Primeiro diretor de Gás e Energia da Petrobrás do governo Lula, cargo que ocupou por quatro anos, Ildo Sauer, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, deixou o cargo por discordar da política energética do governo. Ele vê com ceticismo a probabilidade de uma tempestade ter causado o apagão e credita o transtorno a um "problema de gestão".
A seguir, a entrevista à Agência Estado:É provável que o apagão tenha sido provocado por tempestade?
O raio de Bauru (a causa oficial para o apagão de 1999, que atingiu 10 Estados), que deu o Prêmio Pinóquio aos ministros da ocasião, agora talvez vire o Prêmio Rolando Lero, porque estão nos enrolando. O que causa perplexidade é que, tanto tempo depois, ainda não se tenha clareza do que aconteceu. Eventos que podem ser causadores de uma catástrofe dessa monta são de cinco categorias. A primeira é formada por eventos intrínsecos ao sistema, tipo um curto-circuito, um desligamento não programado por causa da proteção do sistema, quando algum parâmetro de temperatura ou algo do tipo foi atingido e ele desliga sozinho, ou quando alguém, em manobra acidental, provoca o desligamento dos sistemas. Você pode ter a perda de uma usina, uma subestação ou outro equipamento.
E as outras causas?
As outras quatro categorias são externas: eventos de força maior, como terremoto e furacão; atos de vandalismo ou terrorismo; tecnologia da informação, com hackers entrando no sistema operativo e mudando o software; ou acidentes graves com choques de veículos, aviões, helicópteros.
O que parece mais evidente?
O que posso dizer agora é que nitidamente estamos diante de um problema de gestão do sistema. Porque se um evento desses acontece, pelo critério de confiabilidade se precisaria desligar aquele equipamento ou sistema e o restante continuaria operando. A perda de um equipamento não pode prejudicar o sistema como um todo. Neste momento, aparentemente temos investimentos suficientes em geração e transmissão.
Se há investimentos, o que justifica a fragilidade?
Isso é que é mais surpreendente: os investimentos aparentemente foram feitos e o sistema não funciona. Se temos os recursos físicos operacionais disponíveis e eles não estão dando resposta, é um problema de gestão e organização do sistema em nível de responsabilidades, é o pessoal batendo cabeça, botando a culpa um no outro, como aconteceu.
Como assim?
Estamos diante de algo circunscrito a duas esferas. Uma é o nível de organização do sistema, o que indicaria que as reformas feitas em 2003 e 2004 ou foram inadequadas ou insuficientes. Mesmo com investimentos e capacidade de sobra, o sistema não opera adequadamente. A segunda é que quando um evento desse tipo acontece, não se sabe dizer qual foi a causa e se demora para fazer o diagnóstico, também temos um problema de gestão e organização.
Fonte: Agencia Estado
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