terça-feira, 18 de janeiro de 2011
DESGOVERNO DO BRASIL
Recebo o e-mail de um conhecido economista que tem casa no Vale do Cuiabá, em Petrópolis. Ele revela como anda a assistência aos desabrigados na região serrana do Rio. A casa dele não foi atingida pela catástrofe. Ele procura ajudar como pode. O relato impressiona.
Dá para escrever uma peça teatral de tragicomédia com o que vivi nos últimos dias e horas.
Não há comando. Hoje cedo, o padre da igreja me liga fazendo um apelo para tentar conversar com a secretaria de saúde, que passou ontem lá para vacinar o povo. A primeira visita desde que aconteceu a tragédia. Ficaram apenas 40 minutos e em uma única igreja - as quatro têm desabrigados. Era meio da tarde, e vacinaram poucos. Fosse à noite ou na hora do almoço, pegava o pessoal que dorme na igreja. No meio da tarde, as pessoas estão tentando resgatar algo de seu, procurando parentes etc.
Prometeram voltar hoje. Aí os líderes locais pediram para definir uma hora aproximada, que espalhariam a notícia na região, avisando a população local. Sabe qual foi a resposta? “Manda todo mundo ficar dentro da igreja o dia todo, não sair em hipótese alguma, porque, em algum momento do dia, nós passamos”. Não é para prender o imbecil que fala uma coisa dessas?
Como havia saques na região, que só tem uma entrada e uma saída, a PM fechou com pelotão de choque. Eu contei quatro carros n o sábado, às 12h, onde precisava de apenas um. Às 22h, sabe quantos tinha? Zero. Foram embora todos e voltaram no domingo, às 8h da manhã. Como se vê, saque é proibido só em horário comercial, como a vacinação - e na hora que o médico decidir aparecer.
A resposta econômica não fica atrás. Vão dar cheque do aluguel social onde não tem casa para alugar - só sobraram a minha e outras mansões - aliás, a maioria repleta de desabrigados amigos dos caseiros; eu tinha até grávida na minha casa. O governo do estado deu isenção de IPVA em Petrópolis - só que, no bairro, ninguém mais tem carro. Adiaram pagamento de contas de luz e de água - só que os atingidos não têm mais casa. Sabe quem foi beneficiado? Eu. Minhas casa está intacta, e certamente não sou pobre e nem desabrigado.
É um absurdo o que está acontecendo.
Tenho inúmeras outras histórias para contar em poucos dias. Para resumir, acho que as Forças Armadas deveriam assumir o comando, mandar e desmandar, hierarquia, ordem etc. Aliás, quem está pedindo isso são os próprios desabrigados.
Por Reinaldo Azevedo
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