segunda-feira, 14 de setembro de 2009

CUSTO DE VIDA


Apesar de estar presente em mais de 95% dos domicílios brasileiros, chegando a 98% dos lares em Minas, o gás de cozinha ainda enfrenta a concorrência da lenha, que tem seu uso ampliado com a aceleração dos preços do popular botijão de 13 quilos. No país, o gás liquefeito de petróleo (GLP) tem maior penetração que a água canalizada, que chega a 83% das residências, e que o esgoto, em 51% dos lares. O peso do gás só é comparado ao da energia elétrica, presente em 98% das residências.

No malabarismo para driblar os reajustes do insumo básico, a utilização da lenha não se restringe aos ambientes rurais. Nos centros urbanos, a população abre mão do conforto de acender o fogão a gás e acaba dividindo o preparo dos alimentos entre as duas formas de energia. Enquanto o café e o arroz são preparados no gás, o feijão e os assados são feitos a lenha. Os fogões variam de equipamentos bem construídos a pequenos fogareiros improvisados entre tijolos, que, apesar do risco de incêndio e da fumaça excessiva, propiciam uma economia que chega a R$ 42 por mês, preço médio do botijão de 13 quilos em Minas. Segundo levantamento do Sindicato do Comércio Varejista e Transportadores de Gás (Sintgás), de janeiro a julho o preço do produto acelerou 36% em Belo Horizonte. O valor pago pelo consumidor já corresponde a 9% do salário mínimo.

Genésio Bosco do Nascimento recebe cerca de R$ 500 por mês como porteiro. O último botijão de gás lhe custou R$ 40, valor alto demais para o seu orçamento. A solução encontrada pela família de quatro pessoas é acender mais vezes o pequeno fogão feito de cimento. “Usamos a lenha para cozinhar o feijão e os alimentos que levam mais tempo. É mais trabalhoso e muito cansativo, mas a única saída para darmos conta do aumento abusivo do gás”, critica. Genésio, que há 50 anos mora no Aglomerado da Serra, aponta que na sua vizinhança a alternativa é bastante comum. “Sem dúvida, pelo menos 30% do aglomerado usa lenha e gás.” O cálculo do morador não está muito distante dos números do Ministério de Minas e Energia, que mostram que a madeira ainda tem grande força na composição da matriz energética brasileir a, ocupando a fatia de 35%.

“O gás de cozinha é o principal energético da baixa renda. Seu peso no custo de vida é muito grande, superior ao da telefonia celular, ao da água e do esgoto”, compara o economista da Fundação Getulio Vargas André Braz. Para ter ideia, enquanto o gás consome 1,61% da renda familiar brasileira, entre a população de baixa renda, o peso do energético no custo de vida mais que dobra, é de 3,81%, ante 3,64% da água e 0,41% do celular.

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