terça-feira, 9 de novembro de 2010

O CASO MAYARA


de Fernando de Barros e Silva

"Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!". A mensagem é muito repulsiva e precisava ser combatida. Sobre isso, não paira nenhuma dúvida. Há, porém, várias maneiras de condenar um ato.

Incomoda-me, de um lado, que a primeira reação seja a de ir à Justiça para punir a jovem. Não porque a tipificação do crime que se atribui à estudante Mayara Petruso seja tecnicamente complicada. Incomoda-me, antes, nossa inclinação quase automática para transformar um problema social num caso de polícia. Isso evidencia como ainda nos falta cultura política democrática.

Basta um giro pela internet para encontrar os piores tipos de insultos contra Mayara. Isso quer dizer que a sociedade decidiu dizer a essa "$?%#@&!" que não aceita mais comportamentos desse tipo?

Ou significa que a sociedade reproduz, na sua ira punitiva, ao menos parte do comportamento autoritário que repudia na jovem? Penso que as duas coisas misturadas.

Durante a eleição um twitteiro pediu a morte do candidato Serra e ninguém fez nada. http://blogdowaldeir.blogspot.com/2010/10/twiteiro-pede-morte-de-serra.html

Há outros aspectos. A internet - e o Twitter em particular - está dando publicidade a comportamentos que só tinham vigência no âmbito da vida pessoal de cada um.

Assim como muitos expõem sua vida privada à visitação coletiva sem nenhum receio do ridículo, vários preconceitos também estão se tornando visíveis nas redes sociais.

Talvez seja positivo que as barbaridades que as pessoas dizem no escritório, no clube ou no bar, só entre amigos, possam agora ser objeto de discussão pública, mesmo que isso possa nos virar o estômago ou levar à conclusão de que, definitivamente, o inferno são os outros.

Certos meios sociais do Sul e do Sudeste alimentam antigo preconceito contra nordestinos.

O governo Lula, pelo que representou, fez recrudescer os aspectos mais odiosos desse tipo de mentalidade protofascista, felizmente minoritária.

O início do resgate da dívida social do Nordeste e o protagonismo político da região representam um passo importante para civilizar o Brasil.

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