segunda-feira, 21 de novembro de 2011

FOLHA DE BANANEIRA


Dora Kramer, O Estado de S.Paulo

O processo de tomada de decisão da presidente Dilma Rousseff é de difícil compreensão, mas exibe uma característica visível a olho nu: não é, recorrendo a Fernando Pessoa, um poema em linha reta.

Desde as primeiras decisões bem no início do governo até suas atitudes nessa obra inacabada de escândalos em série na Esplanada dos Ministérios, Dilma se notabiliza pelo vaivém.

Com a mesma assertividade com que sinaliza numa direção, em seguida segue no rumo oposto.

Numa versão otimista, isso revela personalidade maleável, embora não seja esse traço de seu perfil o que seus próprios auxiliares ressaltam quando relatam episódios da mais absoluta intransigência no trato cotidiano.

Os fatos mostram uma realidade diferente, alvo de críticas por parte de aliados: pressionada, Dilma avança ou recua nem sempre tomando a resolução que seria a mais adequada, mas sim aquela que as circunstâncias a obrigam a tomar.

Ocorreu quando da votação do Código Florestal na Câmara, obrigando a liderança do governo a desfazer um acordo na última hora em plenário.

Aconteceu no caso da prorrogação do prazo para pagamento de emendas parlamentares de 2009: primeiro anunciou de maneira peremptória que não prorrogaria, mas dois dias depois foi obrigada a mandar dizer o contrário ante a reação negativa dos partidos aliados.

Em maio, foi a vez da lei de acesso à informação. Dilma declarou-se contra o sigilo eterno, mudou de opinião - tendo como porta-voz a ministra Ideli Salvatti - para agradar aos senadores Fernando Collor e José Sarney, mas, diante da posição favorável à liberação dos militares e do Itamaraty, voltou a defender o texto que, afinal, sancionou na sexta-feira pondo fim ao sigilo eterno.

Depois disso, tomaram conta da cena as idas e as vindas nos casos dos ministros envolvidos em escândalos. A todos eles emprestou apoio num primeiro momento para terminar por demiti-los pelas mesmas razões que os levaram à berlinda, alongando o tempo de desgaste.

Seria Dilma uma pessoa indecisa?

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