Em 2003, o Bom Dia Brasil me enviou para Caracas. Era um momento decisivo da fratura da sociedade venezuelana. Conversei com muita gente, vi imagens fortes, acompanhei passeatas e entrevistei Chávez.
Diversas vezes ouvi, de um lado e de outro, que Lula era igual a Chávez. Sempre reagi, ofendida, falando das convicções democráticas de Lula para acentuar a diferença.
Continuo achando que Lula tem mais virtudes que Chávez, mas para quem viu aquele momento, as semelhanças com esse final de governo são assustadoras.
Uma das táticas do presidente venezuelano era atacar a imprensa. Dizia que ela abusava da liberdade que ele "concedia", tratava os jornalistas como inimigos, acusava os jornais de serem partidos políticos, gritava em comícios que havia uma unidade entre ele e a opinião pública, como se as pessoas fossem uma massa sem diversidade de pensamento.
Lula tem criticado a imprensa diariamente. Não é novidade. Mas no discurso de sábado, ele foi ainda mais fundo no modelo chavista, num ataque desconexo e impróprio aos órgãos de imprensa que, na opinião dele, são "uma vergonha" e "destilam ódio e mentira".
Prometeu "derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem um partido político" e firmou que esses órgãos "não são democratas e pensam que são democratas".
A democracia não pertence ao presidente. Pela sua natureza, ela é construção coletiva. Foi construída por uma luta coletiva e só por ela será preservada. O governante é apenas, por um tempo determinado, investido do poder de governar.
Isso não lhe dá poderes divinos, nem o direito de ofender com a acusação de não ser democrata qualquer pessoa que pensa de forma diferente, ou que diz ou escreve o que ele não considera conveniente.
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