que explica o silêncio obsequioso de Dilma e a movimentação de vários governadores petistas, que na segunda-feira (23) desembarcaram em Brasília com a missão de blindar ao máximo o enrolado Palocci Filho.

É importante lembrar que o medo dos petistas com a possibilidade de a verdade vir à tona fez com que o líder do governo da Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), acionasse a Polícia Legislativa para impedir que membros de algumas comissões permanentes conseguissem votar requerimentos de convocação de Palocci.

Enquanto a grande imprensa nacional é atropelada por informações que tentam salvar a pele de Antonio Palocci Filho – a operação estaria sob o comando de Franklin Martins –, integrantes do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo, tentam intimidar a prefeitura da capital paulista. Vereador em São Paulo, José Américo (PT) oficiou a Secretaria Municipal de Finanças requisitando informações sobre os funcionários que têm acesso aos dados sigilosos dos contribuintes do Imposto Sobre Serviços (ISS). De acordo com o vereador, os dados da Projeto Consultoria podem ter sido violados por servidores municipais. “Temos indícios de que houve vazamento de informações e que isso pode ter ocorrido na Secretaria de Finanças, especialmente na base de dados do ISS”, afirmou José Américo.

Mais uma atitude desesperada do PT leva a oposição e a opinião pública a exigirem com mais vigor uma explicação de Antonio Palocci, que pode ter utilizado a própria empresa para receber doações que serviram para quitar parte das dívidas da campanha de Dilma Rousseff. Nada custa voltar no tempo e lembrar que Celso Daniel, então prefeito de Santo André, foi morto de maneira bárbara e covarde apenas porque discordou da destinação dada à propina cobrada por petistas de elite (sic), quando o dinheiro deveria acabar no caixa da campanha presidencial de Lula, em 2002.

Resumindo, é preciso saber se os partidos de oposição serão competentes para, comprovada a falcatrua, ingressar com um pedido de impeachment de Dilma Rousseff, pois esse é o tipo de operação que a Justiça Eleitoral em tese não perdoa.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

FRATURA EXPOSTA


Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

São vários os fatores que expõem a fragilidade política de Dilma Rousseff como presidente da República, sendo o mais recente e mais evidente a entrada de Luiz Inácio da Silva em cena.

Há outros, como a necessidade de esconder que a pneumonia contraída na volta da viagem à China não era "leve" como inicialmente anunciado, a recusa de tratar em público de suspeitas envolvendo seu principal auxiliar ou a demora em reagir a questões importantes como as sucessivas demonstrações de que há algo de muito errado no Ministério da Educação.

O recuo na distribuição do chamado "kit anti-homofobia" aconteceu não por causa de uma avaliação rigorosa sobre a adequação ou inadequação de uma campanha daquela natureza junto aos alunos do ensino fundamental, mas em função do temor de que católicos e evangélicos do Congresso não sustentem apoio a Antonio Palocci na crise.

Lula desembarcou em Brasília nesta semana não só para comandar a defesa do ministro Palocci, mas também para tentar conter a crescente insatisfação no PT e no PMDB com o estilo distante e animoso da presidente.

Para o público externo, galvaniza as atenções inventando uma versão qualquer para jogar suspeições sobre o PSDB a fim de desviar o foco das desconfianças sobre o enriquecimento anômalo do ministro e da evidência de que, se conspiração contra Palocci há, ela está dentro do PT e não na oposição.

Para o público interno, funciona como dique para conter a contrariedade das bancadas e suprir as carências do Planalto no momento em Palocci está fora de combate e que o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, se confirma na condição de nulidade.

A situação não é nova, vem se desgastando nos últimos dois meses, mas acabou se agravando com a crise que imobilizou Palocci conjugada à necessidade de uma articulação competente diante de uma questão importante como a votação do Código Florestal.

Um exemplo da carência de atributos de Dilma para lidar com o Congresso aconteceu na tarde de terça-feira, quando o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, foi ao palácio comunicar os termos para a votação do Código Florestal naquela noite.

O líder comunicou a Palocci o apoio do PMDB à emenda que permite a manutenção das produções agrícolas existentes em áreas de preservação permanente antes de 2008. Palocci levou a informação à presidente, que, então, mandou comunicar ao vice-presidente Michel Temer que se o partido insistisse no apoio à emenda demitiria todos os ministros do PMDB.

Uma impossibilidade evidente. Temer e Palocci precisaram contornar a situação fazendo ver a Dilma que aquele não seria o melhor momento para deflagrar uma guerra dessa envergadura.

O PMDB manteve a posição e à presidente foi transmitida a avaliação de que a emenda seria derrubada no Senado.

Se não for, ela terá de arcar com o desgaste do veto junto ao setor agrícola e até se expor ao risco de ver o veto derrubado.

Uma complicação à qual um governante não faz frente se não tiver experiência, vocação e tino políticos. Como Dilma Rousseff não tem, acaba de transferir essa tarefa a Lula.

Tal transferência pode até resolver o problema de imediato.

Mas abre enorme flanco com a cessão da autoridade presidencial a outrem. E não a um outrem qualquer: a Lula que sabe como ninguém potencializar poder político.

Decorre daí uma anomalia: o encolhimento da figura da presidente de direito e a expansão do papel de um ex-presidente numa informalidade institucional jamais vista em qualquer País do mundo civilizado.

Passivo. Quando o Supremo Tribunal Federal rejeitou a denúncia contra o ministro no caso da quebra do sigilo bancário de Francenildo Costa, o fez por falta de provas. Talvez fosse outra a decisão se os detentores de informações importantes tivessem se manifestado no tempo adequado.

Como a Caixa Econômica Federal, que tardou, e falhou, ao só agora informar à Justiça que a responsabilidade foi do gabinete do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

O REI DO DESPISTE


O Estado de S.Paulo - Editorial

Passados 144 dias de sua descida da rampa do Palácio do Planalto, Lula assumiu - se não o controle da administração de sua afilhada Dilma Rousseff - a condução política do governo.

A volta foi ostensiva, deliberadamente ostensiva. Não é que até então ele tivesse deixado de influir em decisões da sucessora, a começar da formação da sua equipe, enquanto dizia ora que ex-presidentes não devem dar palpites sobre o que fazem os novos, ora que não lhe estava sendo fácil "desencarnar" da Presidência.

Mas a sua atuação se dava nos bastidores, mediante telefonemas e reuniões discretas. À parte isso, a sua agenda política se concentrava em levar o PT a lançar um nome novo - presumivelmente, o ministro da Educação, Fernando Haddad - para disputar a Prefeitura paulistana no ano que vem.

Anteontem tudo mudou. Diante do desastroso manejo do escândalo que se abateu sobre o titular da Casa Civil, Antonio Palocci, tanto por parte do governo do qual, segundo Lula, ele é "o Pelé", quanto por parte do partido onde o ex-ministro da Fazenda não é propriamente uma unanimidade, o primeiro-companheiro decidiu entrar em campo para comandar o time político.

Almoçou e posou para fotos com ar de comandante-chefe com 12 dos 14 membros da bancada do PT no Senado, os quais exortou a sair em defesa de Palocci de uma vez por todas.

Revelado o fenomenal enriquecimento do ministro entre 2006 e 2010, quando acumulou o mandato de deputado com a atividade dita de consultoria, apenas 3 senadores petistas foram à tribuna se solidarizar com ele.

Lula não ficou nisso. Calejado no ramo do despiste desde a descoberta, em 2004, de que a Casa Civil do seu governo tinha um assessor parlamentar já flagrado cobrando propina, Lula deu duas ordens.

Aos senadores e a tutti quanti, mandou bater na tecla de que o ônus da prova cabe a quem acusa - a imprensa e a oposição -, de que não há prova alguma de que o dublê de consultor e líder informal do governo na Câmara tenha feito fortuna ilicitamente e que, portanto, ele não deve explicações além das que deu à Comissão de Ética da Presidência.

Ao mais íntimo homem de confiança no Planalto, o seu ex-chefe de Gabinete e atual secretário de Dilma, Gilberto Carvalho, Lula mandou desviar o foco do problema, culpando o secretário municipal de Finanças de São Paulo, Mauro Martins Costa, principal aliado do ex-governador tucano José Serra na gestão do prefeito Gilberto Kassab, pela revelação dos ganhos auferidos pela Projeto, a firma de Palocci.

PALLOCI AMEAÇOU TEMER


Foi uma trombada a que ocorreu na noite de terça-feira (24) entre o ministro Palocci, da Casa Civil e o vice-presidente e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer.

Quando o governo se convenceu de que seria aprovada a emenda do PMDB ao projeto do novo Código Florestal, dando autonomia aos estados para regularizar as atividades nas Áreas de Preservação Permanente (APPs), Palocci telefonou para Temer.

Primeiro informou da insatisfação da presidenta Dilma Rousseff com a emenda. Segundo, pediu para que o partido a retirasse. Por último, adiantou que a aprovação poderia provocar a demissão dos ministros do PMDB.

Temer respondeu que não seria necessário demitir os ministros do partido caso a emenda fosse aprovada porque ele na condição de presidente licenciado do PMDB e de vice-presidente da República garantia que os ministros pediriam demissão de imediato no dia seguinte.

A certa altura da conversa, Temer lembrou que como vice-presidente merecia respeito.

A conversa terminou sem acordo.

Pouco antes de a emenda ser aprovada, em discurso da tribuna da Câmara, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo, deu o recado: “A presidente Dilma considera [a emenda] uma vergonha”.

O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator da proposta do novo Código Florestal, exigiu aos gritos que o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), confirmasse se era isso mesmo que pensava Dilma.

“É uma vergonha”, repetiu Maia.

A emenda foi aprovada por 273 votos a 182.

PRESIDENTE ACUADA


da Veja Online

Atendendo às recomendações do ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff saiu publicamente em defesa do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. Dilma afirmou lamentar que a questão esteja sendo politizada. “Quero assegurar que o ministro Palocci está dando todas as explicações para os órgãos de controle. Espero que esta questão não seja politizada como foi o caso do que aconteceu ontem. Um caso lastimável que é a questão da devolução dos impostos à empresa WTorre pela Fazenda”, afirmou.

Dilma se referia a uma suposto benefício da Receita Federal em relações à empresa WTorre Empreendimentos Imobiliários – que teria recebido a restituição dos impostos em um prazo recorde. A empresa é um dos clientes da consultoria Projeto, do ministro Palocci. “A Fazenda demorou um determinado tempo, em torno de dois anos e a Justiça determinou à Fazenda o pagamento da restituição devida à empresa. Não se trata de maneira alguma de nenhuma manipulação. Lamento que um caso desse tipo esteja sendo politizado”, completou Dilma.

Segundo a presidente, o ministro Palocci dará todas as explicações sobre seu enriquecimento para o Ministério Público nos próximos dias. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o ministro teve o patrimônio multiplicado em 20 vezes entre 2006 e 2010, quando era deputado federal.

Caso - A empresa WTorre conseguiu a restituição de cerca de 10 milhões de reais da Receita Federal 43 dias depois de ter feito o pedido. A oposição avaliou esse tempo como rápido demais e desconfiou de uma provável influência de Palocci no caso.

O levantamento foi pelo deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) por meio do Siaf. A WTorre doou pelo menos 2 milhões de reais para a campanha de Dilma Rousseff em 2010. Nesta quarta-feira, o Ministério da Fazenda informou, em nota, que a restituição ocorreu por determinação judicial.

OUTRA DERROTA DE DILMA


Por Reinaldo Azevedo

Um dos grandes dramas do Brasil hoje em dia é que os ignorantes patrulham os oportunistas. A presidente Dilma Rousseff suspendeu ontem o tal “kit anti-homofobia” que seria exibido nas escolas — se aquilo era “anti” alguma coisa, era anti-heterossexual; tratava-se de proselitismo gay. Escrevi aqui que Dilma pode ter feito por maus motivos o que deveria ter feito por bons. O que quis dizer com isso? O material era de uma impressionante vigarice intelectual, moral, técnica e matemática. Até aí, tudo bem para o Planalto! A Rainha Muda não havia movido uma palha!

Quando a bancada cristã ameaçou chamar Antonio Palocci para o palco, então a presidente se mexeu e descobriu, ora vejam!, que o tal kit era inadequado e entrava na seara das famílias. Desconheço país do mundo que exiba filmes em sala de aula que tenham o objetivo de alertar os alunos heterossexuais para a possibilidade de que eles podem estar perdendo a oportunidade de “ficar” com indivíduos do mesmo sexo. Isso, obviamente, é assédio moral. Mas não é ainda o limite. Abaixo do fundo do poço, há um alçapão.

Divulgados os vídeos — eu já havia publicado um deles aqui, sobre o rapaz que se chama “Bianca” —, assisti a outro, intitulado justamente “Probabilidades”. Escrevi um post a respeito. Conta a história de Leonardo, que descobriu que gostava de meninas e… meninos. Certo! Aí, relata o filme, “foi copiando a lição de probabilidade que Leonardo teve um estalo (…), gostando dos dois, a probabilidade de encontrar alguém por quem sentisse atração era quase 50% maior. Tinha duas vezes mais chance de encontrar alguém (…)!” Evidenciei o óbvio: trata-se de uma bobagem matemática dupla. Se Leonardo passou a se interessar por todos os bípedes sem pêlos e penas — os tais humanos —, e não apenas pelas fêmeas da espécie, dado que antes só fazia a sua coleta em 50% dos indivíduos, a probabilidade é 100% maior, não 50%; ele não tem duas vezes mais chance, mas uma — já que a primeira sempre esteve dada.

É um troço elementar. Eu não sei se a economista Dilma Rousseff, ainda que destituída de seu falso doutorado, percebeu a falcatrua matemática ao ter vetado o vídeo. O que me causa espanto é que não vi o erro apontado nos sites dos grandes jornais — não havia uma miserável linha a respeito. E a razão é simples. O erro não foi percebido pelo MEC, o erro não foi percebido pelos especialistas, o erro não foi percebido pelos jornalistas. Uma vez denunciado, como foi aqui (este blog teve ontem 98.627 visitas, e vocês sabem como funciona a rede; os posts se multiplicam porque reproduzidos por outros páginas), fizeram de conta que nada tinha acontecido, que a bobagem não estava lá, que o material era bom pra chuchu e só foi vetado porque Dilma cedeu aos dinossauros cristãos para tentar salvar a pele de Palocci.

Sim, ela, o PT e mais um bando de gente — sobretudo um bando de gente! — está tentando salvar a pele de Palocci, mas não só por intermédio da suspensão do kit gayzista, não é mesmo? O fato de que tenha recorrido também a esse expediente é uma evidência a mais do desespero, mas não torna aceitável ou respeitável o material. É um lixo pedagógico! É um lixo didático! É um lixo matemático!

Setores da imprensa estão indignados! E daí que a matemática homoafetiva seja diferente daquela matemática habitualmente usada par tocar a vida, presente nas pontes, nos prédios, nas calculadores, nas contas em geral? Que se dane! A escola é o lugar em que a gente tem de aprender “cidadania” e “justiça social”!!! Porque esses são dois conceitos respeitáveis, sem dúvida, então eles podem substituir todo o resto. O Ministério da Educação pode torrar alguns milhões oferecendo uma matemática troncha à patuléia — desde, obviamente, que se o faça por bons propósitos. A canalha considera que a causa da igualdade pode suportar uma língua errada, uma matemática errada, uma ciência errada.

Os alunos pobres podem, sim, ser ignorantes. O importante é que sejam “justos” e pratiquem a igualdade. Dilma suspendeu o material por oportunismo, sem dúvida, mas está sendo patrulhada pelos estúpidos. Ontem, um dos portais trazia a Natalie Lamour do Congresso, Jean Willys (PSOL-RJ), conclamando os gays a não votar mais na petista. O ex-BBB teve pouco mais de 16 mil votos e só está na Câmara porque Chico Alencar foi o seu Tiririca…

Politicamente incorreto
Alguns colunistas condenados ao oblívio pelos leitores — em razão da falta do que dizer — esforçam-se para voltar ao debate atacando “essas pessoas politicamente incorretas” que andam aí pela imprensa — um deles ficou a um passo de soletrar meu nome quando defendi a ação da PM contra os maconheiros que fechavam a Paulista, mas não o fez.

Pois é… O que se entende por politicamente incorreto? Saber matemática? Apontar a picaretagem teórica dos vídeos homoafetivos do MEC? Acusar o estado de estar invadindo a esfera privada das famílias? Demonstrar o primarismo do roteiro, do texto e dos conceitos das FÁBULAS ESTATAIS que querem levar às crianças e aos adolescentes? Denunciar um verdadeiro trabalho de molestamento da maioria sob o pretexto de proteger a minoria?

Uma imprensa que se conforma com o fato de que o MEC exiba em sala de aula um filme oficial com um erro grotesco de conceito matemático, mas supostamente aceitável porque ancorado na correção política, é uma IMPRENSA MORTA! Parou de cumprir a sua função e está se comportando como militante política. Uma imprensa que propaga uma mentira estúpida — como a afirmação de que o suposto desmatamento no Mato Grosso teria sido provocado pelos debates sobre o novo Código Florestal — é igualmente uma IMPRENSA MORTA. Perdeu o seu compromisso com a verdade.

Não me preocupa — e acho que isso explica, em parte ao menos, o sucesso do blog — se minha opinião é politicamente correta ou incorreta; não preciso pedir licença a nenhum aiatolá para escrever. Já defendi algumas vezes, por exemplo, a união civil de homossexuais. Eu me oponho, aí sim, a que o Supremo ignore a Constituição para realizar esse propósito. Eu me oponho a que o Estado assuma o lugar das famílias. Eu me oponho a que se violem a lógica e a matemática para fazer “justiça”. Eu me oponho a que as aulas de “igualdade” tomem o lugar da aritmética e da língua portuguesa. Isso não é ser politicamente incorreto. Isso é não ser politicamente estúpido.

Dilma vetou o filme para salvar o couro de Palocci? É só mais uma manifestação da República dos Companheiros. A sua decisão, comprometida pelo oportunismo, não torna aceitável a porcaria que Fernando Haddad preparou para ser exibida nas escolas. Aplaudo a decisão em si. E censuro a Rainha Muda por ter deixado essa estupidez ir tão longe.

CPI PARA PALLOCI


de Josias de Souza

Em dois dias, a oposição obteve no Senado o apoio de 20 senadores à abertura de uma CPI para investigar o ‘Paloccigate’.

Para que a investigação seja inaugurada, são necessárias as assinaturas de 27 senadores. Faltam, portanto, sete.

A marca de duas dezenas foi alcançada nesta quarta (26), graças a uma adesão inesperada.

Levou o jamegão ao requerimento da CPI o senador governista Clésio Andrade (PR-MG), presidente da Confederação Nacional do Transporte.

Coube ao líder tucano Alvaro Dias (PR) coletar a assinatura de Clésio, um insurgente com o qual o Planalto não contava.

Além de Clésio, já assinaram o documento 11 senadores do PSDB, quatro do DEM, dois do PSOL e um do PMDB, o dissidente Jarbas Vasconcelos (PE).

Itamar Franco (PPS-MG), internado em São Paulo para tatar-se de uma leucemia diagnosticada na semana passada, avisou que assinará.

Contactados, outros dois senadores de legendas do condomínio governista acenaram com a hipótese de aderir à CPI: Ana Amélia (PP-RS) e Pedro Taques (PDT-MT).

Amélia e Taques disseram às lideranças da oposição que aguardam pelas explicações de Antonio Palocci à Procuradoria-Geral da República antes de decidir.

Procurada, Kátia Abreu (ex-DEM) também preferiu condicionar a cessão de sua assinatura às justificativas de Palocci.

De resto, a oposição considera factíveis as adesões de outros três senadores do consórcio partidário do governo.

Dois são filiados ao PMDB: Roberto Requião (PR) e Pedro Simon (RS). Um é membro do PDT: Cristovam Buarque (DF).

No esforço para completar as 27 assinaturas, tucanos e ‘demos’ assediam, entre outros, Ricardo Ferraço (PMDB-ES).

O plano do bloco da oposição prevê uma CPI mista, com deputados e senadores. Na Câmara, exigem-se 171 assinaturas de apoio. Algo mais difícil de obter.

Caso o número mínimo de senadores seja atingido, cogita-se circunscrever a investigação apenas ao Senado.

É o que admitem Alvaro Dias, o líder do PSDB, e o colega Demóstenes Torres (GO), líder do DEM.

Na noite passada, o senador Magno Malta (ES), líder do PR do rebelado Clésio Andrade, pronunciou um discurso sintomático.

Da tribuna do Senado, Malta fez um alerta ao governo. Disse que são reais as chances de a oposição pôr de pé a CPI.

“Faltam cinco assinaturas”, disse Malta, dando de barato que pelo menos mais dois governistas assinarão o requerimento.

Malta disse que é grande a insatisfação dos senadores pró-Dilma com o “descaso” de certos auxiliares do governo.

“Alguns ministros deveriam fazer uma cesariana por dia, para tirar o rei da barriga”, ironizou o senador.

Malta anda abespinhado com Antonio Palocci, que se negava a responder aos seus telefonemas.

Nesta quarta (26), após queixar-se a Lula, Malta recebeu um telefonema de Palocci. Não atendeu.

A adesão de Clésio Andrade à CPI é atribuída a um veto imposto por Dilma Rousseff a artigo inserido pelo Senado numa medida provisória.

A MP tratava da concessão de incentivos fiscais a fabricantes de carros, caminhões e tratores que se instalassem nas regiões Nordeste e Norte.

Concebida sob Lula, a medida visava beneficiar Pernambuco, Estado do ex-presidente, que se prepara para receber uma unidade da Fiat.

Para azeitar a aprovação da MP, os governistas negociaram com a oposição uma emenda que incluiu Minas Gerais no rol de Estados beneficiados.

Entenderam-se os benefícios fiscais a toda a área de abrangência da Sudene, que inclui um pedaço de Minas, o Vale do Jequitinhonha.

O diabo é que Dilma vetou a novidade, restabelecendo o texto original da medida provisória. Daí a irritação de Clésio.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

LULA E O ESGOTO

de Guilherme Fiúza

O escândalo de corrupção na prefeitura de Campinas não tem nada de escandaloso. Tudo nesse caso é absolutamente normal.

Há uma ordem de prisão contra o vice-prefeito, do PT, que está foragido. Segundo o Ministério Público, ele é uma das cabeças de um propinoduto montado no serviço de águas e esgotos.

Qual é a novidade? Nenhuma.

É mera repetição do padrão consagrado, que tem no caso Celso Daniel seu emblema máximo: PT, lixo, esgoto, propina.

Em meio a essa mesmice, mais uma revelação trivial: no caminho da propina entre a empreiteira e a companhia de saneamento aparece, como suspeito, um empresário. Adivinhe de quem ele é amigo?

Acertou. É amigo do filho do Brasil.

Luiz Inácio da Silva, o homem e o mito, é candidato a um verbete no Guinness. Entrará no livro dos recordes como o cidadão com o maior número de amigos acusados de alguma trampolinagem.

Até no episódio do dossiê dos aloprados, os principais suspeitos eram amigos de Lula.

Tinha o churrasqueiro do presidente, o segurança e personal-chapa do presidente, o sindicalista de fé e irmão camarada do presidente desde os anos 70, e assim por diante.

Isso para não falar em Delúbio, Silvinho, Gushiken e grande elenco mensaleiro – todos da cota afetiva de Lula.

O aparecimento de mais um amigo do ex-presidente no caso do esgoto de Campinas não tem, portanto, qualquer relevância. Será possível que o Ministério Público ainda não entendeu o jeito Lula de fazer amizades?

Em vez de ficarem implicando com o ex-operário, deveriam estimulá-lo a ampliar o temário de suas valiosas palestras. Além de ensinar o jeito PT de administrar, Lula poderia discorrer sobre a importância do afeto na política.

E explicar como se faz para ter um milhão de amigos fichas-sujas, mantendo intacta a estampa de herói.

Seria um sucesso. Ele nem precisaria explicar como ficou amigo de Dilma Rousseff.

GOVERNO FRACO


A entrada em cena do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir, na prática, a articulação política do governo Dilma Rousseff, no auge da crise envolvendo o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, pode enfraquecer politicamente o atual governo e trazer consequências negativas para a imagem da presidente. Essa é a avaliação do cientista político e pesquisador da PUC de São Paulo e FGV de São Paulo Marco Antonio Carvalho Teixeira.

"A maneira como o governo Dilma vem conduzindo o imbróglio do enriquecimento do ministro Palocci passa a imagem de que não está havendo capacidade para administrar a crise e que a coordenação deste processo não está nas mãos da presidente, por isso, foi necessário chamar um bombeiro para apagar o incêndio, neste caso o ex-presidente Lula", destacou Carvalho Teixeira. Para ele, este fato deve trazer consequências negativas para a imagem de Dilma, "justamente num momento em que ela estava fragilizada fisicamente por causa da pneumonia que contraiu".

Além do fato de precisar da ajuda de Lula para tentar estancar a crise relacionada a Palocci, o cientista político avalia que, ao colocar a "tropa de choque" para blindar o ministro-chefe da Casa Civil, o governo Dilma acabou levando a crise para dentro do próprio governo. "O que é muito complicado, porque o caso envolve muito dinheiro e, até o momento, o ministro Palocci não encontrou uma explicação lógica para explicar o

PALLOCI, O VAZADOR


Para se livrar da indenização de R$ 500 mil, a que foi condenada a pagar, a Caixa Econômica Federal alegou à Justiça que a responsabilidade pelo vazamento dos dados do caseiro Francenildo dos Santos Costa, ocorrido em 2006, é do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci (atual ministro-chefe da Casa Civil) e do seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, que teriam vazado o material para a imprensa.

Citando relatório da Polícia Federal (PF) sobre o caso, a Caixa assume que entregou os extratos da conta do caseiro ao ministro, mas garante não haver dúvida de que Netto, a serviço de Palocci, foi o responsável pela divulgação dos extratos da movimentação bancária do caseiro. Lembra, ainda, que "o domínio do fato (o sigilo da conta) pertencia ao ex-ministro da Fazenda, apontado como mentor intelectual e arquiteto do plano, sobre o qual a Caixa não possui qualquer poder de mando".

É a primeira vez que a Caixa diz textualmente que a responsabilidade pelo vazamento é do gabinete do ex-ministro. A acusação, contida na apelação apresentada pela estatal à 4.ª Vara da Justiça Federal de Brasília, agrava a crise atual vivida por Palocci, acusado pela oposição de suspeita de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro por ter engordado seu patrimônio pessoal em 20 vezes em apenas quatro anos. A apelação contesta o valor da indenização e está conclusa para julgamento. Caso perca, a Caixa terá de desembolsar a quantia.

Francenildo teve a vida virada ao avesso após acusar Palocci, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, de frequentar uma mansão no Lago Sul onde lobistas de Ribeirão Preto (SP) realizavam festas e negócios escusos. Em retaliação, dirigentes do alto escalão do governo quebraram o sigilo bancário da poupança do caseiro, cujo extrato foi publicado na revista Época. Palocci suspeitava que Francenildo recebera propina da oposição para fazer a denúncia, mas o saldo de R$ 30 mil era na verdade uma doação do pai do caseiro, que acabara de reconhecer a paternidade.

No processo criminal que correu no Supremo Tribunal Federal (STF), Palocci foi inocentado em agosto de 2009 por falta de provas, por 5 votos a 4. No caso de Netto, a votação terminou empatada em 5 a 5 e ele acabou inocentado porque, nesses casos, a dúvida favorece o réu. Na área cível, todavia, a Caixa foi condenada a indenizar o caseiro, que inicialmente pediu R$ 17,5 milhões de reparação.

Na defesa, o banco estatal alega que "a sentença peca ao manter o entendimento de que existe nexo de causalidade, no sentido de que somente a transferência do sigilo pela Caixa - e não as atitudes do então ministro da Fazenda (Palocci), de seu assessor de imprensa (Marcelo Netto) e, por fim da revista Época, lhe causaram os danos morais alegados".