Policiais hastearam a bandeira do Brasil no largo dos Coqueiros, no alto do Complexo do Alemão, perto do teleférico que está sendo construído.
A operação policial iniciada nesta manhã no conjunto de favelas localizado na zona norte do Rio de Janeiro conta com a participação de cerca de 2.000 homens das polícias militar, civil e federal, além de soldados do Exército e da Marinha. Também atuam no Complexo do Alemão mais de 15 blindados da Marinha e 12 da PM.
O capitão Ivan Blaz, relações-públicas do Bope, confirmou que há reféns no interior do complexo. Segundo ele, policiais estão vasculhando todas as ruas e buscando prender criminosos.
"Como não houve confronto, os marginais covardemente não cumpriram o que falaram durante a semana", afirmou.
A ocupação do Complexo do Alemão revela-se um inventário gigantesco das décadas de crimes cometidos pelo Comando Vermelho no Rio. No início da tarde foi preso um dos bandidos mais procurados pela polícia do Rio, o traficante Elizeu Felício de Souza, o Zeu. O criminoso tem em sua ficha, entre outros crimes, uma condenação por participação na morte do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo. Escondido em sua casa, no Largo do Coqueiro, como se fosse apenas mais um morador, ele não resistiu à prisão.
A morte de Tim Lopes chocou o país. O principal condenado pelo crime é o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, transferido do presídio de Catanduvas, no Paraná, para outra unidade federal, em Porto Velho. Junto com o bandido Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP, Elias Maluco é acusado de ter participado da elaboração dos planos para os ataques da última semana no Rio.
As apreensões ocorrem a todo momento. Já foram recolhidas mais de sete toneladas de maconha, grande quantidade de cocaína e material das bocas-de-fumo, para embalar e misturar a droga outras substâncias.
As armas recolhidas também impressionam. Entre as dezenas de armas longas e curtas, há pistolas dos calibres 40 e 45, de uso exclusivo das Forças Armadas. Este é um indício da colaboração de agentes públicos com o crime, pois muitas vezes o material chega aos traficantes por meio de desvios dos quartéis.
Pai entrega filho – A colaboração de moradores é algo nunca visto na história de guerra contra o tráfico no Rio. Até as famílias dos bandidos estão convencendo traficantes que é melhor não resistir. Pouco depois da prisão de Zeu, foi preso o traficante Carlos Augusto, de 25 anos, conhecido como Pingo.
Pingo foi trazido até o ponto marcado para rendição, na rua Joaquim de Queiroz, pelo próprio pai, o bombeiro elétrico Ivanildo Dias Trindade, de 55 anos. “Tive medo que ele morresse no tiroteio. Agradeço ao Bope por ter capturado meu filho vivo”, disse Ivanildo, observado por moradores, policiais e jornalistas, perplexos com a cena. “Ele tem que pagar pelo que fez”, disse o pai.
Pingo tentou, inicialmente, se camuflar. Ele forçou a entrada na casa de uma vizinha e buscou esconderijo em um parapeito. O capitão Ivan Blaz, do Bope, tentou consolar o pai do criminoso. “É triste ver um filho ser preso, mas a Justiça tem que ser feita”, disse.
(Por Rafael Lemos, do Rio de Janeiro)
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