A complexidade do ser humano chega a ser aterradora. Somos todos muito complicados, os singelos, os humildes, os instruídos, os inocentes, os vividos, os jovens, os velhos. Cada um de nós é uma caixinha de surpresas.
Hoje, não há como deixar de citar Lula como exemplo de complexidade. Uma caixinha das mais cheias de nós e fios embaraçados, o todo acentuado pela circunstância de ser 31 de dezembro de 2010 o último dia de seu segundo mandato.
Há quem ache que ele é megalômano. Outros que sua arrogância é tamanha que ele sequer percebe o ridículo em que se coloca, frequentemente exibindo qualidades que não tem, ou criando fatos para constar em sua biografia que são ou inverídicos ou exagerados.
Estive, até bem pouco tempo, entre os que só viam nele o vaidoso irrecuperável, o pavão, o espaçoso que ele é. Mas nos últimos dias passei a ter muita pena dele. O homem Lula está sofrendo uma barbaridade!
Não creio que seja pelo fim do poder, como pensei até pouco tempo atrás. Ele armou tudo de modo a não perder o poder real nem tão cedo e se baseia em qualidades que, pelo visto, Dilma Rousseff cultiva - a gratidão e a lealdade para com os seus. E de Lula ela é devedora, não apenas do mais alto cargo do país, mas de muito mais: de ter se transformado, em tão pouco tempo, naquilo que os americanos chamam de "household name".
Seu sofrimento, a meu ver, é outro. Cada palavra, cada frase que ele diz desde que sua herdeira venceu as eleições, é uma lágrima que verte em silêncio por não ver reconhecidas, pelas pessoas que para ele contam, as qualidades e os feitos que acha que tem ou que acha que realizou.
Podem os jornais do mundo inteiro, e até os nossos, dizer maravilhas dele, isso só não bastaria. A popularidade fantástica, a adoração, nada disso susbtitui o que mais lhe faz falta: o reconhecimento, pelas pessoas que a ele importam, em praça pública, que "Lula é simplesmente sensacional". É disso que se trata. É porque isso lhe falta que ele vem ocupando seus dias em fazer, a si mesmo, os maiores elogios.
Já que "aquelas" pessoas não falam que ele é sublime, ele fala.
Se quisermos ser bem sinceros, veremos que, no fundo, somos todos assim. É muito bom ser amado, mas se aquelas pessoas que mais amamos não nos amam, tudo o mais perde o brilho. Passando do particular para o geral, deve ser a mesma coisa: de que adiantam os aplausos de milhões, se aquele punhado de pessoas cuja opinião mais respeitamos e admiramos continua a nos vaiar?
Penso que não há como julgar todo o governo Lula agora. Seria temerário. Tudo a seu tempo. Ou incorreríamos no mesmo erro dele: julgar sem apoio na realidade.
Por enquanto, eu me limito a ver seu governo como as obras de reforma no Palácio do Planalto: demoradas, carísssimas, e com poquíssimo tempo de uso já precisando ser reformadas.
Creio que por ora só dá para analisar o homem Lula. O pavão que ainda precisa conquistar quem mais admira para poder abrir sua cauda e brilhar com prazer. Quando, e se, até sua voz for considerada linda.
O governo, esse ficará para o porvir.
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