quarta-feira, 11 de agosto de 2010

DILMA CONTESTADA POR ECONOMISTAS


de Henrique Gomes Batista

A afirmação da candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, sobre o crescimento econômico brasileiro nos últimos anos é contestada por economistas.

Os especialistas discordam de Dilma, que, em entrevista na segunda-feira ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, culpou o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pelas baixas taxas de crescimento nos já quase oito anos de governo Lula.

Questionada sobre o avanço menor do Brasil em relação a nações vizinhas, Dilma disse que o atual governo teve de fazer um grande esforço para controlar as finanças, principalmente por causa da dívida pública externa elevada e a inflação sem controle.

No acumulado entre 2003 e 2009, primeiros sete anos do governo Lula, a expansão da economia brasileira, segundo dados da Cepal, foi de 27,16%, bem abaixo dos 65,56% do Panamá, 65,05% da Argentina, 57,14% do Peru e 44,98% da Venezuela.

O país, pela lista da Cepal, só avançou mais que Paraguai (26%), Nicarágua (23%), El Salvador (16%) e México (12%).

China e Índia, países que compõem o grupo dos Brics, também crescem, sistematicamente, mais que o Brasil.

Arminio Fraga, presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso e atualmente na gestora de recursos Gávea Investimentos, afirma que a crise de 2002 — que gerou um repique inflacionário por uma forte valorização do dólar — não foi causada pelo governo que estava no fim do poder.

— A crise em 2002 foi baseada no medo do que viria a partir de 2003, medo do projeto do PT, dos documentos do PT, do que diziam os petistas. A crise começou a acalmar quando o próprio presidente Lula disse que não faria nada daquilo, e a situação voltou aos eixos com Lula já no governo, ao nomear brilhantemente Antonio Palocci e Henrique Meirelles para a Fazenda e para o Banco Central — disse.

A inflação, que em 2001 foi de 7%, segundo o IPCA (índice oficial), chegou a 12,53% em 2002. No "JN", Dilma se referiu a este período, ao afirmar que o governo Lula encontrou a inflação fora de controle.

No ano passado, os preços subiram 4,31%. Para este ano, a previsão dos economistas, segundo levantamento feito pelo Banco Central na semana passada, está em 5,19%.

Já a dívida externa, outro dado citado por Dilma, somava US$ 210,7 bilhões no fim de 2002, e caiu a US$ 198,2 bilhões em 2009, uma queda de 6%. As reservas internacionais do país, que estavam em US$ 37,8 bilhões no ano de 2002, chegaram a US$ 238,5 bilhões em 2009.

Segundo pesquisa do professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, no governo Lula, o crescimento do país se intensificou: a média anual até 2009 foi de 3,55%, contra variação de 2,29% nos anos de seu antecessor.

Alguns economistas, no entanto, além de não enxergarem grandes diferenças econômicas entre os governos de Lula e FHC, afirmam que há algumas "vantagens" no baixo crescimento, em parte limitado por estabilidade econômica e controle da inflação.

Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-presidente do Banco Central, enxerga o Brasil em outro ciclo econômico, que teve origens no governo anterior:

— O governo de Fernando Henrique plantou, e o período de Lula foi de colheita, mas também com alguns acertos que melhoraram o momento — disse, lembrando que a fase de expansão sustentada do país começou em 2004, após o governo ter mostrado seriedade ao mercado financeiro e resolvido a vulnerabilidade externa, com aumento de forma consistente das reservas internacionais.

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