Um casal de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) acaba de dar um passo importante para a viabilização da terceira dentição. Os dois desenvolveram dentes a partir de moldes biodegradáveis e células-tronco adultas. Os primeiros experimentos, feitos em ratos, mostraram resultados positivos — os cientistas conseguiram criar dentes nos animais —, abrindo caminho para a criação da terceira dentição para humanos.
O estudo, iniciado em 2001, rendeu frutos já em 2004, quando o casal Silvio e Mônica Duailibi, ambos coordenadores do Laboratório de Engenharia e Biofabricação da Unifesp, conseguiu recriar compostos no abdômen de ratos e, em 2008, na mandíbula, tudo a partir de células-tronco adultas do próprio animal. “Não era um dente propriamente, mas coroas com todas as estruturas, como dentina, esmalte, polpa e ligamento periodontal. As dimensões e o formato, porém, não eram de um dente normal”, explica Mônica.
A partir daí, os pesquisadores se debruçaram sobre materiais e metodologias para encontrar quais poderiam servir como uma espécie de suporte, com as dimensões e o formato do dente, para receber as células-tronco e, dessa forma, chegar a uma reprodução fidedigna. A formação do dente biológico é muito mais difícil que a de uma orelha, por exemplo, pois envolve duas etapas distintas: a composição do dente e a estrutura que o suporta na mandíbula.
Na etapa atual do estudo, realizado em parceria com o Centro de Tecnologia da Informação Renato Acher, órgão de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia, os cientistas conseguiram reproduzir exatamente essas estruturas, fiéis ao tamanho e ao formato do dente humano. “Conseguimos chegar a polímeros biodegradáveis, que são como arcabouços para a diferenciação das células-tronco precursoras das estruturas dentais”, comemora Silvio Duailibi. Os resultados serão apresentados na 5ª Conferência Internacional de Pesquisa Avançada em Prototipagem Rápida e Virtual, este mês, em Portugal.
Engenharia tecidual
Todo o processo se baseia nas técnicas da chamada engenharia tecidual, que reúne um conjunto de células-tronco com estruturas construídas para servir como apoio para que essas células se diferenciem e se transformem no tecido desejado. Esse método reúne os princípios da biologia com técnicas da engenharia biomédica, inclusive a computacional. “Com a união das técnicas, é possível elaborar a forma dos dentes e alcançar não só a reparação, mas a regeneração”, afirma Silvio.
Esse conjunto de procedimentos parece um tanto curioso ou mesmo tirado de um filme de ficção-científica, já que, por meio de imagens de tomografia ou ressonância magnética, um software gera uma estrutura tridimensional de um dente. “É como se o programa copiasse as dimensões do dente, de acordo com as imagens dos exames, e depois imprimisse camada por camada até que o molde esteja na forma desejada”, explica Silvio. “Com isso, reproduzimos dentes na forma que quisermos: o incisivo, o molar, o pré-molar e o canino”, acrescenta Mônica.
Outro resultado positivo é que o arcabouço, feito com material biorreabsorvível ou biocompatível, tem completa aceitação no organismo, fazendo com que as células se moldem e se diferenciem dentro dele, ou seja, transformem-se nos componentes do dente. Depois do processo de diferenciação celular, o organismo reabsorve os elementos do molde e deixa a estrutura do dente feita. Com essa estratégia, é possível regenerar dentes, e não mais apenas repará-los”, diz Silvio.
Mesmo com um longo caminho pela frente, os pesquisadores acreditam que estão perto de desenvolver métodos para a regeneração parcial ou total do dente humano proveniente de suas próprias células. “Precisamos realizar mais testes em nível celular para garantir a segurança da diferenciação das células, para que elas não tenham mutações ou alterações genéticas que possam causar um tumor, por exemplo”, diz Silvio Duailibi.
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