quarta-feira, 22 de setembro de 2010

BORNHAUSEN RESPONDE A LULA


O ex-senador Jorge Bornhausen (SC), presidente de honra do Democratas,
escreve um artigo em resposta ao presidente Lula, que defendeu ontem,
num comício em Joinville, a necessidade de extirpar o DEM da vida
pública. Também fez um ataque pessoal a Bornhausen e à sua família.
Segue o artigo:

Espero que não seja um grito da 25ª hora, quando tudo está perdido. De
qualquer forma, antes que se cumpra a promessa de eliminação anunciada
em praça pública pelo presidente da República, peço a palavra. E
espero que me seja concedida a mesma audiência dada à agressão nominal
que me atingiu junto com milhões de companheiros de partido espalhados
pelas 27 unidades da Federação.

Quero dispor da expectativa democrática a que, mal nos acostumamos,
nos querem tirar, e reagir com legítima indignação à ameaça estúpida e
que se cumprirá, sem dúvida, quando for efetivada a prometida
transformação deste pais em república bolivariana à moda do tão
estimado companheiro Chávez. Então, a intolerância já terá sufocado os
jornais e eliminado as redes de televisão que transmitem novelas,
conforme prometeram os oradores na inauguração da primeira TV
sindical, no ABC.

Por enquanto, porém, os cidadãos ainda podem reagir a agressões e
provocações. Mesmo que venham do presidente República e apesar de
proferidas em momento de explosão de ódio político para constranger o
povo de Santa Catarina. Ela são inaceitáveis num chefe de estado no
exercício do mandato e que, portanto, não pode e não deve discriminar
uma parcela dos seus cidadãos, prometendo fazê-los desaparecer como
expressão política legítima de uma parcela da população.

Na última segunda feira, 13 de setembro, em Santa Catarina o
presidente abandonou o triunfalismo absolutista de que tem usado e
abusado como se fosse um ditador anedótico de republiqueta para
favorecer o PT e aliados e foi além. Especificamente, deixou de
atender a recomendações que o bom senso aconselha a quem quer que se
apresente ao povo de Santa Catarina. No seu discurso em Joinville, ele
incidiu em quatro preceitos que, de nenhuma maneira, poderia ter
violado:

1º - Não faltar à verdade;

2º - Não reinaugurar obras;

3º - Não desrespeitar as famílias catarinenses, pois, terra de
emigrantes, todos sabem quem são de onde vieram e como construíram
suas vidas:

4º - Não ingerir excessivamente bebidas alcoólicas antes dos discursos
em comícios

Por que faço política com idéias respeito com rigor quem pensa
diferente e até me honro de ter amigos entre eles , não me envolvo com
a violência, com corrupção nem contemporizo com ladrões públicos.
Orgulho-me de haver participado da fundação da Nova República, em
1985, com o reconhecimento dos que a criaram de fato, como Tancredo
Neves e Ulysses Guimarães, quando muitos a renegaram para depois dela
usufruir. Pouco me importa não contar com a simpatia de presidente.

Estamos em campos diametralmente opostos, do ideológico ao ético, e
nunca estivemos juntos em coligações ou projetos. Acho que tal
divergência é legítima, democrática, e a República é suficientemente
tolerante para que convivamos civilizadamente. E não há nada que a
Constituição, a Justiça e eleições livres e periódicas não dirimam. O
respeito, porém, é essencial e indispensável, e não é conferido aos
presidentes da República o direito de explosões grosseiras,
difamatórias, ameaçando cidadãos e partidos adversários de eliminação.

Finalmente, quando disse, em Santa Catarina, que conhece os
Bornhausen, sugerindo ter a chave de segredos privilegiados e
suspeitas ignominiosas, o presidente cometeu um ato de extrema
presunção. Raro será o catarinense, em todos os partidos, regiões e
classes, que não conheça os Bornhausen, uma família que, através de
gerações, não renega o passado de trabalho dos seus fundadores,
emigrantes como meus avós. E sempre contei com respeito de todos,
retribuindo-o.

Mais do que o protesto, de que tomo a iniciativa por considerá-lo
indispensável, já que a agressão foi pública e insolente, quero
lamentar profundamente a falta de compostura e civilidade de quem
deveria se orgulhar de ser o presidente de todos os brasileiros, mas
que optou por se tornar um raivoso chefe de facção, mesmo que
eventualmente majoritária, pois, em termos democráticos, os mandatos
têm tempo e atribuições limitadas. Por exemplo, não lhe confere o
direito de eliminar os adversários e extinguir partidos.

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