João Carlos Magalhães, Folha de S. Paulo
Livre há quase três meses, Cesare Battisti, o italiano cujo asilo político no Brasil criou um estremecimento diplomático com a Itália e galvanizou a opinião pública dos dois países, vive como se fosse um clandestino.
Não que o ex-integrante do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), condenado à prisão perpétua por quatro assassinatos ocorridos nos anos 1970 na Itália, tenha problema com a lei brasileira - já tirou até RG e CPF.
Mas, temendo ser alvo de grupos paramilitares de direita, preocupado com o assédio da imprensa e "machucado", como diz, por quatro anos e dois meses de confinamento e exposição pública, ele resolveu se isolar em Cananeia, pequena cidade do litoral sul de São Paulo.
Há dois meses mora sozinho num sobrado simples, cedido por um apoiador brasileiro, onde dorme num beliche velho em um quarto do tamanho de sua antiga cela.
Apresentou-se a quem conheceu como "César", um escritor mexicano que buscava refúgio para terminar um livro, e fez amigos entre os pescadores e em bares. Nada falou de sua história real.
No cotidiano tedioso de uma cidade praiana no inverno, Battisti não perdeu o hábito de ex-fugitivo de sentir-se monitorado.
Reconhece em rostos na rua as mesmas pessoas que participaram de protestos contra seu asilo. "Você acha que me deixariam assim, sem saber o que estou fazendo? Mas o perigo maior virá quando o caso esfriar", diz.
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