segunda-feira, 2 de agosto de 2010

FÁBULA DO TEMPO DE MENINO

Tinha uma gigante fortona, mas muito burra. Ela morava no meio de uma floresta no meio do Brasil e ficava pensando o dia inteiro qual era a vantagem de ser gigante sem ter ninguém por perto.

Gigante só é vantagem quando os outros sabem que a gente é gigante.
Essa foi a brilhante conclusão a que Antona (nossa gigante) chegou, depois de 56 anos de esforços mentais contínuos. Depois de outros 23 anos de indecisão, Antona resolveu que, neste caso, o mais aconselhável era ir para algum lugar habitado, onde as pessoas pudessem morrer de medo com sua presença.
Andou, andou, então Antona acabou chegando no mesmíssimo lugar, pois a terra já era redonda nessa época.
— Não é possível. Se eu existo, deve ter mais alguém. Eu não ia existir assim sozinha que isso não faria o menor sentido.
Deu outra volta e nada.
E teria passado a vida dando voltas se não tivesse um dia se abaixado para cortar a unha encravada do mindinho esquerdo e visto os serezinhos que se agitavam lá embaixo no seu pé.
— Aaaaahhhh!!!! Tem gente!!!
O aaaahhhh!! dela arrasou uma cidade inteira e devastou uma floresta tropical, provocando grande movimentação de ecologistas.
— Ei, bilu, bilu!
Mas os serezinhos não lhe davam a menor atenção. Antona podia matar milhares deles com um simples mau hálito, mas não conseguia que eles lhe dessem atenção.
— Psiu! Coisinha!
Mas nada. Até que depois de várias fúnebres tentativas fracassadas, Antona conseguiu pegar unzinho todo peludo.
Agarrou o bicho pelos cabelos e disse:
— Oi! Eu sou uma gigantona perigosíssima!
Mas o cabeludo, de olho vidrado, só dizia pô, demais esse chazinho! pô! sem demonstrar o menor medo. Aliás, a bem da verdade, sem demonstrar absolutamente nada. E Antona teve que largá-lo para tentar melhor sorte. Com o segundo, pouco cabeludo, já conseguiu resultados um pouco melhores.
— Antona, a gigantona, muito prazer!
— Que Antona que nada, você é apenas um terremoto magnético intergalático igual a dos meus joguinhos.
— Guiné de quem? Sou Antona!!
— E essa tua voz é apenas um trovão um pouco mais forte.
— Trovão?! Antona!!!
— E essa mão que me pegou não existe. É um fenômeno psíquico de realidade virtual-virtual, muito comum em gente como eu.
— Não!! A mão é de Antona, a gigantona!!
— Pára com isso. Todo mundo sabe que não tem gigante. A senhora é uma imagem em três dimensões. Eu não posso lhe provar nada porque não tenho o conhecimento necessário das leis da eletro-transmissão magneto-reflexiva, mas qualquer um que já tenha comprado a nova versão desse programa lhe provará em um minuto que a senhora não passa de um conjunto de parâmetros de pixels com ilusão espacial. Sua presença é explicável direitinho com meia dúzia de algoritmos matemáticos, dois mapas metereológicos universais e três noções básicas de como mexer em um computador. E faça o favor de me largar!
Antona largou e perguntou:

-Como voce se chama, coisinha?

-José Serra.

E Antona, passou mais 187 anos pensando qual era a vantagem de ser uma gigante, com gente sabendo que ela era uma gigante, mas explicando sua enorme presença por meia dúzia de algo, algo o quê mesmo?
E desta vez não conseguiu chegar a nenhuma conclusão.

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