domingo, 20 de fevereiro de 2011

A NOVA TOUPEIRA

Nada de ajuste fiscal, juros altos ou cotoveladas na base aliada. Cinquenta dias após deixar o Palácio do Planalto, o que atormenta mesmo a vida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma teimosa goteira dentro de seu apartamento de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Sem avarias no relacionamento com a presidente Dilma Rousseff, ele atribui as "fofocas" sobre atritos entre criador e criatura à tentativa da oposição de criar fatos.

"Eu não tenho uma vírgula de discordância com a Dilma e, quando tiver divergência, ela terá sempre razão", disse Lula ao Estado, na sexta-feira, durante viagem de volta do Rio para São Paulo, no voo 1517 da Gol.

Enquanto lia A Nova Toupeira, de Emir Sader, que trata dos desafios da esquerda na América Latina, o ex-presidente reclamava com o assessor Paulo Okamotto da falta de pedreiro para consertar a goteira de três anos e traçava planos para o Instituto Lula.

Quer criar um portal na internet e instalar um Memorial das Lutas Sociais no centro de São Paulo, na região conhecida como Cracolândia. Tenta encontrar um imóvel com o auxílio do prefeito Gilberto Kassab, que pode migrar do DEM para o PSB.

Disposto a não causar embaraços a Dilma, a quem chama de "essa menina", Lula faz de tudo para protegê-la. Na quarta-feira, dia da votação do salário mínimo de R$ 545 na Câmara, ele conversou com a herdeira várias vezes por telefone, do Rio, e transmitiu uma série de orientações.

Na quinta, ligou para cumprimentá-la pela vitória no primeiro teste parlamentar. "Foi justo o que foi aprovado. As centrais sindicais não podiam quebrar as regras. Acordos são para ser cumpridos porque, se você não age assim, perde o respeito", afirmou.

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