Nunca tive intenção de votar em Dilma Rousseff para presidente da República. Nem em seu oponente. Pela primeira vez em minha vida, ia anular ou votar em branco. Ou não votar, como a Lei me faculta, pela idade.
O modo como agiu o presidente Lula: a escolha, a imposição, o uso da máquina do governo, o desrespeito com todas as instituições republicanas, o pouco caso com seu próprio partido; o abandono de suas funções para palanquear pelo Brasil, as inaugurações de mentirinha, os gritos, o destempero, a grosseria, o rótulo de bobocas que ele pregou em todos os brasileiros; a quebra de todos os parâmetros de comportamento condizente com o cargo que ocupará até 31 de dezembro deste ano, tudo isso dava muita vontade de ver sua candidata derrotada.
A tal da continuidade apresentada como bênção, prêmio, troféu.
O desespero, a angústia que ele demonstrava à simples possibilidade de não vencer; a tática perversa de jogar brasileiros contra brasileiros, foram a gota d’ água e resolvi votar em José Serra. Mas não votava com o coração, essa é a verdade.
Durante toda a campanha a impressão que mais me marcou foi essa: se Dilma Rousseff não vence, Lula morre.
Por quê? Habituado a perder eleições, com toda a certeza as suas derrotas deveriam doer mais nele do que a derrota de sua candidata. Parecia, no entanto, e continuo a pensar assim, que a derrota de dona Dilma lhe seria fatal, ao passo que as suas não foram...
Mas isso são águas passadas. Ainda movem moinhos, ao contrário do que diz o ditado, mas são passadas e quase que um passado distante, de tão rápido gira o mundo ultimamente.
Daqui a poucos dias ele será ex-presidente e a presidente do Brasil será Dilma Vana Rousseff. Com a caneta na mão.
Esse é o dado concreto. Ciao, Lula.
Agora, a confissão: ao ler um artigo aqui postado em 8 de novembro, escrito por Luiz Cláudio Cunha, Dilma: a tortura julgada, a anistia sangrada, balancei. Sempre soube que Dilma Rousseff fora presa e torturada, aliás, o que é curioso é que ela lutou por motivos que a mim também horrorizavam, a ditadura e todo seu buquê de crimes.
Porém sempre tive mais admiração pelos que lutaram com palavras, pelos que não usaram da mesma violência dos militares, até porque estou convencida que violência gera violência, brutalidade gera brutalidade. Além de não ser do estofo dos que lutaram, é preciso dizer.
Mas nunca tinha lido o que o artigo de Luiz Cláudio Cunha me fez ler: “Levei muita palmatória, me botaram no pau-de-arara, me deram choque, muito choque. Comecei a ter hemorragia, mas eu aguentei. Não disse nem onde morava. Um dia, tive uma hemorragia muito grande, hemorragia mesmo, como menstruação. Tiveram que me levar para o Hospital Central do Exército. Lá encontrei uma menina da ALN (Ação Libertadora Nacional): ‘Pula um pouco no quarto para a hemorragia não parar e você não ter que voltar pra Oban’, me aconselhou ela”.
(...) Dilma contou na Justiça Militar que perguntou aos emissários da Oban se eles estavam autorizados pelo Poder Judiciário. A resposta do militar resumia o deboche daqueles tempos: “Você vai ver o que é o juiz lá na Oban!...”
Pois li e pensei, ainda emocionada com o que acabara de ler: quem sabe essa mulher forte, sofrida, curtida pela dor, não vai, de modo calmo e paciente, fazer ver ao Lula que de ora em diante tudo vai ser diferente? Que a continuidade é impossível?
Quando ela apareceu muito rapidamente, já sem a máscara da campanha, com a cara de sua idade, os olhos mostrando que ali estava não uma Barbie plastificada, que foi no que a transformaram para vencer, mas uma mulher de 60 anos, vivida e resistente, passei a imaginar o que rapidamente está se transformando em mais uma miragem.
Ela está recolhida para estudar, tomar as melhores decisões, imaginei.
Assim pensei até a semana passada. Qual o que... Além do presidente boquirroto pintar e bordar, mandar e desmandar, não "desencarnar", as duas áreas mais importantes, Saúde e Educação, que eu jurava seriam, depois dos tais ministros da casa, a primeira providência da presidente-eleita, ainda estão no limbo e, pelo jeito, sofrerão o mesmo escrutínio que os outros cargos sofreram: servir ao PMDB do Sarney e ser do sexo feminino.
Já desiludida outra vez, deixo aqui duas perguntas para dona Dilma:
a) quando se viu doente, escolheu o médico pelo sexo ou pela competência?
b) quando seu neto nasceu, ficou desapontada?
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