sábado, 30 de outubro de 2010

SERRA DESAFIA LULA NO SEU REDUTO


O candidato de oposição à Presidência da República, José Serra (PSDB), escolheu a dedo os locais para seu último roteiro de campanha. Neste sábado, ele liderou uma carreata por São Bernardo do Campo, seguida de uma passeata pela vizinha cidade de Suzano, ambas na região do ABC paulista.

Foi no ABC que, não custa lembrar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva construiu sua liderança sindical e, desta, partiu para a carreira política que o levaria à Presidência depois de três tentativas fracassadas. Pois foi neste ABC — sigla formada pelas iniciais de Santo André, São Bernardo e São Caetano, cidades-berço do movimento grevista dos metalúrgicos que afrontou o regime militar em 1979 — que Serra decidiu investir, no último dia de campanha.

Os próprios tucanos, entusiasmados, não escondem: a intenção é mesmo desafiar Lula no seu quintal. Lula, aliás, deve votar neste domingo a dois quilômetros do local onde começou a carreata dos seus adversários.

— Viemos enfrentar o adversário no seu próprio campo de batalha — resume o deputado estadual Orlando Morando (PSDB), que organizou e teve a ideia de convocar Serra para investir na carreata e na passeata no coração dos lulistas.

A provocação não é nem a Dilma Roussef (PT), a adversária nominal de Serra na disputa desse domingo, mas a Lula — o verdadeiro e maior obstáculo aos tucanos para reconquistar a Presidência. Afinal, antes de Lula ungi-la como candidata oficial à continuidade do seu projeto, Dilma nunca tinha disputado um pleito, argumenta o deputado Morando, acompanhado de sorrisos dos seus correligionários. Natural que o alvo nesse final de campanha seja mesmo Lula.

É claro que os tucanos também têm seus votos nas cidades do cinturão metalúrgico. Não tanto como os petistas, que dominam a prefeitura de São Bernardo do Campo e a maioria dos vereadores na região. Mas o deputado Morando, por exemplo, é serrista e o mais votado na região do ABC. Fez 138 mil votos para alcançar seu terceiro mandato, em pleno reduto dos adversários.

Foi pensando nisso que José Serra investiu nesse encerramento de campanha no local de maior triunfo dos seus adversários. Fugiu um pouco do conselho dos próprios tucanos, que nos últimos dias recomendaram que o candidato buscasse ampliar popularidade nas regiões onde já foi vitorioso no primeiro turno, como Belo Horizonte e o interior paulista, por exemplo.

Desembarcou em São Bernardo de helicóptero, acompanhado pelo governador eleito de São Paulo e correligionário, Geraldo Alckmin. Ele percorreu num caminhão aberto a principal avenida da cidade, escoltado por dezenas de carros e centenas de militantes que corriam ao lado, a pé. Só a chuva, presente durante toda a tarde, atrapalhou um pouco.

O tucano, como se vê, resolveu meter o bico e as garras no ninho adversário. Até um locutor que imita Lula, sua voz rouca e a língua presa foram convocados para animar a passeata do PSDB — ao microfone, o imitador pedia votos para Serra e criticava Dilma.

O temor de confrontos com cabos eleitorais petistas não se confirmou, até o anoitecer. Ocorreu, isto sim, atraso. Serra chegou de Minas Gerais às 16 horas e levou ainda outra hora para chegar a São Bernardo — retardando em duas horas o roteiro que estava previsto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário