Mesmo num país com costumes políticos tão degradados, certos comportamentos ainda espantam. A atitude da família Sarney no Maranhão, ao usar um helicóptero público em convescotes privados, é um escárnio não apenas pelo fato em si mas também pela reação que se seguiu.
Não basta que o passeio tenha sido feito em prejuízo do socorro a doentes. Tampouco que o companheiro de patuscada da família do presidente do Senado e de sua filha tenha sido um empresário de ficha duvidosa. É preciso mais, como que para convencer o povo de que as coisas são assim, e pronto.
"Queria que o presidente [do Senado] fosse andar em jumento? Queria o quê? Enfrentar um engarrafamento? Esse helicóptero, é claro, tem que servir os doentes, mas tem que servir as autoridades, esta é a realidade."
Foi assim, com essa naturalidade e desfaçatez, que o vice-líder da governadora Roseana na Assembleia do Maranhão defendeu a família Sarney. Magno Bacelar, do Partido Verde, também reverberou as infames palavras do então presidente Lula sobre o senador: "Ele não é uma pessoa qualquer".
Ao colocar em plano semelhante "doentes e autoridades", Bacelar fez duas coisas. Primeiro, refrescou na memória de todos por que o Maranhão está na lanterna de qualquer ranking de bem-estar, conforme destacou, com o talento habitual, Fernando de Barros e Silva neste mesmo espaço.
Segundo, não falou toda a verdade. O povo local já estaria satisfeito caso tivesse direitos ao menos parecidos aos dos coronéis do sarneysismo, num Estado onde a "realidade" é ostentar certos sobrenomes.
O parlamentar que nos desculpe, mas o Maranhão precisa de tratamento de choque. Para tomar emprestada sua própria imagem, só vai dar certo no dia em que os enfermos tiverem preferência e os políticos, montados em jumentos, enfrentarem engarrafamentos quando quiserem se refestelar na praia.
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