Editorial de O Globo
A dificuldade da tarefa do governo Dilma Rousseff de recolocar as contas públicas nos trilhos é proporcional ao pouco caso com que o governo, especialmente em 2010, inflou os gastos, num estrago fiscal que as manobras e os artifícios contábeis não conseguiram nem de longe disfarçar.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu como militante do PT, e não como economista, à correta referência feita em documento do FMI à deterioração das finanças públicas brasileiras. Para ele, a crítica se devia a algum “velho ortodoxo” entrincheirado na sede do fundo, em Washington.
A acidez do comentário não consegue ofuscar o tamanho do problema. Por contingências técnicas e até limitações físicas, a economia brasileira não conseguiria manter a taxa média de crescimento do ano passado, acima de 7%, por muito tempo.
Os dois principais termômetros do nível de atividade — inflação e as contas externas — há algum tempo começaram a sinalizar o excesso de velocidade.
A preocupação demonstrada pelo novo governo com o tema faz todo sentido, pois são cruciais o controle da inflação, próxima dos 6% e se distanciando do centro da meta (4,5%), e a manutenção da tranquilidade no setor externo — hoje garantida por reservas que se aproximam dos US$ 300 bilhões —, numa conjuntura mundial de futuro ainda incerto.
Com o Congresso em funcionamento, o Palácio dá sequência a duas negociações estratégicas: sobre o salário mínimo, em que a presidente, para reajustá-lo, deseja seguir a regra estabelecida no governo passado em comum acordo com os próprios sindicatos; e o Orçamento de 2011, impossível de ser executado sem cortes — a não ser que alguém em Brasília deseje ir contra a manutenção da estabilidade econômica, já incorporada ao patrimônio da sociedade.
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