de Ricardo Setti
Para quem acha que deixou o país uma maravilha para a sucessora, o ex-presidente Lula deve estar caindo do cavalo ao constatar as duras realidades da vida que a presidente Dilma Rousseff está precisando enfrentar, diante da apavorante perspectiva de que a inflação este ano estoure não o centro da meta — 4,5% –, mas o seu limite máximo: 6,5%. Isso significará sair de controle.
Na verdade, não sei porque a grande mídia não está tratando as medidas anunciadas ou em curso como o que de fato elas são — um caso próximo da emergência nacional.
Raras vezes um presidente que assume terá tido tamanho desafio pela frente — um desafio complexo e gigantesco — mal completado um mês de governo.
Só para lembrar o que está em curso ou em cogitação, justamente para enfrentar a herança maldita de Lula. Parte das medidas foi anunciada pelos ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Miriam Belchior, do Planejamento:
* Um fenomenal corte de 50 bilhões de reais no Orçamento deste ano, o maior de que se tem notícia – mais do que tudo o que Lula investiu em 2010.
Opinião de O Globo
Não se pode acusar Dilma Rousseff de incoerente. Eleita, defendeu a estabilidade econômica, para a qual o combate à inflação é básico. E na quarta-feira, por meio dos ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, da Fazenda e do Planejamento, o governo anunciou a intenção de cortar, no Orçamento deste ano, R$ 50 bilhões, algo um pouco acima de 6,5% de uma conta de despesas de R$ 769,9 bilhões.
A intenção, acertada, é reduzir a contribuição dos gastos públicos para o aquecimento excessivo da demanda, causa, em boa medida, do fato de a inflação chegar a 6% anuais, um ponto e meio acima do centro da meta (4,5%) e apenas a meio ponto do limite superior dela.
O Planalto demonstra entender o risco do descontrole inflacionário num país em que ainda há muitos preços indexados e uma memória adormecida na sociedade do longo período em que a alta de ontem deflagrava a remarcação de hoje.
Basta uma fagulha, sem ser combatida como deve pelo governo, para esta memória ser despertada e o mecanismo da “inflação inercial” voltar a agir, pelo qual a inflação do futuro é movida pela do passado.
Cabe registrar que o anúncio deste contingenciamento ocorre não muito depois de o Banco Central ter aumentado a taxa básica de juros em meio ponto percentual, de 10,75% para 11,25%, o início de mais um aperto monetário para conter preços.
Assim, pela primeira vez desde o final do primeiro mandato de Lula, o Ministério da Fazenda age na mesma direção do BC, e acaba com a grave esquizofrenia de política econômica verificada desde aquela época, em que a Fazenda acelerava a gastança e o BC tinha de manter a inflação sob controle via juros.
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