sexta-feira, 11 de setembro de 2009

DE POBRE A RICO E DE RICO A POBRE


Em 2007, o brasileiro Marlucio Rosa Ferreira, de 47 anos, morava em Norcross, no Estado da Geórgia, Estados Unidos, no que ele define como “uma mansão com 12 cômodos, piscina e banheira jacuzzi”.

Ele ainda era proprietário de um bar com capacidade para 255 pessoas e tinha uma picape, uma minivan e duas motos, “todos zero quilômetro”, como gosta de enfatizar.

“Em dois anos, acabou tudo. Fui parar no porão do meu cunhado. Foi complicado, meu amigo”, conta Marlucio, que primeiro viu seu bar ir à falência, depois perdeu um de seus dois empregos e, por conseguinte, não conseguiu permanecer em dia com as prestações de sua casa, quando o valor subiu cerca de 30%, durante a chamada bolha imobiliária.

Mineiro de Itabira, Marlucio chegou aos Estados Unidos há 14 anos. Ele se mudou de Massachusetts para a Geórgia em 2001, com sua mulher e filha.

Pouco após chegar, resolveu comprar uma casa. Ele tinha dois empregos - um em um restaurante, outro em um supermercado - com os quais faturava algo na faixa de US$ 8 mil ou mais, quando fazia uma boa dose de horas extras.

Vida mansa
Ele conta que não teve problemas em dar a entrada de US$ 42 mil em sua casa e nem em pagar as prestações mensais de US$ 1.250 do financiamento de 30 anos, porque, além do bom salário, tinha uma vasta poupança e um bom histórico de crédito.

“Por 12 anos, mantive um bom crédito. Chegava em qualquer banco americano e levava US$ 40 mil na hora. Meu crédito era ‘top’.”

Munido de seu crédito, o brasileiro resolveu enveredar por novos empreendimentos. Em 2006, Marlucio abriu um bar na região em que morava, que funcionava de segunda-feira a domingo. O local atraía muitos fregueses brasileiros com seus quitutes típicos e música ao vivo.

“Abrimos em maio, logo depois teve a Copa do Mundo. Nesse ano, juntei muito dinheiro. No primeiro ano, cheguei a faturar US$ 8 mil numa noite. Até 1h da manhã tinha cliente no bar.”

Começo da crise
Mas logo a sorte começou a mudar. “No final de 2007, fiscais da imigração começaram a fazer blitzes nas imediações do bar. Como tinha muito frequentador que era brasileiro sem documentação, eles passaram a deixar de ir.”

Os lucros do bar começaram a cair e, com o aumento da prestação de sua casa, Marlucio começou a “enrolar, um mês atrasava o pagamento do bar, no outro, o aluguel da casa”.

O bar acabou quebrando no final de 2007. “Não aguentei pagar mais. Tive que abrir falência e provar junto ao banco que eu não tinha condições.”

A situação dele se agravou ainda mais quando o restaurante em que trabalhava em meio expediente cortou empregados, no início de 2008.

Com a redução de seus rendimentos, ele passou a ter sérias dificuldades em arcar com os gastos de sua residência, que chegavam a US$ 4 mil mensais.

“Acabei entregando a chave para o banco. Cheguei lá e avisei: ‘estou me mudando, a chave está lá dentro. Pode ir buscar’.”

Álcool e drogas
Junto com os transtornos financeiros, Marlucio também conta ter mergulhado em um inferno pessoal. “Na hora em que perdi tudo, caí na bebida e na droga. Não foi pouco, não. Foi de cocaína para cima.”

Ele conta que se não fosse o apoio da igreja e de sua mulher, talvez não tivesse conseguido superar os contratempos.

Marlucio resolveu fazer as malas e se mudou provisoriamente para Boston, onde ficou hospedado por alguns meses no porão da casa de seu ex-cunhado até que conseguisse resolver sua vida.

De lá, resolveu tentar a sorte em Hartford, no Estado de Connecticut. Com um índice de desemprego na faixa de 7,8%, o Estado, no nordeste americano, parecia bem mais promissor que a Geórgia, assolada por um índice de 10,3%.

Lá ele arrumou um novo emprego de meio expediente, em um restaurante, após ter passado seis meses procurando. Ele acumula este com um trabalho de tempo integral, como inspetor de qualidade de produtos de um supermercado. Juntamente com a mulher, que também tem dois empregos, ele aluga uma casa, que com dois quartos, sala e cozinha, é bem mais modesta que a “mansão” da Geórgia.

Ele conta que vem tentando se adaptar à nova realidade. “Pobre virar rico é fácil. Rico virar pobre é que não é fácil, xará.”

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