domingo, 31 de julho de 2011

NO GOVERNO DILMA, COMUNISTA ADORA DINHEIRO!


Diego Escoteguy, ÉPOCA

O comunista Haroldo Lima não detém conhecimentos técnicos sobre petróleo, mas sabe tudo de política. Aos 71 anos, o atual diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) já fez muito pela esquerda. Militou no movimento estudantil, fundou a organização Ação Popular, a AP, na qual combateu a ditadura militar, e, há 39 anos, apaixonou-se pelo PCdoB.

É um dos mais antigos e dedicados quadros do partido, pelo qual cumpriu cinco mandatos como deputado federal. Num deles, elegeu-se com o mote “botando para quebrar”. A exemplo de tantos outros políticos de sua geração, sacrificou-se pelos ideais da esquerda, mas capitulou aos encantos da direita. Em 2003, em reconhecimento a seus serviços, o então presidente Lula nomeou Haroldo para uma diretoria na ANP.

Desde então, Haroldo socializou cargos e contratos entre os camaradas do PCdoB. Fora, assegurou – com muito custo – o próspero acúmulo de capital dos grandes empresários do setor petrolífero. Essa ambiguidade de papéis, subproduto do aparelhamento partidário do Estado brasileiro, não poderia dar certo. Conforme revelou ÉPOCA na capa de sua última edição, viraram regra a cobrança de propina e os achaques a empresários que precisam das canetadas dos burocratas da ANP.

A reportagem trouxe a público evidências fortes da corrupção na ANP, como cheques, e-mails, relatos de empresários extorquidos – e até um vídeo em que uma advogada que atua no ramo é achacada por dois assessores da ANP. Todo o material integra uma investigação sigilosa, iniciada pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro.

No vídeo, gravado em maio de 2008, Antonio José Moreira, então procurador da ANP, e Daniel de Carvalho Lima, estagiário da agência, cobram R$ 40 mil da advogada Vanuza Sampaio para liberar o registro de um cliente dela, a distribuidora de combustíveis Petromarte. Ambos dizem falar em nome do dirigente do PCdoB Edson Silva, então superintendente de Abastecimento e hoje assessor de Haroldo Lima. Os dois assessores da ANP dizem no vídeo que o valor de R$ 40 mil foi estipulado por Edson Silva e que ele receberia R$ 25 mil do total.

Assim que a reportagem foi publicada, a direção da ANP, em vez de determinar a investigação dos fatos, esforçou-se por tentar desqualificar o caso. A ANP chegou a anunciar que a advogada Vanuza foi interpelada judicialmente – e que ela teria negado qualquer acusação contra o comunista Edson Silva.

Não é verdade. “Fui interpelada em razão de uma matéria que saiu na imprensa contra o senhor Edson Silva. Apenas neguei que fosse fonte da referida matéria. Nunca voltei atrás em nada”, disse a advogada Vanuza.

Ela, diante da repercussão do caso, aceitou falar a ÉPOCA na semana passada. Vanuza esclareceu, sobretudo, o que já se suspeitava: os dois assessores da ANP disseram a ela que o dinheiro cobrado iria para o caixa do PCdoB.

"DEPOIS QUE A GENTE ACOSTUMA..."


Depois de socorrer uma empresa do filho do ex-presidente Lula, a Oi vai financiar peça de teatro que terá no elenco uma neta do petista.

A produção, que busca patrocínio há um ano e três meses, conseguiu a ajuda após promover na mídia a participação da jovem. A peça "Megera Domada", de Shakespeare, marcará a estreia de Bia Lula, 16, filha de Lurian Lula da Silva, nos palcos.

A Oi é a única empresa até agora a patrocinar o projeto via Lei Rouanet. A tele vai bancar R$ 300 mil, quase metade do custo da produção, de R$ 639,4 mil.

Em 2005, a Oi aplicou recursos numa empresa de um dos filhos de Lula. A Gamecorp, de Fábio Luís Lula da Silva, recebeu R$ 5 milhões da então Telemar --uma concessionária de serviço público. O negócio é alvo de investigação da Polícia Federal.

A Oi afirmou que "é uma das maiores patrocinadoras de projetos culturais" do país e que "não opina no processo de seleção do elenco". A tele negou ainda ter sido beneficiada por decisões do governo.

A assessoria do ex-presidente Lula disse que ele desconhece o patrocínio. "É uma operação entre a Oi e a produção da peça. Lula não tem nada a ver com isso."

O produtor Oddone Monteiro disse que convidou Bia Lula para participar do elenco porque sabia que ela atrairia a atenção, mas negou que tê-la na peça ajude no patrocínio. O Ministério da Cultura informou que a prorrogação da captação de recursos está dentro dos trâmites e prazos.

sábado, 30 de julho de 2011

MAIS ESCÂNDALO NESSE GOVERNO


Cristiane Jungblut, O Globo

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse agora há pouco que foi surpreendido com as declarações do irmão, Oscar Jucá Neto, à Revista "Veja". Ele disse que apenas indicou o irmão para a Conab e que, diante dos problemas, concordou com sua saída da empresa.

Ontem, Jucá ainda tentava localizar o irmão. O líder garantiu que não sabia do teor da entrevista. Na entrevista à "Veja", Jucá Neto disse que há esquema de corrupção na Conab e que o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, estaria envolvido.

- Me solidarizo com o ministro. Conversei isso com o Rossi e não concordo com essa postura dele. Discordo das informações e lamento essa posição. Fui surpreendido. Estou envolvido involuntariamente e lamento. Mas o cargo de líder é de confiança da presidente - disse Jucá.

Demitido da direção da Conab depois de ser acusado de autorizar um pagamento para uma suposta empresa de fachada, Oscar Jucá Neto denunciou que há um esquema de corrupção e desvio de recursos na companhia estatal maior do que os escândalos do Dnit.

Em entrevista à revista Veja , Jucá Neto, o Jucazinho, diz que na Conab "só tem bandido" e acusa o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, de envolvimento em irregularidades , embora admita que não tem como provar. O ministro nega participação e desqualifica as acusações. Oscar Jucá Neto foi exonerado na quarta-feira .

Segundo Jucazinho, depois de demiti-lo, Rossi o teria chamado para uma conversa em que ofereceu uma compensação pela perda do cargo. Conforme relatou à revista, na conversa, o ministro teria dito que ele teria "participação em tudo". Jucazinho alega ter entendido que a oferta era de propina.

"O ministro sugeriu que eu pensasse na possibilidade de mudar de cargo e disse num tom de voz enigmático: fica tranquilo que você vai participar de tudo".

Jucazinho disse que não aceitou a proposta. E afirmou, segundo a revista: "Ali só tem bandido e não vou trabalhar com bandidos."

sexta-feira, 29 de julho de 2011

CASAL DNIT. ISSO NÃO TEM FIM?


Fábio Fabrini e Roberto Maltchik, O Globo

Promovido a coordenador-geral de Operações Rodoviárias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em meio à crise, Marcelino Augusto Rosa comanda serviços milionários do órgão com empresas cuja representante é sua mulher, Sônia Lado Duarte Rosa.

De um lado do balcão, o servidor, que responde a processo disciplinar da Controladoria Geral da União (CGU) por suposto favorecimento de empreiteiras, tem ascendência sobre contratos de sua área. De outro, é ela quem leva e traz documentos e pleitos de algumas das contratadas à sede da autarquia em Brasília.

Sônia Duarte é procuradora de oito empresas, a maioria responsável pela sinalização de rodovias. Antes de assumir a Coordenação Geral de Operações - no lugar de Luiz Cláudio Varejão, exonerado pela presidente Dilma -, Marcelino já era interino do cargo e coordenava o setor de Segurança e Engenharia de Trânsito, responsável pela sinalização horizontal e vertical, entre outras atribuições.

Graças a aditivos, algumas das clientes de Sônia conseguiram dobrar o valor de seus contratos nos últimos anos.

Só a SBS, que se vale dos serviços de Sônia há pelo menos três anos, esticou o valor de seu contrato em 164% (de R$ 4,3 milhões para R$ 11,4 milhões), após seis aditivos. A CAP tem dois contratos, um com aumento de 121% (de R$ 4,1 milhões para R$ 9,1 milhões) e outro de 86,5% (de R$ 5,2 milhões para R$ 9,7 milhões).

Já a Sinalmig obteve acréscimos de 112% (de R$ 5,09 milhões para R$ 10,6 milhões). Desde 2006, a SBS já recebeu R$ 9 milhões. Os pagamentos à CAP somaram R$ 16,3 milhões. No caso da Sinalmig, outros R$ 8,9 milhões.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

E AGORA?


de Augusto Nunes

Abstraídos os comparsas, os parentes e os patrocinadores oficiais, desta vez ninguém se atreveu a afrontar a inteligência dos brasileiros decentes com a reapresentação do ato mais surrado do espetáculo do cinismo.

Nem a tropa de choque do Senado, a tropa do cheque da Câmara e a diretoria do grande clube dos cafajestes irromperam no palco para a lengalenga costurada em torno da inocência até prova em contrário, do direito de ampla defesa, do devido processo legal.

Nem mesmo Lula suou a camisa no palanque em defesa dos quadrilheiros que agiram durante oito anos e meio no Ministério dos Transportes, sob as bênçãos do Padroeiro dos Companheiros Pecadores.

A presidente Dilma Rousseff precipitou o despejo dos chefões do bando, iniciado logo depois das revelações feitas por VEJA, para não reeditar a exasperante agonia do ex-ministro Antonio Palocci.

Ampliou a lista dos demitidos ao constatar, em pesquisas encomendadas pelo Planalto, a exaustão de milhões de brasileiros com as dimensões da roubalheira.

Dilma foi longe demais: os quadrilheiros já não podem reivindicar a prescrição do crime por perda de emprego. A malandragem não é aplicável a quem embolsou quantias de deixar ruborizados até o asfalto que se desmancha nas estradas do Dnit, é coisa de empalidecer de espanto até os trilhos inexistentes da Valec. Ao afastar os bandidos, o governo não fez mais que a obrigação. É quase nada.

E será rigorosamente nada se parar por aqui o castigo que mal começou. É preciso recuperar ao menos parte da imensidão de dinheiro roubado pela organização criminosa formada por donos de órgãos públicos com orçamentos obesos, empreiteiras, consultorias e outras abjeções.

É preciso enquadrar os meliantes nos numerosos artigos legais que violaram. É preciso mostrar ao Brasil que algo mudou ─ se é que algo tenha mudado.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

OS NOVOS BÁRBAROS


Por Luciano Pires - Luciano Pires é diretor de marketing da Dana e profissional de comunicação .

Alguns conhecidos voltaram da China impressionados.

Um determinado produto que o Brasil fabrica em um milhão de unidades, uma só fábrica chinesa produz quarenta milhões...
A qualidade já é equivalente. E a velocidade de reação é impressionante.
Os chineses colocam qualquer produto no mercado em questão de semanas...
Com preços que são uma fração dos praticados aqui.

Uma das fábricas está de mudança para o interior, pois os salários da região onde está instalada estão altos demais: 100 dólares.
Um operário brasileiro equivalente ganha 300 dólares no mínimo que acrescidos de impostos e benefícios representam quase 600 dólares.
Quando comparados com os 100 dólares dos chineses, que recebem praticamente zero benefícios.... estamos perante uma escravatura amarela e alimentando-a...

Horas extraordinárias? Na China...? Esqueça !!!
O pessoal por lá é tão agradecido por ter um emprego que trabalha horas extras sabendo que não vão receber nada por isso...

Atrás dessa "postura" está a grande armadilha chinesa.
Não se trata de uma estratégia comercial, mas sim de uma estratégia " de poder" para ganhar o mercado ocidental .

Os chineses estão tirando proveito da atitude dos 'marqueteiros' ocidentais, que preferem terceirizar a produção ficando apenas com o que ela "agrega de valor": a marca.

Dificilmente você adquire atualmente nas grandes redes comerciais dos Estados Unidos da América um produto "made in USA".
É tudo "made in China", com rótulo estadunidense.

As Empresas ganham rios de dinheiro comprando dos chineses por centavos e vendendo por centenas de dólares...
Apenas lhes interessa o lucro imediato e a qualquer preço.
Mesmo ao custo do fechamento das suas fábricas e do brutal desemprego. É o que pode-se chamar de "estratégia preçonhenta".

Enquanto os ocidentais terceirizam as táticas e ganham no curto prazo, a China assimila essas táticas, cria unidades produtivas de alta performance, para dominar no longo prazo.

Enquanto as grandes potências mercadológicas que ficam com as marcas, com os designes...suas grifes, os chineses estão ficando com a produção, assistindo estimulando e contribuindo para o desmantelamento dos já poucos parques industriais ocidentais.

Em breve, por exemplo, já não haverá mais fábricas de tênis ou de calçados pelo mundo ocidental. Só haverá na China.

Então, num futuro próximo veremos os produtos chineses aumentando os seus preços, produzindo um "choque da manufatura", como aconteceu com o choque petrolífero nos anos setenta. Aí já será tarde demais.
Então o mundo perceberá que reerguer as suas fábricas terá um custo proibitivo e irá render-se ao poderio chinês.

Perceberá que alimentou um enorme dragão e acabou refém do mesmo.
Dragão este que aumentará gradativamente seus preços, já que será ele quem ditará as novas leis de mercado, pois será quem manda, terá o monopólio da produção .

Sendo ela e apenas ela quem possuirá as fábricas, inventários e empregos é quem vai regular os mercados e não os "preçonhentos".

Iremos, nós e os nossos filhos,netos... assistir a uma inversão das regras do jogo atual que terão nas economias ocidentais o impacto de uma bomba atômica... chinesa.

Nessa altura em que o mundo ocidental acordar será muito tarde.

Nesse dia, os executivos "preçonhentos" olharão tristemente para os esqueletos das suas antigas fábricas, para os técnicos aposentados jogando boliche no clube da esquina, e chorarão sobre as sucatas dos seus parques fabris desmontados.

E então lembrarão, com muitas saudades, do tempo em que ganharam dinheiro comprando "balatinho dos esclavos" chineses, vendendo caro suas "marcas- grifes "aos seus conterrâneos.

E então, entristecidos, abrirão suas "marmitas" e almoçarão as suas marcas que já deixaram de ser moda e, por isso, deixaram de ser poderosas pois foram todas copiadas....

REFLITAM E COMECEM A COMPRAR - - OS PRODUTOS DE FABRICAÇÃO NACIONAL, FOMENTANDO O EMPREGO EM SEU PAÍS, PELA SOBREVIVÊNCIA DO SEU AMIGO, DO SEU VIZINHO E ATÉ MESMO DA SUA PRÓPRIA... E DE SEUS DESCENDENTES.


MAIS CONVERSA FIADA


Marta Salomon, O Estado de S.Paulo

O primeiro ano de mandato da presidente Dilma chegou à metade sem que projetos destacados durante a campanha eleitoral tivessem saído do papel nesse período.

As 500 novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), por exemplo, que deveriam garantir atendimento médico 24 horas por dia à população, não registraram nem compromisso de gasto, o chamado "empenho" de verbas, de acordo com documentos do Tesouro Nacional.

Dilma ao lado de Lula na inauguração de uma UPAO Orçamento da União de 2011 autoriza gastos de R$ 212,5 milhões nas UPAs.

Na mesma situação estão outros projetos destacados na campanha, como a implantação de postos de polícia comunitária. Seriam criados 2,8 mil postos desse tipo durante o mandato, segundo a promessa eleitoral.

O dinheiro previsto para começar a construir 8 mil Unidades Básicas de Saúde (UBSs) tampouco foi liberado. No Orçamento deste ano, as autorizações de gastos para os dois projetos alcançaram R$ 350 milhões e R$ 480,2 milhões, respectivamente.

As chamadas Praças do PAC, espaços integrados de esporte, cultura, lazer e prestação de serviços públicos, encontram-se igualmente paradas, de acordo com os registros do Tesouro. O início da instalação das Praças conta com R$ 170 milhões no Orçamento deste ano, dinheiro intocado até agora.

O Ministério do Planejamento contesta que os projetos estejam paralisados. "O entendimento de que uma ação não saiu do papel porque sua execução orçamentária está baixa ou zerada é uma avaliação limitada porque prioriza ou torna exclusivo o viés da execução orçamentária", informou a assessoria da ministra Miriam Belchior.

Em nota, a pasta informou que "as UPAS, UBS e Praças dos Esportes e da Cultura estão em pleno cumprimento das etapas técnicas obrigatórias por lei, que antecedem a obra física propriamente dita".

Segundo o Planejamento, o governo já lançou o processo de seleção para a construção de 400 praças em 362 municípios. Também teriam sido contratadas 1.219 UBSs e outras 119 UPAs. Dados do Tesouro não registram contratação das obras.

terça-feira, 26 de julho de 2011

ENGRENAGEM BLINDADA

de Elio Gáspari

“O primeiro grande escândalo do governo Lula estourou em fevereiro de 2004, 13 meses depois de sua posse. Custou o cargo a Waldomiro Diniz, subchefe da Casa Civil de José Dirceu. Ele fora filmado num achaque ao tempo em que dirigia as loterias do Rio de Janeiro. Até o dia em que deixou o Planalto, em janeiro passado, Nosso Guia foi perseguido por escândalos que se sucederam em intervalos regulares.

O governo Dilma Rousseff foi mais veloz. Seu primeiro escândalo estourou cinco meses depois da posse e custou o cargo ao chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Um mês depois, Dilma perdeu o ministro dos Transportes e o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o Dnit. (Em julho de 2003, quanto Lula tinha sete meses de Palácio, o mesmo Dnit deu-lhe uma pequena crise, com o ex-diretor financeiro acusando o ministro Anderson Adauto de favorecer a empreiteira Queiroz Galvão e sendo acusado de embolsar propinas.)

Deixando-se de lado o varejão da roubalheira, onde ficam contratos de serviços, de publicidade, ou despesas com cartões de crédito, mordomias e viagens, a crônica de nove anos incompletos de governo petista revelam que há nele uma engrenagem blindada, metódica e articulada de corrupção. Não há novos escândalos, há apenas novas erupções, beneficiadas por uma rotina em que uma crise só se exaure quando é substituída por outra, na qual estão personagens que passaram despercebidos na anterior.

O centro dessa rede fica no Palácio do Planalto, ora na Casa Civil, ora na coordenação política e sempre na coleta e repasse de doações. Quando Waldomiro Diniz foi apanhado, pouca gente sabia quem era Delúbio Soares. (Em janeiro de 2003, o tesoureiro do PT organizou uma festa numa fazenda de Buriti Alegre. Entre os convidados estava o deputado Valdemar Costa Neto, do PR, atual marquês do Ministério dos Transportes.)

Desde fevereiro de 2004 sabia-se que Delúbio pagava mesadas a deputados do PTB. Entre a crise de Waldomiro Diniz e a seguinte, com o vídeo de um pagamento de propina a um diretor dos Correios, passaram-se 15 meses. Bastaram mais quatro meses para que daí surgisse a palavra que mudaria a história do PT e do comissário José Dirceu: ‘mensalão’.

O novo escândalo expôs o loteamento, pelo Planalto, de cargos nos Correios, Banco do Brasil, Instituto de Resseguros do Brasil, Furnas, bem como a manipulação, pela Casa Civil, dos fundos de pensão de estatais. Nos governos anteriores aconteceram episódios semelhantes, mas não tiveram a articulação e a blindagem conquistada pelo comissariado. Trinta e dois parlamentares acusados de ter participado do ‘mensalão’ e de roubalheiras nas verbas da saúde tiveram um crescimento patrimonial de 32% entre 2002 e 2006.

O ‘mensalão’ ainda não saíra no noticiário quando puxaram-se as pontas da administração do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na Prefeitura de Ribeirão Preto. Era mais do mesmo. Negociando contratos de loterias na Caixa Econômica, Waldomiro Diniz propusera a empresários o serviço da consultoria de Rogério Buratti, ex-secretário de governo de Ribeirão, ex-sócio do chefe de gabinete do ministro da Fazenda. Incriminado por Buratti, Palocci agonizou durante um ano. Trazido de volta ao Planalto por Dilma, aguentou 23 dias de crise e saiu de cena sem contar quem eram os clientes que o tornaram milionário.

Burattis, Waldomiros, Delúbios, Erenices e até mesmo Pagots foram peças acessórias de uma máquina. Isso pode ser entendido quando se vê como saíram de cena. Delúbio, reintegrado recentemente à família petista, ensinou: ‘Faz parte da minha integridade não delatar ninguém’. Na semana passada, o doutor Luiz Antonio Pagot fechou suas oito horas de silencioso depoimento com uma frase: ‘Sou um leal companheiro’.

O escandaloso enriquecimento de Palocci foi substituído pelas propinas do Ministério dos Transportes. Como acontece desde o caso de Waldomiro Diniz, será esquecido, diante do próximo”.

VARRENDO PARA DEBAIXO DO TAPETE


Merval Pereira, O Globo

Como a situação política é muito precária, recebemos nos últimos dias informações desencontradas sobre a disposição da presidente Dilma de levar à frente o processo de "faxina" iniciado no Ministério dos Transportes.
De viva voz, para o Moreno, a presidente garantiu que a "faxina" não tinha limites e seguiria adiante.

Através de informações de bastidores, sem que se possa reconhecer os informantes, mas com a garantia de que são confiáveis, ficamos sabendo que a "faxina" é seletiva, isto é, não atingirá partidos mais robustos politicamente, como o PMDB, por exemplo.

O próprio líder do partido, deputado Henrique Alves (RN), como a dar credibilidade às fontes anônimas, confirma que o PMDB não está ameaçado de ter ministérios seus escrutinados pelos órgãos fiscalizadores do governo.

"Não vai haver isso (faxina) em outros ministérios", garantiu o líder do PMDB, com a autoridade de quem, dias antes, protagonizou uma das cenas mais ridículas da política brasileira em todos os tempos, aquele bolo de noivado com os bonecos de Dilma e do vice-presidente Michel Temer no topo, a celebrar um matrimônio político que pretende ser "infinito enquanto dure".

Na verdade, nenhum partido que faz parte da base aliada do governo deve temer os órgãos fiscalizadores governamentais, porque nenhum dos casos de demissão no Ministério dos Transportes aconteceu devido a uma denúncia oficial.

Todos, sem exceção, inclusive o caso anterior envolvendo o ex-ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, foram atingidos por denúncias dos órgãos de imprensa.

A "faxina" que virou marca registrada da gestão da presidente Dilma não passa de uma ação reativa do Palácio do Planalto diante de denúncias da imprensa, e a única novidade é que, diferentemente do ex-presidente Lula, a presidente Dilma não passa a mão na cabeça dos acusados.

domingo, 24 de julho de 2011

E PARA LULA E DILMA? NADA?


O líder do Democratas (DEM) na Câmara dos Deputados, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), vinculou a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, ao suposto esquema de corrupção no Ministério dos Transportes, durante encontro com jornalistas na manhã desta sexta-feira, em seu escritório em Salvador (BA). "Não há distinção entre Lula e Dilma. Tanto o ex quanto a atual presidente devem ser responsabilizados", disse, ao comentar indícios de superfaturamento de obras e recebimento de propina por empreiteiras.

"Não acredito que a presidente Dilma não tenha tomado conhecimento sobre essas irregularidades. Na condição de ministra-chefe da Casa Civil e 'mãe' do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), todos os principais projetos passavam pelo crivo dela", disse.

O deputado criticou ainda o fato de a presidente ter exonerado apenas integrantes do Partido da República (PR) lotados no Ministério dos Transportes e supostamente envolvidos no esquema, "enquanto há integrantes do PT também com suspeita de envolvimento". Ainda de acordo com Neto, o mesmo aconteceu com o ex-ministro Antonio Palocci, quando da acusação de que ele teve o patrimônio aumentado em 20 vezes entre 2006 e 2010.

"Em suma, a presidente tem dado um tratamento adequado ao PR, mas não ao PT. Quem derrubou Palocci, por exemplo, foi o Congresso e a imprensa porque ela o segurou no governo enquanto pôde", afirmou.

O deputado adiantou que a oposição "ainda não está satisfeita" com o saldo de 15 demissões de envolvidos nas irregularidades nos Transportes e que vai convocar o ministro Paulo Sérgio Passos e demais membros do órgão para prestar esclarecimentos sobre o caso.

Para o deputado, as denúncias de corrupção dentro do governo "enfraqueceram, desgastaram e fragmentaram o governo Dilma neste primeiro semestre, ao passo que a oposição vem conseguindo superar a crise."

Eleições de 2012
ACM Neto falou ainda sobre a tentativa do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM), de regularizar o Partido Social Democrático (PSD), fundado por ele, a tempo de disputar as eleições municipais de 2012, frente às constantes denúncias de que vem sendo alvo.

Segundo ele, o PSD "começou mal" e dificilmente conseguirá disputar as eleições em 2012, "o que, invariavelmente, irá comprometer os planos de Kassab", afirmou. "Se antes eu batizei o PSD de 'Partido Sem Dignidade', digo, agora, que ele é o 'Partido Sem Destino'".

Questionado pelos jornalistas, Neto negou que seja pré-candidato à prefeitura de Salvador para as próximas eleições. "A vontade popular é que está me colocando nessa posição", afirmou, em referência à liderança nas pesquisas de opinião. "Mas minha candidatura irá depender, também, dos rumos políticos", disse, em referência à possível aliança entre DEM, PSDB, PMDB e PR.

O deputado não descartou, ainda, a possibilidade de se lançar à candidatura ao governo da Bahia, em 2014. "Como qualquer outro político tenho um projeto majoritário e esse pode ser 2012 ou 2014", afirmou.

A queda do ministro dos Transportes
Uma reportagem da revista Veja do início de julho afirmou que integrantes do Partido da República teriam montado um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por meio de empreiteiras dentro do Ministério dos Transportes. O negócio renderia à sigla até 5% do valor dos contratos firmados pelo ministério sob a gestão da Valec (estatal do setor ferroviário) e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

O esquema seria comandado pelo secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto. Mesmo sem cargo na estrutura federal, ele lideraria reuniões com empreiteiros e consultorias que participavam de licitações do governo no ramo. Pelo menos dois assessores diretos do então ministro, Alfredo Nascimento (PR), foram afastados dos cargos. Também deixaram suas funções o diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, e o diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves.

O PR emitiu nota negando a participação no suposto esquema e prometendo ingressar com uma medida judicial contra a revista. Nascimento, que também negou as denúncias de conivência com as irregularidades, abriu uma sindicância interna no ministério e pediu que a Controladoria-Geral da República (CGU) fizesse uma auditoria nos contratos em questão. Assim, a CGU iniciou "um trabalho de análise aprofundada e específica em todas as licitações, contratos e execução de obras que deram origem às denúncias".

Apesar do apoio inicial da presidente Dilma Rousseff, que lhe garantiu o cargo desde que ele desse explicações, a pressão sobre Nascimento aumentou após novas denúncias: o Ministério Público investigava o crescimento patrimonial de 86.500% em seis anos do filho do ministro, Gustavo. Diante de mais acusações e da ameaça de instalação de uma CPI, o ministro não resistiu e encaminhou, no dia 6 de julho, seu pedido de demissão à presidente.

AMIGUINHAS


Rubens Valente, Folha de S. Paulo

Amiga do casal de ministros petistas Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), a consultora Teresinha Nerone atuou no governo para obter apoio do Ministério dos Transportes à construção do anel viário de Maringá (PR).

A obra é investigada pelo TCU (Tribunal de Contas da União), que aponta sobrepreço de R$ 10,5 milhões nos pagamentos do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

O diretor-geral do órgão, Luiz Antonio Pagot, envolveu o casal na crise do setor ao dizer a congressistas do PR que "cumpria ordens do Planejamento", chefiado por Bernardo no governo Lula, e que Gleisi era quem acompanhava as obras no Paraná.

Na semana passada, em depoimento ao Senado, ele voltou atrás e negou ter feito ameaças aos petistas.

A empresa de Teresinha é contratada desde 2008 pela Prefeitura de Maringá para "assessoramento na montagem e acompanhamento de processos para a captação de recursos". Indagada pela Folha, a assessoria de imprensa da prefeitura admitiu que os serviços de Teresinha incluíam acompanhar a tramitação do projeto da obra viária do Dnit, além de "financiamentos" no BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] e na Caixa Econômica.

CONVERSAS FIADAS DA DOUTORA DILMA


Elio Gaspari, O Globo

Aqui vai um teste para medir a qualidade do ceticismo das pessoas. Nos últimos dias a patuleia recebeu dois anúncios. Num, soube que, desde segunda-feira, o teleférico do Morro do Alemão passou a funcionar das 7h às 12h.

Noutro, aprendeu que os contratos de obras do programa Minha Casa Minha Vida, na sua segunda fase, serão retomados nas próximas semanas e permitirão a entrega de 300 mil chaves até dezembro.

Quem não desconfiou de nada vive num perigoso estágio de credulidade.

O teleférico do Alemão, com 3,5km, custou R$ 210 milhões e beneficiará 30 mil pessoas. É uma joia do PAC e foi inaugurado pela doutora Dilma no último dia 7, acompanhada pelo governador Sérgio Cabral e pelo prefeito Eduardo Paes.

Houve inauguração, mas não havia serviço. Depois da festa ele passou a funcionar das 9h às 11h e das 14h às 16h. Desde segunda-feira, nem isso, só das 7h às 12h. Do jeito que está, não atende a quem trabalha.

A presidente da República, o governador do Estado do Rio e o prefeito carioca participaram de uma cerimônia de fancaria sabendo que, em novembro, poderiam inaugurar o serviço que fingiram entregar à população.

No segundo caso, o governo anunciou que o Minha Casa Minha Vida, na sua segunda fase, voltará a contratar obras. Voltará, por quê? Porque neste ano as contratações pararam.

O programa foi outra joia da campanha eleitoral de Dilma, a “mãe do PAC”. Até o final de 2010, havia a promessa de construção de um milhão de imóveis. Entregaram 350 mil.

Durante a campanha a doutora prometeu entregar dois milhões de casas até 2014. Passaram-se seis meses e há na Caixa Econômica projetos para a construção de 200 mil residências. O governo anuncia que entregará 300 mil casas até dezembro. A ver.

Tanto os horários do teleférico como o suspiro do Minha Casa Minha Vida podem ser explicados. Um está em fase de teste. O outro ajustou-se a novos valores e métodos. A encrenca não está aí, mas na marquetagem da fantasia.

A mágica ofende primeiro quem acredita no governo. Quanto mais o sujeito crê, mais é feito de bobo.

Numa segunda etapa, dá-se o pior: o governo acredita não só que a choldra é tola, mas se convence das próprias mentiras. Basta perguntar aos 24 ministros da doutora quantos acham que há um serviço de teleférico no Alemão.

terça-feira, 19 de julho de 2011

FRAQUEZA POLÍTICA


Merval Pereira, O Globo

Está ficando claro que a tentativa da presidente Dilma de resolver o caso do Ministério dos Transportes "por dentro", sem romper com o PR, mantendo um ministro, Paulo Sérgio Passos, que faz parte do esquema do partido desde 2004 mas se transformou em seu homem de confiança, não vai dar certo.

O ministério está todo corroído, a cada dia surgem novas denúncias, inclusive envolvendo o próprio ministro atual, numa briga de grupos dentro da estrutura funcional que se assemelha a brigas de gangues por um mercado de falcatruas.

Se a presidente Dilma estivesse mesmo disposta a fazer o que seria uma "limpeza" do setor, teria de fazer uma ação vigorosa, nomeando um interventor com plenos poderes para acabar com a influência do Partido da República.

Só começando tudo de novo haveria condições de sanear esse setor de transportes que, há oito anos nas mãos do PR, se transformou em um antro de ladroagem e incompetência.

Mas os sinais não vão nessa direção, pois no próprio Palácio do Planalto há uma disputa política, com o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, atuando a favor da manutenção de Luiz Antonio Pagot à frente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), defendendo a posição política de Lula, que tem interesse em preservar o PR.

A questão ética mais uma vez perde para a questão política. Mesmo que seja verdadeira a vontade da presidente de livrar-se dessa "herança maldita", ela não tem condições políticas de fazê-lo declaradamente.

Por isso, sua atitude errática. Negar que tenha recebido uma "herança maldita" até é compreensível para a manutenção da relação direta com o ex-presidente Lula, mas anunciar que quer fazer uma limpeza no setor e, ao contrário, deixar que o mesmo partido continue à frente do ministério é demonstração de fraqueza política.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

UM PAGOT NO MEIO DO CAMINHO


de Reinaldo Azevedo

Para usar uma imagem de Ciro Gomes, um aliado do governo Dilma, o Ministério dos Transportes é um “roçado de escândalos”, não é?, e que só faz aumentar. A reação inicialmente enérgica da presidente Dilma Rousseff recuou para uma tentativa de acomodação, que se mostra inútil. As denúncias se avolumam. A situação de Luiz Antonio Pagot, o “demitido” que está de férias, serve de emblema do imbróglio.

Indagada hoje se ele, afinal, perderá o cargo, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), com a firmeza de uma gelatina, afirmou: “Tudo indica que sim, até pelas reiteradas vezes que ela [Dilma Rousseff] tem se comportado dessa forma”. E tentou explicar: “Operacionalmente, com alguém de férias, você não pode tomar essa medida”. A fala está mais para uma anedota. A questão não é “operacional”, mas política. O busílis é outro: Pagot não está disposto a ficar calado.

Afinal, o PT também se aproveitava dos, como chamar?, benefícios auferidos pelo PR no feudo em que havia se transformado o Ministério dos Transportes. Nunca é demais lembrar: patriotas do “Partido da República” dizem a quem quiser ouvir que dinheiro do esquema irrigou a campanha eleitoral de Dilma. E se perguntam, então: “Por que havemos de pagar o pato sozinhos?” É uma questão, não é? O PR está acusando o PT de falta de companheirismo…

Pagot só está em sursis porque o governo não sabe como mantê-lo e ainda não descobriu uma forma segura de demiti-lo.

A questão é mais séria do que parece. Diz respeito ao modo como o PT organizou a sua gigantesca maioria no Congresso. Ninguém foi convidado para um projeto. Para ter a hegemonia no governo e no processo político, os petistas compram apoios com cargos públicos; é coisa bem diferente de fazer uma composição política para implementar um programa. Governar com aliados é prática distinta de fatiar o governo.

Como não há comprometimento de boa parte das legendas com uma agenda, resta o toma-lá-dá-cá: “Tome os meus votos, mas me dê o ministério, a estatal, a autarquia, a superintendência regional de algum órgão…” Considerando que se trata de uma troca, os que assumem devem fidelidade aos comandantes partidários, não necessariamente à Presidência da República — tampouco ao país. É assim só com o PR? É claro que não!

O PT, no entanto, nessa e em outras pastas, jamais abriu mão de nomear os seus próprios quadros, numa espécie de trabalho de acompanhamento e vigilância. Em nome da qualidade do serviço e da retidão? Não! Busca garantir o seu próprio naco e é beneficiário do “roçado de escândalos” como qualquer outra legenda.

Não são apenas os valentes do “PR” que estão preocupados com o desdobramento do caso. Todas as legendas se sentem mais ou menos ameaçadas. Afinal, o que está em questionamento é uma forma de exercer o poder. A esta altura, as legendas da base refletem: “Se não pudermos cuidar de nosso próprio caixa e dispor do dinheiro público segundo os nossos interesses, ser governista pra quê? Afinal, a gente não gosta do governo Dilma, mas do prazer que ele proporciona…”

O governo torce desesperadamente para que cessem as evidências de corrupção, o que facilitaria uma reacomodação da base, mas está difícil. Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), faltam apenas quatro assinaturas para que se apresente o requerimento de uma CPI. Há pessoas decentes em quase todos os partidos, e não é impossível chegar a esse número. Petistas e peemedebistas sabem como tornar CPIs inoperantes, mas sempre é um trabalho desgastante.

Para encerrar: não me venham com essa história de que a pobre Dilma herdou uma estrutura viciada de seu antecessor. Que a herança é maldita e corrupta, isso depõem os fatos. Se a presidente se acha uma flor da moralidade, é preciso considerar o pântano em que veio à luz, para lembrar Machado. Dilma é governo de continuidade e não cansa de exaltar a “herança bendita” de seu antecessor, certo?

Há um Pagot no meio do caminho. O que dar em troca do seu silêncio? Se a simples ameaça paralisa o governo, a gente imagina o que sobreviria caso botasse a boca no trombone. Ninguém no Ministério Público teve a idéia de lhe propor a delação premiada?

O MESMO FILME SURRADO


de Elio Gaspari, O Globo

O primeiro grande escândalo do governo Lula estourou em fevereiro de 2004, 13 meses depois de sua posse. Custou o cargo a Waldomiro Diniz, subchefe da Casa Civil de José Dirceu. Ele fora filmado num achaque ao tempo em que dirigia as loterias do Rio de Janeiro.

Até o dia em que deixou o Planalto, em janeiro passado, Nosso Guia foi perseguido por escândalos que se sucederam em intervalos regulares.

O governo Dilma Rousseff foi mais veloz. Seu primeiro escândalo estourou cinco meses depois da posse e custou o cargo ao chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Um mês depois, Dilma perdeu o ministro dos Transportes e o diretor do Departamento de Infraestrutura e Transportes, o Dnit. (Em julho de 2003, quando Lula tinha sete meses de Palácio, o mesmo Dnit deu-lhe uma pequena crise, com o ex-diretor financeiro acusando o ministro Anderson Adauto de favorecer a empreiteira Queiroz Galvão e sendo acusado de embolsar propinas.)

Deixando-se de lado o varejão da roubalheira, onde ficam contratos de serviços, de publicidade, ou despesas com cartões de crédito, mordomias e viagens, a crônica de nove anos incompletos de governo petista revela que há nele uma engrenagem blindada, metódica e articulada de corrupção.

Não há novos escândalos, há apenas novas erupções, beneficiadas por uma rotina em que uma crise só se exaure quando é substituída por outra, na qual estão personagens que passaram despercebidos na anterior.

O centro dessa rede fica no Palácio do Planalto, ora na Casa Civil, ora na coordenação política, e sempre na coleta e repasse de doações. Quando Waldomiro Diniz foi apanhado, pouca gente sabia quem era Delúbio Soares. (Em janeiro de 2003, o tesoureiro do PT organizou uma festa numa fazenda de Buriti Alegre. Entre os convidados estava o deputado Valdemar Costa Neto, do PTB, atual marquês do Ministério dos Transportes.)

Desde fevereiro de 2004 sabia-se que Delúbio pagava mesadas a deputados do PTB. Entre a crise de Waldomiro Diniz e a seguinte, com o vídeo de um pagamento de propina a um diretor dos Correios passaram-se 15 meses.

Bastaram mais quatro meses para que daí surgisse a palavra que mudaria a História do PT e do comissário José Dirceu: “mensalão”.

O novo escândalo expôs o loteamento, pelo Planalto, de cargos nos Correios, Banco do Brasil, Instituto de Resseguros do Brasil e Furnas, bem como a manipulação, pela Casa Civil, dos fundos de pensão de estatais.

Nos governos anteriores aconteceram episódios semelhantes, mas não tiveram a articulação e a blindagem conquistadas pelo comissariado. Trinta e dois parlamentares acusados de terem participado do “mensalão” e de roubalheiras nas verbas da saúde tiveram um crescimento patrimonial de 32% entre 2002 e 2006.

O “mensalão” ainda não saíra no noticiário quando puxaram-se as pontas da administração do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na prefeitura de Ribeirão Preto. Era mais do mesmo.

Negociando contratos de loterias na Caixa Econômica, Waldomiro Diniz propusera a empresários o serviço da consultoria de Rogério Buratti, ex-secretário de governo de Ribeirão, ex-sócio do chefe de gabinete do ministro da Fazenda.

Incriminado por Buratti, Palocci agonizou durante um ano. Trazido de volta ao Planalto por Dilma, aguentou 23 dias de crise e saiu de cena sem contar quem eram os clientes que o tornaram milionário.

Burattis, Waldomiros, Delúbios, Erenices e até mesmo Pagots foram peças acessórias de uma máquina. Isso pode ser entendido quando se vê como saíram de cena.

Delúbio, reintegrado recentemente à família petista, ensinou: “Faz parte da minha integridade não delatar ninguém”. Na semana passada, o doutor Luiz Antonio Pagot fechou suas oito horas de silencioso depoimento com uma frase: “Sou um leal companheiro”.

O escandaloso enriquecimento de Palocci foi substituído pelas propinas do Ministério dos Transportes. Como acontece desde o caso de Waldomiro Diniz, será esquecido, diante do próximo.

domingo, 17 de julho de 2011

UMA PRESIDENTE CONVERSA FIADA


de José Roberto Guzzo

Uma das principais dificuldades do governo Dilma Rousseff, pelo que foi possível perceber nestes primeiros seis meses, é que a presidente da República vive brava. Diante de todo e qualquer problema que aparece, o noticiário diz sempre a mesma coisa: Dilma ficou brava, ou muito brava. Está irritada. Ou está impaciente. Ou não gostou. Ou passou uma descompostura geral à sua volta. Ou deixou de castigo os doutores fulano, beltrano e sicrano, e por aí se vai. E quanto ao problema real que causou esse mau humor todo ─ ficou bem resolvido? Não vai acontecer de novo? Alguma coisa melhorou? Nada disso; fica tudo igual e, às vezes, pior. A presidente acha que está, com os seus pitos, corrigindo os erros cometidos e mostrando que tem braço firme para governar. Na prática, o que está fazendo é outra coisa. Está confundindo cara feia com autoridade; é o governo através da bronca. Talvez seja bom para a máquina de propaganda do Palácio do Planalto, que pode vender a imagem de uma presidente capaz de botar na linha qualquer peixe graúdo que lhe apareça pela frente, que age rápido e não tolera serviço mal feito. Mas na prática, até agora, a qualidade de seu governo não melhorou nada com isso, pois Dilma não muda, e talvez nem possa mudar aquilo que realmente está criando os problemas. É trovoada que vai embora e não traz um pingo de chuva.

O que está criando os problemas é o avanço cada vez mais rápido da privatização do estado brasileiro ─ ou, em linguagem mais direta, a utilização da máquina do governo em benefício de interesses privados e a transferência de renda pública para bolsos particulares. É história que está aí há muito tempo, mas que atravessa, na atual administração, fronteiras nunca atingidas antes neste país. Os exemplos são constantes, custam caro e acontecem praticamente à vista de todos. Basta olhar, para começo de conversa, as empreiteras de obras públicas ─ jamais mandaram tanto no governo como agora. Decidem preços, falsificam licitações, alteram contratos, ignoram prazos e dão ordens nos ministérios. O empresário Abílio Diniz se comportava até outro dia como presidente do BNDES, que se dispunha a lhe oferecer mais de 4 bilhões de reais para a realização de um negócio de seu interesse pessoal no Grupo Pão de Açúcar; o projeto acabou em naufrágio, mas deixou claro como empresários amigos do governo se sentem à vontade diante do patrimônio público. O notório deputado Valdemar Costa Neto, dono de um dos mais extensos prontuários da política brasileira, despachava até outro dia dentro do Ministério dos Transportes, foco do último escândalo classe “A” da administração federal. Amigos, aliados e parceiros do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não tem cargo oficial nenhum e teoricamente é um cidadão particular, circulam nos ministérios, empresas estatais e outros órgãos públicos como se estivessem em casa. Jatinhos de magnatas que têm negócios pendentes com o governo são hoje o meio de transporte regular de Lula e da companheirada.

Enquanto as coisas forem assim, e elas são cada vez mais assim, não adianta nada a presidente ficar brava. A braveza de Dilma pode assustar os subordinados mais inseguros, mas não causa a menor impressão em profissionais calejados como o deputado Costa Neto ─ podem até trocar de sala, mas não mudam de atividade. O desfecho da mais recente calamidade fornecida pelo Ministério dos Transportes, onde reportagens de VEJA flagraram práticas grosseiras de corrupção, é um excelente exemplo disso. O ministro Alfredo Nascimento, depois de receber a “confiança” de Dilma, acabou sendo colocado na rua junto com os burocratões mais vistosos do seu entorno. Mas para o seu lugar foi nomeado o número 2 do ministério, que está lá há anos; a menos que não comparecesse ao local de trabalho, viveu esse tempo todo no meio da ventania.

Qual é a mudança, então? O PR, grupo que foi presenteado com o Ministério dos Transportes pelo presidente Lula, não vai largar o osso; a “base aliada” e as gangues partidárias que mandam em Brasília não vão mudar de conduta. Alteração, mesmo, só continua acontecendo com o PT, em consequência de sua caminhada ao lado de gigantes da política brasileira como o PR e bandos semelhantes. O partido-farol das massas populares, em algum momento dessa viagem que já dura mais de oito anos, acabou trocando de lado. Na pose e no palavrório, ainda se apresenta como a vanguarda das forças do bem. Na vida real, fica cada vez mais parecido com o deputado Costa Neto.

A DISCRETAS FILHAS DE ITAMAR


de Fernando Molica

Com a morte de Itamar Franco, os brasileiros, enfim, puderam conhecer as filhas do ex-presidente. Exemplos raros de discrição, Juliana e Georgiana mantiveram-se longe dos flashes durante todo o período em que Itamar exerceu a Presidência. Elas só mostrariam seus rostos no velório do pai. Vale lembrar: os anos que antecederam à posse de Itamar foram marcados pelo exibicionismo do então presidente Fernando Collor, de seus parentes e amigos. Especialista na criação de fatos que gerassem notícias fúteis, Collor transformou em ritual suas corridas dominicais, adorava se mostrar pilotando jet-skis, chegou a pegar carona num caça da FAB.

A ânsia pela exibição marcava aquele grupo de deslumbrados com o poder e com suas aparências e oportunidades. Na chamada República de Alagoas, referência à origem política do presidente, mesmo a separação de Collor precisava ser alardeada. Numa solenidade pública, ele fez questão de mostrar a ausência da aliança em sua mão. Expulso da Presidência após o impeachment, Collor soube transformar em espetáculo até sua saída do Palácio do Planalto.

Em meio à tamanha exposição, jornais, revistas e TVs se assanharam com a ascensão de um novo presidente. Divorciado, era pai de duas jovens — tinham em torno de 20 anos. Nós, jornalistas, queríamos entrevistá-las, fotografá-las, transformá-las em celebridades. Publicações especializadas se excitavam diante de futuras capas, de reportagens que revelariam namoros, separações e escândalos. Uma das filhas do presidente haveria de ser vista com algum ator, que logo seria trocado pelo herdeiro de um empresário. A outra, quem sabe?, se envolveria com um jogador de futebol e acabaria flagrada em poses comprometedoras num baile funk ou numa boite depois de algumas doses a mais. Seria inevitável que uma das duas demonstrasse arrogância, um sabe-com-quem-você-está-falando, diante de um policial.

As expectativas foram frustradas. Até hoje ignoramos quem elas namoraram, com quem se casaram, se é que são casadas. Juliana e Georgiana não protagonizaram escândalos, não usaram o nome do pai. Pelo que se sabe, não levaram amigos para passear em avião da FAB, não receberam passaporte diplomático, não ganharam empregos públicos, não montaram consultorias nem frequentaram festas de empresários. Um comportamento que, pela correção, se destaca em nosso universo político. Solidário, o País agradece.

sábado, 16 de julho de 2011

QUANTO MAIS MEXE, MAIS FEDE


Claudio Dantas Sequeira e Lúcio Vaz, ISTOÉ

Sua escolha foi uma cartada da presidente Dilma Rousseff para moralizar o setor de Transportes, alvo de uma enxurrada de denúncias nas últimas semanas. Mas, ao contrário do que se esperava no Palácio do Planalto, o novo ministro Paulo Sérgio Passos assume o órgão já rodeado de questões polêmicas.

Quando exerceu o cargo interinamente no ano passado, para que Alfredo Nascimento fizesse campanha ao governo do Amazonas, Passos liberou um total de R$ 78 milhões em créditos suplementares para três grandes obras. Os empreendimentos constavam da lista de irregularidades graves do Tribunal de Contas da União, que identificou pagamentos antecipados, ausência de projeto executivo, fiscalização omissa e, é claro, superfaturamento.

Em vez de optar pela prudência, o ministro interino assumiu o risco de autorizar os repasses contra todas as determinações do órgão de controle. O caso poderia se resumir a um mero problema de gestão, mas, conforme apurou ISTOÉ, várias das empreiteiras beneficiadas pelos aportes extraordinários doaram milhões a candidatos do próprio PR durante a campanha eleitoral.

A campeã em doações foi a construtora Sanches Tripoloni, que repassou nada menos que R$ 2,5 milhões para o partido que controla os Transportes. Desse total, R$ 500 mil caíram diretamente na conta do comitê de Blairo Maggi, eleito senador por Mato Grosso e cotado para a pasta.

Maggi foi beneficiado duplamente, pois Sinval Barbosa (PMDB), seu candidato ao governo de Mato Grosso, recebeu da mesma empreiteira mais R$ 1,2 milhão. As novas suspeitas de uso da máquina pública em benefício do Partido da República podem complicar a vida do recém-nomeado ministro.

Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), os fartos indícios de corrupção e uso da máquina reforçam a necessidade de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. “Essa conduta do Sérgio Passos é temerária, caracteriza o uso político-partidário dos Transportes. ”, afirma Rodrigues.

O PR também foi agraciado com a generosidade das construtoras Egesa e CMT Engenharia, parceiras da Tripoloni no consórcio responsável pela implantação e pavimentação da BR-265, em um trecho entre as divisas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Nessa obra o TCU identificou sobrepreço, problemas fundiários e de segurança. Mesmo com recomendação de paralisação, Passos liberou R$ 40 milhões, a maior parte do crédito extraordinário. Meses depois, a Egesa Engenharia S/A, sozinha, doou R$ 850 mil para oito candidatos do partido.

O deputado federal Aracely de Paula (MG) recebeu R$ 200 mil, Sandro Mabel (GO) levou R$ 100 mil, assim como José Henrique de Oliveira (AM) e Aelton José de Freitas (MG). O ex-líder do PR, Luciano Castro (RR), outro nome que chegou a ser cotado para substituir Alfredo Nascimento, recebeu R$ 50 mil da Egesa e mais R$ 200 mil da CMT Engenharia.

Já o consórcio das empreiteiras Carioca Engenharia, Serveng e SA Paulista, que recebeu R$ 20 milhões em créditos extras para a ampliação e reforma da BR-101 em um trecho na região metropolitana do Rio, repassou oficialmente para as contas do PR outros R$ 800 mil.

Desse valor, R$ 400 mil saíram da Serveng diretamente para a campanha de reeleição do senador Magno Malta (ES), que tem o irmão Maurício Pereira Malta acomodado no quarto andar do Dnit na assessoria parlamentar. A construtora SA Paulista injetou mais R$ 100 mil no comitê eleitoral de Malta. O deputado federal Edson Giroto, outro nome cotado para os Transportes, também recebeu R$ 100 mil da Serveng.

"INVESTIR EM EDUCAÇÃO É CONTRA A LEI"


de Silvino Geremia, empresário em São Leopoldo, Estado do Rio Grande do Sul.

Eis o seu desabafo, publicado na revista EXAME:

"Acabo de descobrir mais um desses absurdos que só servem para atrasar a vida das pessoas que tocam e fazem este país: investir em Educação é contra a lei .

Vocês não acreditam?

Minha empresa, a Geremia, tem 25 anos e fabrica equipamentos para extração de petróleo, um ramo que exige tecnologia de ponta e muita pesquisa.

Disputamos cada pedacinho do mercado com países fortes, como os Estados Unidos e o Canadá.

Só dá para ser competitivo se eu tiver pessoas qualificadas trabalhando comigo.

Com essa preocupação criei, em 1988, um programa que custeia a educação em todos os níveis para qualquer funcionário, seja ele um varredor ou um técnico.

Este ano, um fiscal do INSS visitou a nossa empresa e entendeu que Educação é Salário Indireto.

Exigiu o recolhimento da contribuição social sobre os valores que pagamos aos estabelecimentos de ensino freqüentados por nossos funcionários, acrescidos de juros de mora e multa pelo não recolhimento ao INSS.

Tenho que pagar 26 mil reais à Previdência por promover a educação dos meus funcionários?

Eu honestamente acho que não.

Por isso recorri à Justiça.

Não é pelo valor em si , é porque acho essa tributação um atentado.

Estou revoltado.

Vou continuar não recolhendo um centavo ao INSS, mesmo que eu seja multado 1000 vezes.

O Estado brasileiro está completamente falido.

Mais da metade das crianças que iniciam a 1ª série não conclui o ciclo básico.

A Constituição diz que educação é direito do cidadão e um dever do Estado.

E quem é o Estado?

Somos todos nós.

Se a União não tem recursos e eu tenho, acho que devo pagar a escola dos meus funcionários.

Tudo bem, não estou cobrando nada do Estado.

Mas também não aceito que o Estado me penalize por fazer o que ele não faz.

Se essa moda pega, empresas que proporcionam cada vez mais benefícios vão recuar..

Não temos mais tempo a perder.

As leis retrógradas, ultrapassadas e em total descompasso com a realidade devem ser revogadas.

A legislação e a mentalidade dos nossos homens públicos devem adequar-se aos novos tempos.

Por favor, deixem quem está fazendo alguma coisa trabalhar em paz.

E vão cobrar de quem desvia dinheiro, de quem sonega impostos, de quem rouba a Previdência, de quem contrata mão-de-obra fria, sem registro algum.

Eu Sou filho de família pobre, de pequenos agricultores, e não tive muito estudo.

Somente consequi completar o 1º grau aos 22 anos e, com dinheiro ganho no meu primeiro emprego, numa indústria de Bento Gonçalves, na serra gaúcha, paguei uma escola técnica de eletromecânica.

Cheguei a fazer vestibular e entrar na faculdade, mas nunca terminei o curso de Engenharia Mecânica por falta de tempo.

Eu precisava fazer minha empresa crescer.

Até hoje me emociono quando vejo alguém se formar.

Quis fazer com meus empregados o que gostaria que tivessem feito comigo.

A cada ano cresce o valor que invisto em educação porque muitos funcionários já estão chegando à Universidade.

O fiscal do INSS acredita que estou sujeito a ações judiciais.

Segundo ele, algum empregado que não receba os valores para educação poderá reclamar uma equiparação salarial com o colega que recebe.

Nunca, desde que existe o programa, um funcionário meu entrou na Justiça.

Todos sabem que estudar é uma opção daqueles que têm vontade de crescer...

E quem tem esse sonho pode realizá-lo porque a empresa oferece essa oportunidade.

O empregado pode estudar o que quiser, mesmo que seja Filosofia, que não teria qualquer aproveitamento prático na nossa Empresa Geremia.

No mínimo, ele trabalhará mais feliz.

Meu sonho de consumo sempre foi uma Mercedes-Benz.

Adiei sua realização várias vezes porque, como cidadão consciente do meu dever social, quis usar meu dinheiro para fazer alguma coisa pelos meus 280 empregados.

Com os valores que gastei no ano passado na educação deles, eu poderia ter comprado Duas Mercedes.

Teria mandado dinheiro para fora do País e não estaria me incomodando com essas leis absurdas .

Mas infelizmente não consigo fazer isso.

Eu sou um teimoso.

No momento em que o modelo de Estado que faz tudo está sendo questionado, cabe uma outra pergunta.

Quem vai fazer no seu lugar?

Até agora, tem sido a iniciativa privada.

Não conheço, felizmente, muitas empresas que tenham recebido o mesmo tratamento que a Geremia recebeu da Previdência por fazer o que é dever do Estado.

As que foram punidas preferiram se calar e, simplesmente, abandonar seus programas educacionais.

Com esse alerta temo desestimular os que ainda não pagam os estudos de seus funcionários.

Não é o meu objetivo.

Eu, pelo menos, continuarei ousando ser empresário, a despeito de eventuais crises, e não vou parar de investir no meu patrimônio mais precioso:

as pessoas.

Eu sou mesmo teimoso!...

Não tem jeito...
No futebol, o Brasil ficou entre os 8 melhores do mundo e todos estão tristes.
Na educação é o 85º e ninguém reclama..."

sexta-feira, 15 de julho de 2011

TUDO EM CASA


Leandro Cólon, O Estado de S.Paulo

A Construtora Araújo Ltda, da mulher de José Henrique Sadok de Sá, diretor executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), assinou contratos que somam pelo menos R$ 18 milhões para tocar obras em rodovias federais entre 2006 e 2011, todas vinculadas a convênios com o órgão.

Sadok hoje acumula o cargo de diretor-geral interino do Dnit em substituição a Luiz Antônio Pagot, que tirou férias após ameaça de ser demitido em meio ao escândalo de corrupção no Ministério dos Transportes.

A mulher de Sadok, Ana Paula Batista Araújo, é dona da Construtora Araújo, contratada para cuidar de obras nas rodovias BR-174, BR-432 e BR-433, todas em Roraima e ligadas a convênios com o Dnit, principal órgão executor do Ministério dos Transportes.

A aplicação de aditivos, que aumentam prazos e valores, ocorreu em todos os contratos. Sadok trabalhou em Roraima em 2001, no antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), como diretor de obras.

Em entrevista ontem ao Estado, Sadok de Sá, contou que conhece a empresária desde 2001 e vive com ela há pelo menos quatro anos. "É minha mulher", disse.

Ele alegou que, apesar de serem obras vinculadas a convênios com o Dnit, os contratos são assinados com o governo de Roraima por licitações. "Nunca me meti na empresa dela. O contrato do Dnit é com o Estado. O Estado pega e licita as obras", disse.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O LABIRINTO


de Augusto Nunes

Luiz Antônio Pagot é uma bomba com alto poder destrutivo, comprovou o artigo do jornalista Ricardo Noblat publicado na seção Feira Livre.

O detonador não foi acionado durante o depoimento no Senado nesta terça-feira. Mas o petardo não foi desativado, avisam os recados em código embutidos no falatório de cinco horas. Demitido há 10 dias pelo então ministro Alfredo Nascimento, por ordem da presidente Dilma Rousseff, Pagot lembrou mais de uma vez que continua na direção geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.

Em vez de esvaziar o gabinete, resolveu desafiar a chefe de governo com a ideia de sair de férias.

“Se nada for provado contra ele durante as férias, acho que a presidente deveria mantê-lo no cargo”, emendou o senador Blairo Maggi, que apadrinhou a nomeação de Pagot para o comando do DNIT. Dilma já bateu em retirada ao aceitar que o PR seguisse controlando o Ministério dos Transportes.

Se ceder à chantagem, revogar uma decisão irrevogável e devolver ao empregão o vigarista atrevido, terá renunciado no sétimo mês do mandato ao exercício efetivo da chefia de governo. Se resistir aos chantagistas e consumar a demissão do pecador, poderá precipitar a detonação da bomba suficientemente poderosa para reeditar o escândalo do mensalão.

Os quadrilheiros do PR não são as únicas criaturas do pântano que começa no Ministério dos Transportes e pode terminar no caixa da campanha presidencial de 2010. Nele também chafurdam figurões de partidos alugados, Altos Companheiros do PT, cardeais do Congresso e ministros de Estado.

Por conhecer as abjeções com as quais divide o vasto território, por saber quem são e o que fizeram, Pagot pode acabar escancarando o mensalão de Dilma. A reedição mal paginada de Roberto Jefferson talvez seja menos letal que a matriz. Mas a sucessora é muito mais frágil que Lula.

Ambas de altíssimo risco, as opções oferecidas atestam que Dilma foi confrontada mais cedo do que se imaginava com o monstro gerado por oito anos de patifarias toleradas ou estimuladas pelo governo. Primeiro como ministra, depois como principal parceira de Lula na construção do Brasil Maravilha, ajudou a institucionalizar a impunidade dos bandidos de estimação ─ muitas vezes como cúmplice, outras tantas como protagonista.

Quem se mete com uma Erenice Guerra, por exemplo, não escapa da péssima companhia sem pecados a omitir, sem cadáveres trancados no armário. Acuados, os integrantes de alianças forjada no esgoto da política brasileira se lembrarão subitamente da fábrica de dossiês, da conversa com Lina Vieira, das bandalheiras promovidas por Erenice e seus filhotes.

Dilma é prisioneira de aliados fora-da-lei e do próprio passado. O Brasil é governado por uma presidente em seu labirinto.

"DILMA SABIA DE TUDO", DISSE PAGOT


Em depoimento na Câmara dos Deputados, o diretor afastado do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antonio Pagot, atualmente em férias do cargo, afirmou que a presidente Dilma Rousseff "sabia de tudo" sobre as obras do PAC 1 (Programa de Aceleração do Crescimento).

Segundo ele, Dilma acompanhava diretamente as obras antes de se eleger para a Presidência da República, quando era ministra da Casa Civil.

Pagot citou ainda a ministra Miriam Belchior (Planejamento) como outra pessoa do governo que acompanhou os investimentos do Ministério dos Transportes e Dnit em obras do PAC.

Ele explicou que, após se afastar para fazer o tratamento contra o câncer, Dilma voltou e passou a acompanhar o andamento das obras apenas por relatórios. Aí, diz ele, ela recebeu um susto com os valores das obras do PAC 2.

"Tenho certeza absoluta que ela sabia de tudo. Depois passou período convalescendo, voltou e quem continuava no comitê gestor era a ministra Miriam Belchior. Quando a Dilma foi candidata, quem tocou foi a Belchior. Então ela estava informada até o início da campanha, quando volta para o governo recebe relatórios. É obvio que do lote de obras do PAC 1 não tenho a menor duvida de que ela tinha conhecimento, agora do PAC 2 ela recebeu a informação no dia 24. Foi aí que ela tomou um susto. Tanto que nos deu até o dia 15 de julho para tomar providências", contou.

UM GOVERNO ENTALADO


Rolf Kuntz – O Estado de S.Paulo

O governo promete para breve uma política de competitividade, para fortalecer a produção nacional e favorecer a criação de empregos. A presidente Dilma Rousseff poderia ter adiantado o serviço se houvesse promovido uma reforma completa no Ministério dos Transportes. Nenhum país pode ser competitivo com estradas, ferrovias e pontes como as do Brasil. Mas ela preferiu manter o assunto sob controle do PR e de seu líder de fato, o deputado Valdemar Costa Neto, réu no processo do mensalão. A presidente, segundo se diz em Brasília, escolheu o novo ministro, Paulo Sérgio Passos, contra a vontade do partido. Pode ser, mas o escolhido, seja como for, pertence aos quadros partidários. Para os otimistas, a demissão do ministro Alfredo Nascimento, na semana passada, foi um passo para a construção de um novo governo, moldado segundo os propósitos da atual presidente. Mas falta saber se ela tem mesmo objetivos próprios e ambição maior que a de tomar conta, durante quatro anos, da cadeira presidencial.

Para comprovar essa pretensão a presidente Dilma Rousseff teria de ir muito além do projeto de poder – o único elaborado e executado por seu partido – e criar um projeto de governo. Na economia, o objetivo central, síntese de todos os demais, é obviamente a competitividade, condição para o crescimento econômico, a segurança das contas externas, a criação de empregos e a elevação dos padrões de consumo. Uma política com esse objetivo deve incluir programas de ciência e tecnologia, esforços para elevação da poupança e do investimento e um enorme empenho na formação de recursos humanos. Tudo isso requer novos critérios de política fiscal e tributária e padrões muito mais eficientes de gestão pública.

Até agora, o governo da presidente Dilma Rousseff foi incapaz de implantar novidades importantes em qualquer dessas áreas. Os ministros do Desenvolvimento e da Fazenda vêm há meses prometendo uma política de competitividade. Ninguém explicou, ainda, como será, por exemplo, a desoneração das folhas de pagamento, nem esclareceu como o governo tentará compensar essa “renúncia fiscal”. As possibilidades de uma reforma tributária ampla e modernizadora permanecem remotas e dependentes de negociações difíceis com Estados e municípios.

Falta um líder, no governo, para comandar uma discussão séria e produtiva sobre a reforma. Também falta articulação entre os Ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda. Sobra desacordo quanto a objetivos e custos fiscais. Isso emperra, entre outras ações, a definição de critérios para depreciação acelerada. A presidente Dilma Rousseff, tudo indica, só acompanha de longe o debate, em vez de orientá-lo.

A sujeição aos esquemas e compromissos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva restringem claramente suas iniciativas. O ministro dos Esportes, Orlando Silva, permanece no posto, embora se tenha mostrado incapaz, até agora, de coordenar os investimentos necessários para a Copa de 2014. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mantém a política autoritária e custosa de criação de “campeões nacionais”. Só recuou do envolvimento na fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour porque a imprensa mostrou os perigos dessa iniciativa estapafúrdia. Mas nenhuma ordem foi dada para o abandono da estratégia implantada no governo anterior. Com isso se preserva uma orientação incompatível com uma política séria de competitividade.

A presidente mostra sua fidelidade aos esquemas políticos de seu antecessor também ao preservar o ministro da Educação, Fernando Haddad, apesar das muitas trapalhadas de seu Ministério. Mais que isso: a política educacional foi por ela classificada como “herança bendita”. Com essa atitude a presidente apoia o candidato de Lula à Prefeitura de São Paulo, mas deixa desprotegida uma área fundamental para o poder de competição.

O governo tem alardeado a melhora de desempenho brasileiro no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês). Grande melhora: no exame de 2009, o Brasil ficou em 53.º lugar em leitura, num conjunto de 65 participantes. Em todos os testes o País ficou muito abaixo da média internacional. Nenhuma surpresa, Afinal, as prioridades do presidente Lula foram as ações demagógicas na política universitária, como se as vagas criadas ampliassem de fato as oportunidades de emprego e tornassem o Brasil mais eficiente. Enquanto isso, os grandes gargalos eram mantidos, com metade dos adolescentes entre 15 e 17 anos fora do ensino médio e enormes contingentes sem base para receber treinamento no trabalho. Mantida essa orientação, é ridículo falar de competitividade. Ou a presidente constrói seu governo ou cuida dos interesses políticos de seu padrinho Lula.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

BRASILEIROS NÃO REAGEM


de Juan Arias

O fato de que em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha tido que afastar dois ministros importantes, herdados do gabinete de seu antecessor Luiz lnácio Lula da Silva (o da Casa Civil da Previdência, Antonio Palocci – uma espécie de primeiro-ministro - e dos Transportes, Alfredo Nascimento),ambos caídos sob os escombros da, corrupção política, tem feito sociólogos se perguntarem por que neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos chegou a criar uma verdadeira cultura de que "todos são ladrões" e que “ninguém vai para a prisão", não existe o fenômeno, hoje em moda no mundo, do movimento dos indignados.

Será que os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e a falta de ética de muitos dos que os governam? Não lhes importa que tantos políticos que os representam no governo, no Congresso, nos estados ou nos municípios sejam descarados salteadores do erário público? É o que se perguntam não poucos analistas e blogueiros políticos.

Nem sequer os jovens trabalhadores ou estudantes, manifestaram até agora a mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam.

Curiosamente, a mais irritada diante do saque às arcas d Estado parece ser a presidente Rousseff, que tem mostrado publicamente seu desgosto pelo “descontrole” atual em áreas do seu governo e tirou literalmente – diz-se que a purga ainda não acabou – dois ministros-chave, com o agravante de que eram herdados do seu antecessor, o popular ex-presidente Lula, que teria pedido que os mantivesse no seu governo.

A imprensa brasileira sugere que Rousseff começou - e o preço que terá que pagar será elevado - a se desfazer de uma certa "herança maldita" de hábitos de corrupção que vem do passado. E as pessoas das ruas, por que não fazem eco ressuscitando também aqui o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais?

O Brasil, que, motivado pela chamada marcha das Diretas Já (uma campanha política levada a cabo durante os anos 1984 e 1985, na qual se reivindicava o direito de eleger o presidente dos pais pelo voto direto), se lançou nas ruas contra a ditadura militar para pedir
eleições,símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a deixar a Presidência da Republica,por causa das acusações de corrupção que pesavam sobre ele,hoje esta mudo ante a corrupção.

As únicas causas capazes de levar as ruas até dois milhões de pessoas são a dos homossexuais, a dos seguidores das igrejas evangélicas na celebração a Jesus e a dos que pedem a liberalização da maconha.

Será que o jovem, especialmente, não tem motivos para exigir um Brasil não só mais rico a cada dia ou, pelo menos, menos pobre, mais desenvolvido, com maior força internacional, mas também um Brasil menos corrupto em suas esferas política, mais justa, menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um professor e um deputado cem vezes mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650 reais (300 euros) e um funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros).

O Brasil será em breve a sexta potência econômica do mundo, mas segue atrás na desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde a mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas de cor é de até 20%, frente a 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais matam o mundo.

Há quem atribua a apatia dos jovens em ser protagonistas de uma renovação ética no país ao fato de que uma propaganda bem articulada os teria convencido de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo, e o é em outros aspectos. E que a retirada da pobreza de 30 milhões de cidadãos lhes teria feito acreditar que tudo vai bem, sem entender que um cidadão de classe média européia equivale ainda hoje a um brasileiro rico.

Outros atribuem o fato à tese de que os brasileiros são gente pacífica, pouco dada aos protestos, que gostam de viver felizes com o muito ou o pouco que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar.

Tudo isso também e certo, mas não explica que num mundo globalizado - onde hoje se conhece instantaneamente tudo o que ocorre no planeta, começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada - os brasileiros não lutem para que o país, além de enriquecer, seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.

Este Brasil, com o qual os honestos sonham deixar como herança a seus filhos e que – também é certo - e ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que possui, seria um lugar ainda melhor se surgisse um movimento de indignados capaz de Iimpá-Io das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder.

JUAN ARIAS e correspondente do jornal "El País", de Madri, no Rio de Janeiro. © El País

DESCONFIANÇAS INTERNAS


A decisão da presidente Dilma de impor um ministro dos Transportes ao PR está sendo vista como um rompimento. Na defensiva, o partido não tem como reagir. Seus dirigentes ainda trabalham para recompor a relação política e esperam ser ouvidos quando for nomeado o novo diretor do Dnit.

Um líder governista, apreensivo, disse ontem que a presidente Dilma está queimando parte da gordura que recebeu do ex-presidente Lula.

A insatisfação na base aliada não está restrita ao PR. Depois que a presidente Dilma afastou o ministro Alfredo Nascimento após uma acusação contra ele, todo mundo acha que pode ser o próximo. Floresce o clima de desconfiança.

Horas depois de ser atropelada por Dilma Rousseff na definição do novo ministro dos Transportes, ala significativa do PR se reuniu no apartamento de Valdemar Costa Neto para avaliar os "estragos".

O ex-ministro Alfredo Nascimento reclamou de ter sido rifado pelo Planalto e deixou ameaças no ar caso continue a ser "demonizado". Segundo relatos, negados pela assessoria de imprensa do PR, Nascimento disse: "Eles estão pensando que o Pagot sabe das coisas? Quem sabe tudo daquele ministério sou eu"!

Já Costa Neto, na alça de mira do Planalto, teria sido lacônico e enigmático. Como ao dizer que "coisas acontecem hoje", mas "acontecem amanhã também".

O desfecho das turbulências nos Transportes causou estragos nas relações internas do PR. Deputados chamam senadores da sigla de "entreguistas".

terça-feira, 12 de julho de 2011

APERTEM OS CINTOS!


de augusto Nunes

No começo de 2008, quando apitou pela primeira vez numa das curvas especialmente sinuosas do PAC, o trem-bala custaria R$ 20 bilhões, seria licitado em 2009 e começaria a circular em 2014. Em julho de 2010, o presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff avisaram que o preço havia subido para R$ 33 bilhões e a inauguração fora transferida para 2016. Foi assim que o trem-bala brasileiro se transformou no primeiro da história que, ainda na fase do edital, ficou 50% mais caro e dois anos mais demorado.

Vai custar muito mais tempo e muito mais dinheiro, informou nesta segunda-feira o fiasco do terceiro leilão promovido para atrair interessados na construção do colosso. Não apareceu nenhum. Talvez apareça algum se o governo decidir desperdiçar mais R$ 20 bilhões na aventura. Nos cálculos das empresas sondadas pelo Planalto, a gastança não sai por menos de R$ 53 bilhões.

Em vez de aproveitar a chance para frear a locomotiva condenada ao descarrilamento, Dilma prometeu um quarto leilão até o fim do ano. O Brasil Maravilha não pode parar. Embora não exista sequer em estado embrionário, o filho que provavelmente nem nascerá já tem, desde 5 de maio, mãe, berço, babás e tutores. Estão todos acampados na Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade S.A., a ETAV, subordinada ao Ministério dos Transportes e, portanto, incorporada aos domínios do PR e seus quadrilheiros.

Concebida para cuidar exclusivamente do trem-fantasma, a sigla não tem nada palpável a administrar. Não se conhece o traçado da linha, as estações não foram sequer desenhadas, não se escolheu o fabricante dos trilhos. Por falta do que fazer, os diretores da empresa planejam a instalação de escritórios no Rio e Campinas, além de leilões mais atraentes. Ainda sem data, o próximo pretende oferecer aos participantes a exploração de áreas que serão desapropriadas. Onde ficam? Que tamanho têm? Servirão para quê? Isso ninguém sabe.

Num post publicado em 27 de julho do ano passado e reproduzido na seção Vale Reprise, Lula explicou por que a maluquice é uma das urgências nacionais. “Vai ter gente que não vai gostar porque estamos gastando dinheiro no trem-bala”, berrou. “Essa gente quer fazer um trem lesma, mas nós queremos logo o bicho mais ligeiro. O pessoal viaja para China e lá o trem é maravilhoso, mas aqui no Brasil é aquele toc-toc pendurado. O Brasil tem competência e vamos fazer”.

Em 2002, quando os chineses embarcaram pela primeira vez num trem de alta velocidade (TAV), a malha ferroviária tinha 54 mil km de trilhos espalhados por 9,6 milhões de quilômetros quadrados. O Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados e menos de 29 mil km de estradas de ferro. Entre o começo de 1999 e o fim de 2002, os investimentos em ferrovias somaram R$ 601 milhões. Entre janeiro de 2003 e dezembro de 2006, ficaram em R$ 519 milhões. De janeiro de 2007 a abril de 2010, o governo triplicou os gastos do primeiro mandato para anexar à rede apenas um trecho de 356 km da Ferrovia Norte-Sul.

Dilma prometeu vitaminar com R$ 43,9 bilhões, até 2014, a malha ferroviária devastada pelo abandono, pela corrupção e pela incompetência federais. A quantia é 40 vezes maior que a soma dos investimentos feitos por Lula em oito anos. Mas sobrariam apenas R$ 10,9 bilhões para a reconstrução do sistema em frangalhos. A coisa ficou ainda pior neste começo de semana: se insistir no delírio eleitoreiro, Dilma enterrará no projeto toda a verba reservada às ferrovias ─ e mais R$ 10 bilhões extraídos dos bolsos dos brasileiros.

Seis meses depois da posse, está mais que na hora de entender que a campanha eleitoral terminou. A maquinista sem juízo precisa descer imediatamente da locomotiva imaginária e tentar assumir a chefia do governo.