de Adriana Carranca
Com exceção feita aos muros altos da Academia Militar e outras instalações das Forças Armadas, como o hospital militar, Abbottabad é meio rural, com pequenos estabelecimentos e vendas que funcionam com geradores a diesel. Em um desses estabelecimentos, Zul Qurwin, de 22 anos, diz ainda esperar por uma prova de que Bin Laden um dia viveu na cidade.
O policial Matik Aman, que ajudava na segurança da rua, também duvida que o homem mais procurado do mundo vivesse ali. “Você acredita mesmo que Bin Laden estava escondido nesse fim de mundo?”, pergunta, rindo de si mesmo. Virando-se discretamente de costas para os militares posicionados ao redor da casa, Aman diz que recebeu ordens para “se livrar dos estrangeiros e retomar a rotina da cidade”. As mansões vizinhas da casa onde Bin Laden se escondia são ocupadas por militares de alto escalão, disse o policial.
A rua de terra e pedregulhos da casa de Bin Laden começa e termina no mesmo ponto: a Academia Militar do Paquistão. A avenida principal de Abbottabad, que leva até a academia, é bloqueada. O final da mesma rua dá nos fundos da Escola do Exército. Ambos os acessos são monitorados por câmeras de segurança.
Reunidos no mercadinho da esquina, como o fazem os homens das cidades de interior no Brasil, moradores repetiam a teoria que, acreditam, explica o episódio da morte de Bin Laden: “Osama mais Obama é igual a drama”. Ou seja, tudo teria sido uma armação. Uma mentira dos Estados Unidos.
Para Niaz Khan, de 30 anos, o saudita pode até ter vivido mesmo ali, mas já estava morto muito antes da operação. “Naquela casa nunca vimos movimento nenhum”, conta. Nascido no bairro, o agricultor aponta sua pequena horta na frente do mercadinho, a uma quadra da casa do líder da Al-Qaeda. “O que esse homem faria aqui?”Abbottabad fica em uma área montanhosa. Para chegar à cidade, é necessário acessar a rodovia principal de Islamabad, a capital do Paquistão. Depois, pega-se uma pequena estrada de mão dupla onde caminhões coloridos, ônibus velhos, carroças, riquixás, crianças carregando galões de água, burcas e homens barbudos de bicicleta disputam o asfalto sem acostamento nem sinalização.
A estrada atravessa as pequenas cidades de Hasan Abdel e Haripur, também áreas militares. Até Abbottabad, há três postos de comando do Exército, onde só passa um carro de cada vez.
“Não é possível alguém se esconder aqui, você entende?”, diz Asif, um corretor de imóveis de 33 anos cujo terreno onde fica a casa de Bin Laden tinha sido de seu avô. “Ou os EUA inventaram essa história para aumentar a popularidade do presidente Obama ou nosso governo e militares estão mentindo.”
Dia calmo. Ontem, a primeira sexta-feira – dia sagrado para muçulmanos – depois do episódio, protestos contra a morte de Bin Laden eram esperados em Islamabad e em Abbottabad. Mas as ruas das duas cidades permaneceram tranquilas.
Osama Bin Laden não tem boa reputação entre os muçulmanos de Abbottabad, embora moradores compartilhem com o saudita o antiamericanismo exacerbado. Os paquistaneses, em geral, culpam os Estados Unidos por ter financiado, através do Serviço de Inteligênciado Paquistão (ISI), a resistência contra a invasão soviética no Afeganistão, atraindo terroristas para a fronteira dos dois países – entre eles, Osama BinLaden.
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