domingo, 2 de maio de 2010

COMO ESTÃO OS SÍMBOLOS DO FOME ZERO


Em janeiro de 2003, poucos dias depois de tomar posse para seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Itinga, no Vale do Jequitinhonha – uma das regiões mais pobres do país. No coreto da praça, ao lado de uma comitiva de ministros, prometeu melhorar as condições de vida do município, escolhido como um dos símbolos do Programa Fome Zero, que tem como principal ação o Bolsa-Família. Levou também a comitiva a Guaribas, no Sudeste do Piauí, e às palafitas de Brasília Teimosa, no Recife (PE), e repetiu a promessa de transformar a vida das pessoas ao lançar o programa.

Em Itinga, o presidente anunciou a imediata construção de uma ponte sobre o Rio Jequitinhonha, que corta a cidade, e a reativação do único hospital de Itinga – que, mesmo equipado, estava fechado –, cuja pedra fundamental havia sido lançada pelo próprio Lula 10 anos antes, quando esteve na cidade durante a viagem denominada Caravana da Cidadania.

Passados quase sete anos e meio desde janeiro de 2003 – intervalo em que Lula foi reeleito para o segundo mandato e agora tenta eleger Dilma Rousseff para manter o PT no comando do país –, a paisagem de Itinga mudou com a construção da ponte, inaugurada pelo presidente em março de 2004, e a fome que atingia boa parte da população foi aplacada pelo Bolsa-Família, que atende atualmente 2.100 famílias no município. Mas a situação ainda é de muita pobreza na cidade de 10,5 mil habitantes. Não foi à toa que Itinga ficou em último lugar no Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS), datado de 2006 e medido pela Fundação João Pinheiro.

O impacto do Bolsa-Família na economia local é grande. O benefício mensal é praticamente a única fonte de renda para as 2.100 famílias atendidas. O programa, que dá dinheiro a quem antes não tinha nada, não inclui, porém, nenhuma ação para evitar que os beneficiários se tornem dependentes do auxílio.

Já em Guaribas, o Bolsa-Família funciona como complemento de renda e é recebido por 96% dos 4.600 habitantes. Para o prefeito Ericlélio Andrade (PRB), o dinheiro do governo tornou muitos habitantes de Guaribas dependentes. “O povo ficou conformado com o Bolsa-Família e não quer enfrentar adversidades”, disse

O principal programa social do governo criou duas classes de habitantes na cidade piauiense: o conformado e o empreendedor. A primeira classe acha que a situação é confortável com a verba federal que sempre é depositada no banco. A segunda aposta no Bolsa-Família como um complemento para melhorar de vida e quer investir na cidade. O contato com as pessoas que recebem o Bolsa-Família nas duas cidades mostra que, excluindo o dinheiro para compra de comida (nem sempre suficiente) e o material escolar para manter os filhos na escola (uma das condicionantes do programa), a vida dos moradores mais carentes pouco mudou e permanecem dificuldades como falta de emprego e de atendimento à saúde.

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