O Globo
Se a incúria do poder público foi a protagonista da tragédia na Região Serrana, ela também patrocina, quase ao mesmo tempo, mais uma ação para o desmonte do Enem, um dos melhores instrumentos criados para substituir o vestibular como porta de entrada na universidade.
Infelizmente, a credibilidade do Exame Nacional do Ensino Médio vem sendo destroçada a golpes sucessivos de inépcia desfechados pelo Ministério da Educação (MEC) e seu Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela aplicação do teste, já utilizado por várias universidades, no processo de seleção de vestibulandos.
As constantes e graves falhas na condução do exame explicitam algumas das clássicas deficiências do serviço público brasileiro, convertido de vez numa casta por forças políticas que há alguns anos mantêm o poder em Brasília.
Protegido contra qualquer sistema comezinho de cobrança de eficiência, embora com salários muitas vezes acima dos pagos no mercado para as mesmas funções, o funcionalismo federal custa muito ao contribuinte e não dá um retorno compatível com o peso dos impostos cobrados à sociedade. Pelo contrário, tem gerado sérios problemas, como os do Enem.
Provas já foram furtadas por deficiência no sistema de vigilância contratado; folhas de testes terminaram sendo distribuídas com páginas de gabarito trocadas; e, agora, como se fosse para completar o calvário de centenas de milhares de estudantes, o acesso ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para o candidato escolher as opções de cursos, tem sido, no mínimo, problemático. Devido ao previsível grande volume de acesso — surpreendente apenas para o MEC/Inep —, muitos estudantes não conseguiram entrar no sistema.
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