domingo, 20 de dezembro de 2009

NEM TODOS


Para mais de 90% da população brasileira, 24 de dezembro é um dia especial, quando as famílias se reúnem para celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Esse é o percentual de pessoas que, de acordo com o último censo do IBGE, fazem parte das religiões cristãs, como a católica e a protestante, no país. Para esses milhões de brasileiros, Jesus é o filho e enviado de Deus à Terra, e por isso o Natal, juntamente com a Páscoa, é o dia mais importante do calendário cristão.

Para uma minoria da população, no entanto, não há nada de especial nesta data. São aqueles que não são religosos e os que seguem as religiões não cristãs. Apesar de parecer pouco em porcentagem, esse grupo está cada vez mais expressivo no Brasil. Muitos dos adeptos dessas religiões, como o Budismo e o Islamismo, são frutos de famílias católicas, mas buscaram em outras correntes religiosas as respostas para seus questionamentos. Porém, mesmo tendo abandonado as crenças cristãs, continuam participando das festas natalinas. É o caso do estudante de arquitetura Mauro Assis, 24. Criado em uma família de mãe espírita e pai católico, ele se converteu ao Islamismo aos 16 anos.

Assis conta que uma das razões que o levou ao Islamismo foi a busca por uma religião que aceitasse e acompanhasse o avanço científico. Com a conversão, Mauro teve que se adaptar a uma nova realidade. Viver em uma família que seguia as festividades católicas, mesmo sem partilhar da mesma visão:

“Eu frequento as festas para fortalecer os laços familiares, mas o Natal não tem nenhum significado pra mim. Se eles rezam a Ave Maria e o Pai Nosso, eu fico olhando, espero terminar”, afirma.

Embora não comemorem o nascimento de Cristo, os islâmicos o consideram uma figura importante. Para o Islamismo, Jesus é um profeta, assim como Maomé e Abraão, e seu nome é citado várias vezes no Alcorão. No entanto, os islâmicos não veneram nenhum de deles, e por isso o nascimento de cada um é considerado um fato comum.
Apesar de não celebrar seu nascimento, muitas religiões acreditam e respeitam a figura de Jesus Cristo - (Getty Images)
Apesar de não celebrar seu nascimento, muitas religiões acreditam e respeitam a figura de Jesus Cristo

O Judaísmo também crê na existência de Jesus, mas, ao contrário do Cristianismo, não o considera um enviado de Deus. ''No Judaísmo, nenhum dos personagens é divino, e por isso nós não celebramos o nascimento de nenhum deles'', explica o rabino Leonardo Alanati, da Congregação Israelita Mineira.

Por isso, as famílias judias passam o Natal como se fosse um dia comum. Mesmo assim, é difícil não se deixar afetar pelo frenesi que o Natal causa, principalmente entre as crianças. A jornalista Brenda Dorf, 24, relembra uma história que sua mãe lhe conta, ocorrida quando ela era pequena:

"Ela diz que estava comigo no shopping, e eu comecei a gritar que queria uma árvore de Natal. Minha mãe dizia que não podia comprar porque nos éramos judeus, e eu disse: quando eu deixar de ser judia você compra uma?".


Episódio à parte, ela conta que cresceu sem sentir falta de participar das tradições natalinas, pois desde muito cedo seus pais lhe ensinaram que os Judeus têm uma visão de Jesus diferente da visão cristã.

As religiões orientais, como o budismo, xintoísmo e taoísmo, também não comemoram o Natal, embora nos últimos anos a influência ocidental tenha provocado um boom de consumo nesta época, em países como o Japão, por exemplo.

O Budismo, uma das maiores religiões do Oriente, vem ganhando muitos adeptos no Brasil. Segundo o último censo do IBGE, em 2000 eram cerca de 215 mil praticantes no país. Muitos deles adotam o Budismo como uma filosofia, e não como uma religião, e convivem em harmonia com as tradições católicas.

O engenheiro aposentado Fernando Guedes, 76, teve criação católica, mas, desiludido com as práticas da instituição, entrou em contato com o Budismo na década de 80. Desde então, tornou-se praticante da corrente zen. Mas mesmo sem se considerar religioso, Fernando irá participar das festividades de Natal com mãe, filhos e netos:

''Mantenho boas relações com quem quer continuar com a religião formal, mas pessoalmente não tenho interesse. Valorizo a comemoração pelo lado humano, pois através dos encontros você pode se motivar, motivar as pessoas, então eu não jogo isso fora".

O budista José Arlindo, 48, voluntário da Sociedade Budista do Brasil, confirma a posição de Fernando, e vai até um pouco além. Afirma que, no país, todo budista ''é também um pouco católico'' pois não há como não se deixar influenciar pelas fortes tradições que vigoram no país:

''Aqui não existe radicalização. No Natal a gente se reúne, visita a família. A gente não costuma ir às missas e cerimônias na igreja, mas também não nos recusamos''.

Ano Novo

Algumas religiões também apresentam diferenças em relação às festividades de ano novo. Embora no Brasil a passagem de ano tenha um caráter civil, em algumas culturas a data é relacionada à religião.

É o exemplo do Judaísmo, que tem a festa do Rosh Hashana para celebrar a passagem de ano. Como o calendário judaico é diferente do calendário gregoriano, que é adotado no Brasil e na maioria dos países do mundo, a virada é comemorada geralmente no mês de setembro.

Nesta festa, nada de roupa branca ou de flores para Iemanjá. Costuma-se usar roupas novas, o que não é uma obrigação. Na mesa, a refeição tradicional são maçãs com mel, que simbolizam a chegada de um ano bom e doce.

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