Escrevi anos atrás que o projeto de alavancar planetariamente os biocombustíveis fabricados a partir de alimentos transformaria o Brasil de campeão mundial da luta contra a fome em campeão mundial do estímulo à inflação.
A ilusão sobre a convivência pacífica entre a produção de biocombustíveis e de comida durou enquanto esteve no palco o contorcionismo verbal de Luiz Inácio Lula da Silva, um caixeiro viajante de primeira.
Aproveitou sua excelência o pânico com a ameaça do aquecimento global para vender o peixe (no caso, o álcool) e também disputar a vaga de estadista verde número um.
Mas não colou. A lábia não foi suficiente. Depois veio o pré-sal e a fantasia acabou recolhida ao baú.
Ficou entretanto o problema de o que fazer com a turma que tinha comprado o bilhete de ida para o futuro de uma humanidade abastecida com o combustível fabricado a partir da cana brasileira.
E voltaram as velhas histórias de preços mínimos e estoques reguladores, para de novo transferir a dolorosa ao contribuinte. Um remake do Proálcool em pleno século 21.
O que vem acontecendo com os preços agrícolas estava escrito nas estrelas. A conta é simples.
Se a finitude das terras agricultáveis é uma premissa, pois o pensamento hegemônico inisiste em classificar qualquer desmatamento como crime, e se a produção de alimento precisar dividir as terras disponíveis com os biocombustíveis, uma hora haverá constrangimento de oferta.
A não ser que os bilhões de asiáticos, latino-americanos e africanos que começam a comer decentemente sejam atendidos apenas com base no aumento de produtividade. Quem acredita nisso, especialmente num mundo instado a tomar como pecado todo desenvolvimento técnico e científico da agricultura?
Nenhum comentário:
Postar um comentário