sábado, 18 de setembro de 2010

"FOI UMA TRAIÇÃO, UMA COMPLETA TRAIÇÃO" - ERENICE

Numa manhã de julho do ano passado, o jovem advogado Vinícius de Oliveira Castro chegou à Presidência da República para mais um dia de trabalho. Entrou em sua sala, onde despachava a poucos metros do gabinete da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e de sua principal assessora, Erenice Guerra Vinícius se sentou, acomodou sua pasta preta em cima da mesa e abriu a gaveta.

O advogado tomou um susto: havia ali um envelope pardo. Dentro, 200 mil reais em dinheiro vivo – um “presentinho” da turma responsável pela usina de corrupção que operava no coração do governo Lula.

Apavorado com o pacotaço de propina, o assessor neófito resolveu interpelar um colega: “Caraca! Que dinheiro é esse? Isso aqui é meu mesmo?”. O colega tratou de tranquilizá-lo: “É a ‘PP’ do Tamiflu, é a sua cota. Chegou para todo mundo”.

A “PP” entregue ao assessor referia-se à comissão obtida pela turma da Casa Civil ao azeitar o negócio Segundo o assessor, o governo comprara mais Tamiflu do que o necessário, de modo a obter uma generosa comissão pelo negócio.

Depois que VEJA revelou a existência do esquema em sua última edição, Vinícius e outro funcionário do Planalto, Stevan Knezevic, pediram demissão, a ministra Erenice caiu – e o governo adernou na mais grave crise política desde o escândalo do mensalão, e que ronda perigosamente a campanha presidencial da petista Dilma Rousseff.

Antes de cair em desgraça, o assessor palaciano procurou o tio e admitiu estar intrigado com a incrível despreocupação demonstrada pela família Guerra no trato do balcão de negócios instalado na Casa Civil. Disse o assessor: “Foi um dinheiro para o Palácio. Lá tem muito negócio, é uma coisa. Me ofereceram 200 000 por causa do Tamiflu”.

Vinícius explicou ao tio que não precisou fazer nada para receber a PP. “Era o ‘cala-boca". O assessor disse ainda ao tio que outros três funcionários da Casa Civil receberam os tais pacotes com 200 000 reais; porém não declinou os nomes nem a identidade de quem distribuiu a propina. Diz o ex-diretor dos Correios: “Ele ficou espantado com aquela coisa. Eu avisei que, se continuasse desse jeito, ele iria sair algemado do Palácio”.

Escalado para defender o governo e a candidata Dilma, o ministro da saúde, foi à televisão negar o caso do Tamiflu. Temporão, tal qual menino da alfabetização, leu uma nota, claramente não redigida por ele, bisonhamente, tentando manter um olho na câmera e outro no texto, demonstrando medo de errar na leitura. Melhor que não fizesse defesa tão artificial.

"Não tinha nenhum filho da Erenice na Casa Civil. O que tinha lá eram amigos dele [trabalhando no governo]. Se esses amigos cometeram algum delito, lamento a indicação deles, lamento profundamente", afirmou Dilma.

Lamentar, tão sómente?Muito pouco para quem quer governar esse país!

"Foi uma traição, uma completa traição", disse a ex-ministra Erenice.

"Depois que uma pessoa passa a exercer um cargo público, seus filhos devem parar de se relacionar, trabalhar e ter amigos?", questionou. "Terão todos que viver à minha custa?", pergunta Erenice.

Que traição é essa? Traição entre comparsas? Sob as custas de quem vão viver os parentes de Erenice não é uma questão do povo brasileiro, mas às custas do erário público é que não deve ser.

E a questão maior não é essa. A questão é que a Casa Civil desde o início do governo Lula tem servido a esses expedientes, no caso agora, a responsável direta era Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil e o co-responsável o ocupante do gabinete presidencial, senhor Lula da Silva.

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