domingo, 18 de outubro de 2009
VOCE CONHECE UMA VENDA?
Tem de tudo para todos. Fubá de moinho, arroz vermelho socado no pilão, rapadura, arreio, milho e feijão. E tem também pinga da roça, doce de leite, fumo de rolo, chapéu de palha e aconchego. Em Jaboticatubas, na região da Serra do Cipó, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, a Venda do Zeca, misto de mercearia e bar, resiste bravamente aos novos tempos e às cruéis exigências de mercado, sem perder freguesia e charme. A fachada é a mesma da época da construção, com a escadaria de pedra, as portas conservam a cor escura, enquanto no balcão, com a portinhola de madeira, se apoia um século de idas e vindas da comunidade. A poucos metros da rodovia MG-020 e à beira do Rio Cipó, o ponto sob administração dos irmãos Marcos e Carlos Eduardo dos Santos Nogueira, filhos de Zeca, é joia rara no cenário do comércio mineiro ao preservar um patrimônio cheio de histórias e tradições.
Ser um herói da resistência em pleno século 21, com essa louca vida on-line, não é muito fácil, admite Marcos. Mas ele e o irmão preferem conservar praticamente intacto o ambiente herdado de José dos Santos Nogueira, falecido aos 87 anos em 2002, que, por sua vez, o recebeu das mãos do seu pai, o tropeiro José Felicíssimo, conhecido como Nicisso. “Tenho cadernetas antigas, com as anotações das entradas e saídas, e ando fazendo pesquisas para saber exatamente quando tudo começou. Pelo que verifiquei, a venda tem 100 anos ou mais”, conta o proprietário.
No início, o local oferecia os famosos secos & molhados, que se traduziam pelos cereais, bebidas, conservas e outros produtos. “O meu avô Nicisso levava mercadorias para as cidades vizinhas, como Santa Luzia e a iniciante capital, e voltava carregado de sal e óleo, os quais eram comercializados aqui”, explica Marcos. O tempo passou e a diversificação se tornou inevitável, embora sem perdas para o clima de empório: “Hoje vendemos cerveja, produtos industrializados, sem deixar de lado o milho a granel servido na concha e pesado na balança. As pessoas dos centros urbanos querem o diferencial, o artesanal, enquanto os moradores locais dão preferência aos industrializados. A vida mudou e, mesmo assim, temos os chapéus de Morro do Pilar, as selas de Prados e a vassoura de capim.”
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário