segunda-feira, 23 de maio de 2011

ZÉ DIRCEU XINGADO EM RESTAURANTE


por Daniela Pinheiro

Nos domingos, a churrascaria Prazeres da Carne, perto do Ibirapuera, está sempre lotada. A clientela é de famílias de classe média, com crianças barulhentas, avós, primos e cunhados. Depois da votação no diretório, José Dirceu, que freqüenta o restaurante há dez anos, foi almoçar lá com a filha mais nova, Camila, de 17 anos, Evanise, o motorista e o prefeito de Manágua, Dionisio Marenco. Foi recebido com abraços pelo proprietário, que o guiou até uma mesa bem longe da entrada principal. Dali, ele via todo o salão. Pediram caipirinha. "A minha é de moça, bem fraquinha", orientou Dirceu. Evanise foi fazer o prato do namorado. Do bufê, trouxe uma farta porção de salada. Ofereceu-lhe polenta, brincando de fazer aviãozinho com o garfo, mas ele não quis.

José Dirceu comia o segundo pedaço de cupim quando, sem que percebesse, um homem loiro e jovem se Aproximou e pôs a mão no seu ombro. Talvez porque imaginasse se tratar de um conhecido, o ex-ministro sorriu quando o homem se inclinou, como que para cochichar no seu ouvido. Com o rosto quase colado ao de Dirceu, no entanto, o desconhecido gritou: "Seu safado, safado, SA-FA-DO!" O sorriso do ex-ministro se desmanchou e sua expressão facial se esvaziou. Ele não demonstrou surpresa, raiva, medo, constrangimento ou qualquer outra emoção. Ficou olhando fixo para a frente, impassível, enquanto os berros continuavam e eram ouvidos nas mesas vizinhas. Com a mão ainda no ombro de Dirceu, o intruso vociferou: "Sou eu que pago minha comida! Não é o PT ou o governo, seu safado!" Pelo inesperado e pela virulência da agressão, os que estavam à mesa ficaram paralisados e silenciosos. A filha do ex-deputado desviou o rosto para o lado oposto ao da cena. O motorista não tirou os olhos do próprio prato. O prefeito nicaragüense ficou atônito.

O homem finalmente tirou a mão de Dirceu e se afastou com lentidão. Gesticulando, de dedo em riste, continuou a berrar, mesmo de longe: "Safado, safado, safado!" A cena durou menos de vinte segundos. A namorada e o prefeito ainda mantinham a cabeça virada, para acompanhar o sujeito sumir no salão, quando José Dirceu sacou o celular (um BlackBerry, no qual recebe e responde a e-mails, se conecta à internet e, às vezes, até escreve no seu blog) e, sem qualquer comentário, começou a manuseá-lo.

Pouco depois, Evanise se levantou. Sem que ninguém da mesa se desse conta disso, foi atrás do rapaz, que estava acompanhado de duas mulheres. "O que você ganha com isso, hein? Quer brigar com ele? Chama ele num canto e fala. Agora, na frente da filha, da família?", foi o que ela lhe perguntou, conforme me contou. "E você também é uma safada por estar com um safado desses", disse-lhe o homem. "Estou com ele com muito orgulho porque ele é muito mais educado do que você", respondeu Evanise.

Passaram quinze minutos e José Dirceu pediu a nota. Os convidados haviam largado suas sobremesas pela metade e tomado o café às pressas. Ele pagou a conta e botou os óculos escuros. Ao atravessar a churrascaria, com a cabeça alta e firme, foi escaneado por todas as mesas. "Cara-de-pau", disse uma senhora de cabelos pintados de acaju. Ao seu lado, um homem concordava com a cabeça. Na calçada do restaurante, quando o grupo entrou no Chrysler, um senhor de traços orientais comentou com a família: "Olha aí o carro do PT".

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