sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

TRISTE FIM DE MANDATO

por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Já calculava que o presidente Lula fosse ter um fim de mandato angustiado e triste. Não por conta do povo que o adora, mas por conta do vazio de sua vida sem o poder.

Ele está nas alturas há tanto tempo e vem de tal modo alçando vôos cada vez mais altos, que há muito furou a atmosfera terrestre e lá sei eu em que camada do espaço está atualmente.

Não deve ser fácil sair da situação em que ele está e voltar à terra. Mormente quando aqui em baixo ele não tem nada para preencher suas horas.

É homem ainda moço para se satisfazer com a vida de avô, por exemplo. Vem de uma vida muito agitada para apreciar os confortos e o carinho de uma rotina caseira. Isso não faz seu gênero, já se vê.

Não tem, que saibamos, nenhum hobby. Não me consta que seja cinéfilo, ou freqüentador de teatro. Não gosta de ler, segundo suas palavras. Não viaja pelo prazer de conhecer novos mundos e visitar cidades e monumentos. Seu prazer ao viajar, é bem outro.

Seu poder foi tão forte e tão prolongado – desde a fundação do PT Lula tem a força do poder – que durante algum tempo ele carregará com ele a aura de poderoso e será tratado com toda a deferência.

Sua herdeira e sucessora, por mais grata que seja ao padrinho, aos poucos irá vestir o hábito dos grandes desse mundo e se tornará um deles, o que a transformará, assim como o transformou em 2003.

E pouco a pouco, até sem perceber, ela se afastará da influência dele para gerir as coisas ao seu modo.

Assim é com todos os que se despem do poder e é preciso que a pessoa tenha uma vida interior muito rica e uma estrutura emocional equilibrada para não se deixar abater. Ajuda, e muito, uma intensa atividade intelectual.

E ter amigos. Dos bons, dos de verdade.

Lula conhece muita gente, uma multidão. Mas nas posições que ocupou, terá feito verdadeiros amigos? Serão sinceras as manifestações de afeto que recebe?

Tudo isso me passa pela cabeça ao ver as reações do presidente nos últimos meses e, sobretudo, após as eleições das quais saiu mais vitorioso que a eleita.

A declaração para justificar a compra de outro avião, francamente, envergonha todo o Brasil. Foram palavras que nunca deveriam ter sido ditas e que só o foram porque, como todo astronauta sabe, o ar muito rarefeito deixa as ideias meio obnubiladas.

Ontem, dia 2, ele deu uma entrevista às rádios comunitárias e entre outras coisas, disse: "há uma briga histórica que eu considero um equívoco: os meios de comunicação confundirem uma crítica que qualquer pessoa faça a eles como um cerceamento de liberdade de imprensa. É a coisa mais absurda, mais pobre do ponto de vista teórico que conheço é alguém achar que não pode receber crítica, que são intocáveis". (Estadão.com, 2/12)

A frase em si já é um espanto. Esse “do ponto de vista teórico” só perde para “o preconceito” diagnosticado em quem criticou seu grande amigo Sarney. Quem ali naquela festividade no Maranhão se achava intocável? O representante da grande mídia, ou o presidente da República?

A “briga histórica” que ele quer vencer eu sei qual é: que nossa Imprensa só se refira ao “escândalo do mensalão” como “aquela infame tentativa de golpe contra o presidente Lula”!

E à compra do avião que não precisa fazer escalas como “necessidade imperiosa para a segurança da presidente Dilma”.

E que nunca, jamais, em momento algum, a imprensa diga que dia 1º de janeiro começa o terceiro mandato de Lula. Essa, eu também adoraria não ler. Mas desde que fosse a verdade verdadeira.

De qualquer forma, meus votos de boa aterrissagem, presidente. Porque ela virá, não tenha dúvida...

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