terça-feira, 25 de outubro de 2011

ÉTICA? QUE ÉTICA?


O Globo

O incentivo de Lula para que Orlando Silva e PCdoB resistam confirma a visão do ex-presidente de que o importante é a manutenção da base parlamentar. Às favas com a ética. Se este for o preço a pagar para a manutenção de votos no Congresso, que seja.

E assim o lulopetismo segue a empurrar a vida pública brasileira para os níveis éticos mais baixos desde a redemocratização, em 1985.

Afinal, Lula não aconselha os aliados a resistir a uma vil campanha de difamação, mas a uma impressionante enxurrada de fatos concretos sobre como o partido manipula verbas do ministério para transferir recursos a ONGs companheiras, tudo indica para abastecer o caixa 2 do partido e de filiados.

A ponto de o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pedir ao Supremo abertura de inquérito sobre a atuação de Orlando Silva no ministério, e do antecessor, Agnelo Queiroz, ex-PCdoB, governador de Brasília pelo PT. Gurgel não escondeu a surpresa com a escala nacional das operações de desvio.

Como no mensalão — diante do qual Lula fraquejou, ao dizer que fora traído, para depois negar a existência do esquema —, vale, na visão lulopetista, a defesa dos fins, a serem alcançados não importam os meios.

Repete-se, também, de alguma maneira, a moldura do mensalão, em que o apoio de partidos foi literalmente comprado, e com o uso de dinheiro público (Banco do Brasil/Visanet). Se no Turismo de Pedro Novais, nos Transportes de Alfredo Nascimento, na Agricultura de Wagner Rossi e no Esporte de Orlando Dias/Agnelo não parece haver a existência da sofisticada lavanderia de dinheiro sujo projetada, construída e terceirizada por Marcos Valério, pelo menos a finalidade da atuação desses ministros não difere do mensalão: desviar dinheiro público para fins privados, partidários ou não.

Outra semelhança da atual safra de escândalos com o mensalão é que também no Esporte a denúncia partiu de alguém do esquema que resolveu falar na tentativa de se proteger e se vingar de companheiros que o abandonaram.

O exótico PM João Dias, ex-militante do PCdoB, atirou contra o ministro, alega, por não receber ajuda num processo de cobrança de dinheiro por ele desviado; já Roberto Jefferson decidiu acusar José Dirceu ao perceber que ele e seu partido, o PTB, seriam responsabilizados por desmandos nos Correios.

Orlando Dias se manteve no cargo depois de conversar com Dilma na sexta, mas o Palácio avisa que o assunto ainda está sob avaliação. A presidente volta a estar diante da encruzilhada: fazer vista grossa, e ser incoerente com os desfechos anteriores, ou reafirmar a preocupação com um mínimo de ética na administração pública.

A crise no Esporte tem características semelhantes ao escândalo nos Transportes, em que também um partido (PR) conduzia o espetáculo da corrupção. É o que acontece no Esporte, onde o PC-do B — para desgosto de antigos militantes comunistas — atua como draga na sucção de dinheiro do Tesouro para financiar projetos partidários e/ou pessoais.

Daí apenas a saída do ministro não ser suficiente para moralizar a Pasta. As ventosas do PCdoB teriam de ser desacopladas do orçamento do ministério.

Afirma-se que será acompanhada a resistência de Orlando Silva à divulgação de denúncias. Errado. O Planalto deve é formar uma opinião sobre fatos, independentemente do que a imprensa profissional divulgue.

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