Thiago Herdy, O Globo
A professora aposentada Rosemary de Morais, 55 anos, cuidava do jardim na tarde desta terça-feira em Caratinga, no interior de Minas, quando o marido a chamou para ver a televisão: na tela era noticiada a morte de José Alencar.
Para Rosemary, uma notícia que foi motivo de grande tristeza não pela trajetória do homem que construiu um verdadeiro império empresarial e deu emprego a milhares de brasileiros. Nem pelo Zé que chegou ao poder eleito vice-presidente junto com Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas pela pessoa que, segundo decisão da Justiça de Caratinga, era seu pai. Um homem que não teve a chance de conhecer melhor, mesmo no fim da vida.
Desde 2001 Rosemary brigava para que José Alencar reconhecesse sua paternidade. O caso ainda está em curso no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a quem os advogados de Alencar recorreram depois do juiz de Caratinga José Antônio Cordeiro autorizar a professora a ser registrada com o sobrenome do ex-vice-presidente. Alencar sempre se recusou a fazer exame para atestar a paternidade da professora aposentada.
- Ela ficou muito chateada com a notícia da morte, porque nunca conseguiu falar direito com ele. Queria ter tido a chance de conversar pelo menos agora, saber o que aconteceu no passado deles. Mas não tem mais jeito, acabou - disse o caminhoneiro aposentado Amilcar Campos, marido de Rosemary.
A mulher não quis dar entrevistas, segundo ele, por ainda estar abalada, e por temer "falar alguma coisa errada", que pudesse chatear a família do suposto pai.
- A gente vai ficar aqui quietinho na nossa casa, não devemos ir a velório ou enterro. A não ser que a família dele nos convide, mas acho difícil disso acontecer - disse Amilcar.
Rosemary tinha 43 anos quando a mãe lhe mostrou a foto do filho de Alencar no jornal, Josué Gomes da Silva, dizendo-lhe que ele era seu irmão. Durante a campanha de Alencar ao Senado, em 1998, conseguiu se aproximar do suposto pai e dizer que era sua filha. Um assessor anotou seus telefones, mas ela nunca mais conseguiu fazer novos contatos.
Segundo Rosemary, sua mãe, a enfermeira Francisca Nicolina de Morais teria ficado grávida de Alencar na época em que ele ficou noivo, por isso os dois não se encontraram novamente.
Anos depois, questionado sobre o motivo de não ter aceitado fazer o exame de paternidade, Alencar insinuou que Francisca era prostituta, dizendo que "são milhões de casos de pessoas que foram à zona". A postura do político foi motivo de grande tristeza para Rosemary.
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