segunda-feira, 25 de outubro de 2010

UM MILHÃO DE VOTOS DE DIFERENÇA PRÓ-SERRA NO RIO GRANDE DO SUL


O deputado federal Osmar Terra (PMDB), uma das principais lideranças da campanha do presidenciável José Serra (PSDB) no Rio Grande do Sul, aposta em uma virada do tucano no segundo turno. A começar pelo próprio Estado, onde Dilma Rousseff (PT) venceu por mais de 400 mil votos no primeiro turno. O peemedebista acredita que Serra terá uma vantagem superior a 1 milhão de votos no Rio Grande do Sul, como ocorreu com Geraldo Alckmin (PSDB), que venceu Lula (PT) entre os eleitores gaúchos em 2006. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Terra avalia as propostas das duas candidaturas que disputam o Planalto e fala da campanha no Estado e da importância estratégica de uma vitória de Serra na região Sul.

Jornal do Comércio - O senhor é uma das lideranças da campanha de Serra, mas integra o PMDB. Como isso ocorreu?

Osmar Terra - Desde o início, falei com o (presidente nacional do PMDB e candidato a vice na chapa da petista Dilma Rousseff, Michel) Temer: "Se for candidato a presidente da República, farei campanha. Mas não farei campanha para vice da Dilma". Nosso principal adversário no Estado é o PT. Além de o conhecer e achar que é o melhor para o Brasil, acredito que o apoio ao Serra para o PMDB do Rio Grande do Sul é o melhor caminho.

JC - No primeiro turno, Dilma teve vantagem de 400 mil votos em relação a Serra no Rio Grande do Sul. Como o senhor projeta o segundo turno?

Terra - Serra ganha no segundo turno e bem. Vamos trabalhar para fazer mais de 1 milhão de votos (de diferença).

JC - O que mudou agora?

Terra - Primeiro, os partidos ficaram mais livres para fazer a campanha. Tínhamos um candidato a governador (José Fogaça, PMDB) com posição de neutralidade em função da coligação que o sustentava. Depois, fizemos uma assembleia com toda a base do partido e se optou por apoiar Serra por imensa maioria. E os nossos dois candidatos majoritários, Germano Rigotto (que disputou o Senado) e Fogaça, também.

JC - Ainda existe expectativa de que o senador Pedro Simon declare voto em Serra?

Terra - Não sei, Simon está em Brasília e ainda não conversamos... Essa é uma outra eleição. Serra, em relação aos votos que teve, aumentou no segundo turno. Teve migração de votos para ele. Dilma está mais ou menos com os votos que teve, um pouco mais. A migração dos votos de Marina (Silva, PV) foram mais para Serra do que para Dilma. E o próprio eleitor da Dilma e do Serra ainda vai ter uma semana para pensar. A eleição se decide muito nos últimos dias. As pesquisas erraram muito longe no primeiro turno. E o resultado da eleição pode ser bem diferente do que o das pesquisas.

JC - Qual é o caminho para uma virada?

Terra - Trabalhar bastante. Depende muito do horário eleitoral. A eleição hoje é 60% de horário eleitoral e debates na TV e 40% de militância. E Serra se saiu muito melhor. Então, agora é organizar a militância, ir para rua e pedir votos.

JC - Por que Serra está dando tanta atenção ao Rio Grande do Sul no segundo turno?

Terra - A região Sul é estratégica. Os três estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) devem dar uma diferença de votos importante para Serra. Ele vai ganhar nas três regiões - porque a divisão do mapa eleitoral do País é em quatro regiões. Centro-Oeste/Norte ele ganha. No Sudeste também deve ganhar. Quanto maior for a diferença, maior a chance. E deve ganhar com uma diferença maior no Sul.

JC - Então o Sul pode neutralizar o Nordeste e definir a eleição para Serra?

Terra - Quem decide a eleição do Serra é Minas Gerais. Quanto maior for a diferença em Minas e menor no Rio de Janeiro. Na região Sul, Serra ganha. No Rio Grande do Sul, com certeza, como Alckmin ganhou. Se dependesse do Rio Grande do Sul, Alckmin era presidente no primeiro turno (em 2006). Nossa meta é que Serra faça a votação que Alckmin fez aqui (55,3%).

JC - Especula-se que o senhor será ministro da Saúde em um eventual governo Serra. O senhor tem esse desejo?

Terra - Faço campanha para Serra porque acredito nele. Nunca eu ou Serra falamos isso (Ministério da Saúde). Ninguém tocou nesse assunto. Inclusive, se eu pudesse optar, se ele me convidasse, gostaria desse papel que o (deputado Henrique) Fontana (PT) teve, de ser líder do governo (Lula). Acaba influenciando muito mais e ajudando muito mais.

JC - Qual é a sua avaliação do primeiro turno?

Terra - O bem-estar da população e a perspectiva de melhorar de vida influenciam a política. Se a eleição fosse no ano passado, Serra ganhava no primeiro turno, porque havia a crise. Mas o País tem uma base econômica sólida, a partir do Plano Real. E que não é reconhecida, parece que tudo começou com Lula. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) estabilizou a moeda, fez a Lei Responsabilidade Fiscal e saneou os bancos. Com isso, se criou uma base sólida para chegar nesse ponto. Lula manteve as bases da política econômica de FHC, o que ajudou a superar essa crise. Mas não é possível comparar um processo no 16º ano com um processo no 8º ano. É como uma criança de 8 anos e um adolescente de 16.

JC - E fora a tese de eleição plebiscitária - comparar os governos FHC e Lula -, como o eleitor pode diferenciar as candidaturas?

Terra - Há duas pessoas para conduzir o futuro do Brasil, que não são nem o Lula nem o FHC. Serra não é o FHC, embora tenha ajudado o governo. Mas ele tinha críticas ao governo no período em que era ministro. A Emenda 29, que Serra ajudou a articular com a frente parlamentar da saúde, o (ex-ministro da Fazenda Pedro) Malan não queria. Serra criticou a política de juros altos. É uma pessoa que tem pensamento próprio, diferentemente de Dilma.

JC - Por quê?

Terra - Dilma é uma burocrata eficiente, mas nunca foi testada em decisões de governo. É um arranjo interno do PT, que teria quadros melhores que ela. O (governador eleito do Rio Grande do Sul) Tarso (Genro, PT) é um quadro melhor, é testado, formula, foi quatro vezes ministro do Lula, e só não foi candidato a presidente porque foi vetado pelo (ex-chefe da Casa Civil José) Dirceu (PT). Quando Tarso quis refundar o PT e tirar essa turma do Dirceu, ele (José Dirceu) disse não, e colocaram uma pessoa em quem eles tinham mais confiança, a Dilma. É diferente de uma pessoa que tem a trajetória do Serra, por todo o tempo no exílio, de formulação política, de participação no Congresso, um dos melhores prefeitos de São Paulo, governador num estado forte como São Paulo. Tem história. Então, faria um grande governo para o Brasil.

JC - E em termos de projetos, quais as diferenças?

Terra - Serra tem uma correção de rumo a fazer na área econômica, principalmente na política cambial. O parque industrial do Rio Grande do Sul foi devastado pela política cambial de Lula. O Vale do Sinos fechou as indústrias porque não conseguia mais vender um sapato no exterior em função da desvalorização do dólar. E isso abriu as portas para uma invasão de produtos chineses, que devastou nossa indústria e tirou muito emprego daqui. A mesma coisa com máquinas agrícolas. Estávamos fabricando colheitadeiras para os Estados Unidos, Europa, Argentina. E com essa mudança da política cambial, que está ligada aos juros, tivemos um baque. Serra não vai privilegiar o juro bancário. Com Lula, os banqueiros ganharam 100 vezes mais do que as famílias do Bolsa Família, e a produção ficou no segundo plano. O Rio Grande do Sul seria o estado mais beneficiado do Brasil no governo Serra - iria voltar a ser um estado exportador em grande escala. Geraria mais emprego na zona calçadista, de máquinas agrícolas, moveleira.

JC - A proposta é baixar os juros e valorizar o real?

Terra - É manter o real numa faixa que permita a nossa indústria exportar. O Brasil tem que competir com o mundo.

JC - Isso incentivaria a produção de industrializados.

Terra - Na parte econômica seria um avanço. E Serra seria um presidente preocupado com a saúde. A Emenda 29 já estaria aprovada se ele tivesse ganho em 2002. É uma emenda constitucional criada quando Serra era ministro, mas não está regulamentada. E ela garante financiamento. Com Serra, a saúde vai ser prioridade. E as políticas sociais também seriam mantidas, como o Bolsa Família. Mas deve ter porta de entrada e de saída. As pessoas não podem desejar que seus filhos e netos continuem recebendo Bolsa Família.

JC - A campanha do PT diz que Serra pode não dar continuidade a esses programas.

Terra - Isso é discurso de campanha. Setores do PT - não digo que Lula trate assim - tratam o Bolsa Família como os coronéis do Nordeste tratavam a compra de votos: "Se não votar no fulano, não ganhas mais." Tem um clientelismo que o Hélio Bicudo denunciou. O José Dirceu disse para ele que Bolsa Família não é para resolver o problema da pobreza, mas para garantir 40 milhões de votos. O Bolsa Família existiria se Lula não tivesse sido eleito presidente, porque todas as bases já haviam sido criadas no governo FHC, existiam vários tipos de bolsa.

JC - E qual é a sua avaliação do debate eleitoral? Serra insiste na pauta ética e o PT nas privatizações.

Terra - Serra tem uma biografia tão importante que precisam de um factoide para desviar a atenção da comparação de biografias e propostas. Então, se vai para esse lado.

JC - O senhor atribui exclusivamente ao PT a discussão de temas periféricos?

Terra - O problema é que são temas que pesam numa campanha. As igrejas se envolvem, todos começam a falar. O ideal seria discutir questões econômicas e sociais. Mas toda a campanha tem essas questões. Por exemplo, esse episódio que ocorreu com Serra (atingido por um objeto no Rio). A caminhada de um candidato não pode ser impedida por um partido político. A pessoa não pode ser alvo nem de bolinha de papel, quanto mais de outras coisas mais pesadas. É um precedente gravíssimo. É a porta de entrada para as tropas de choque partidárias. Foi assim que o fascismo tomou conta das ruas e acabou a oposição na Itália, que o nazismo acabou com a oposição. É a coisa mais grave que já aconteceu nos últimos anos em política. Lula deveria ter tido uma posição de estadista, ter dito que isso não era orientação do PT, que quem fez isso deve ser punido. Mas assume uma atitude de militante, diz que foi mentira. O que ele está dizendo com isso? "Podem fazer, jogar coisas nos candidatos." É muito grave.

JC - E a cobertura da imprensa, como o senhor avalia?

Terra - A imprensa não está isenta, nem a nacional nem a estadual. Se fizer por centímetro quadrado, dá mais (espaço) para a Dilma disparado. No Rio Grande do Sul está impressionante.

JC - A imprensa gaúcha está pró-Dilma?

Terra - O número de centímetros quadrados nos jornais gaúchos nos últimos dias é muito maior para a Dilma. Não sei se na última semana vão inverter isso para serem isentos.

JC - O PT se queixa de veículos do centro do País. O jornal O Estado de S.Paulo abriu o voto em editorial...

Terra - Os jornais tinham que fazer isso. A pior coisa é estar isento e puxando para um lado.

Perfil

Osmar Gasparini Terra, 60 anos, nasceu em Porto Alegre. É formado em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde iniciou sua vida política no movimento estudantil. Retornou ao Estado e, radicado em Santa Rosa, atuou como médico. Participou do movimento Diretas Já e filiou-se ao PMDB em 1986. Foi superintendente do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) e presidiu o Grupo Hospitalar Conceição nos anos 1980. Em 1988, disputou a prefeitura de Santa Rosa. Concorreu a deputado federal em 1990, ficando na suplência. Dois anos depois, venceu a eleição para prefeito de Santa Rosa. Em 1998, voltou a tentar vaga na Câmara dos Deputados, mas ficou na suplência de novo. No ano seguinte foi indicado pela então primeira-dama Ruth Cardoso para ser secretário-executivo do programa Comunidade Solidária. Tentou a Câmara mais uma vez em 2002, ficou na suplência, e se elegeu em 2006, reelegendo-se em 2010, com 130.669 votos. De 2003 até o início deste ano, foi secretário estadual de Saúde.

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