Lá se vão 70 anos desde que os desenhistas americanos Bob Kane e Bill Finger se inspiraram nos morcegos para criar o herói dos quadrinhos Batman. No ano em que o personagem ganha série de homenagens em várias partes do mundo, alunos e professores da Casa dos Quadrinhos resolveram propor uma curiosa exposição, que será aberta nesta terça à noite, na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, em BH.
De forma livre, sem qualquer tipo de restrição, partiram do visual do herói mascarado para criar cartoons, pinturas, ilustrações digitais, desenhos realistas e esculturas. O que os levou a propor o tributo é a particularidade do personagem. Ao contrário dos outros heróis, que abusam de superpoderes para combater a criminalidade, Batman não tem nenhum dom especial. Somente a persistência e a inteligência. “É um cara determinado. Não desiste tão fácil”, explica Jean Paulo Lopes, um dos curadores da exposição, acrescentando que outras curiosidades serão apresentadas no evento.
Batman
Quando o homem-morcego foi criado em 1939, os quadrinhos de heróis estavam entrando na sua fase de ouro. O surgimento do super-homem, em 1938, fundara uma nova época. A partir de então todos os heróis tinham que ser superpoderosos. Uma pena, pois o sombrio personagem de Bob Kane teve de sofrer uma longa metamorfose na qual foi se tornando o detetive mais inteligente da Terra. Tão genial que criou um megacomputador capaz de processar qualquer informação, um cinto de utilidades do qual tirava quase tantas engenhocas quanto o personagem Esqualidus (da Disney) conseguia tirar de seu minúsculo bolso. Ganhou também um carro beirando ao fantástico que, como todos os seus itens, ganhou o prenome “bat” (batmóvel).
Para criar uma identidade com o público adolescente surgiu um garoto como parceiro: Robin, o menino prodígio. Na década de 1960, com o terrível código de ética dos quadrinhos, o Batman perdeu também seu humor intempestivo e se tornou uma figura leve. Mas nos anos 1970, ele foi voltando ao seu formato original. Abandonou Dick Grayson (o Robin), voltou a trabalhar sozinho na noite sombria de Gotham City e – apesar de continuar sendo um detetive de grande capacidade dedutiva – aderiu ao uso da violência para resolver seus casos. Enfim, tornou-se novamente um psicótico alucinado pelo fantasma do assassinato de seus pais. O cinto de utilidades e o supercomputador permaneceram, mas passaram a ter uma participação mais tímida em suas histórias.
Em 1987, Frank Miller pegou o personagem e criou a mais consagrada graphic novel de super-herói de todos os tempos: Cavaleiro das Trevas. Nela, Miller conta uma história no futuro, quando o milionário Bruce Wayne completa 60 anos e volta às ruas de Gotham City com a velha roupa do homem-morcego. No cenário de Miller, Gotham City está mais sombria do que nunca e o Batman, mesmo após uma aposentadoria de dez anos, permanece violento. Tão violento que deu a maior surra no homem de aço já descrita em qualquer história. A obra é maravilhosa e consagrou o apogeu da nova fase do homem-morcego.
Na seqüência, Miller reescreveu a origem do herói numa outra saga consagrada: Batman ano um. O personagem teve uma grande leva de boas histórias depois disto - como A Morte do Robin, Asilo Arkhan e Piada Mortal - e foi parar na tela do cinema cinco vezes. Ele também se tornou duas maravilhosas séries de animação para TV.
Mas com o passar do tempo se esgotou, principalmente durante os anos 1990, quando a editora americana Image imprimiu no mercado de quadrinhos uma prática de supervalorização do desenho em detrimento dos argumentos. Nesta fase, Bruce Wayne ficou tetraplégico e um novo Batman ainda mais violento surgiu em seu lugar. Depois, voltou a andar, fez amalgamas terríveis com Wolwerine; e ainda passou pela vexatória experiência de Cavaleiro das Trevas 2, em que Frank Miller errou completamente a mão e consagrou a fase ruim do herói.
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